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Mostra de poemas de Adília Lopes

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Pedro Fernandes A poesia de Adília Lopes entra por terras brasileiras, tudo indica, pelas páginas de Inimigo rumor . É na edição n. 9, publicada em novembro de 2000, que aparecem dois de seus poemas: “Elisabeth foi-se embora” e “Os desastres da boneca de Sofia”. Quem fez as honras da casa, curiosamente, foi outra voz estrangeira: o amigo e escritor Valter Hugo Mãe. É ele quem sublinha o interesse pelo cotidiano como uma qualidade da poesia então apresentada.   Adília Lopes continuou a aparecer noutros números da revista, até avançar com esta antologia publicada há seis anos numa coleção de complexa e irregular faceta — em amplo sentido. A ordem dos escolhidos  e dos conteúdos  parece ser aleatória e sem buscar qualquer objetivo que não o de oferecer poesia; além disso, os livros ocupam projetos editoriais e gráficos diferentes quase ao gosto dos editores. A linha que traz a poeta portuguesa, por exemplo, pertence aos livros com acabamento inglês: sóbrio, capa dura revista...

A General, de Buster Keaton

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Comediante sério, conhecido por estilo oposto ao de Chaplin, leva público ao riso com seus fracassos Dos dois ícones da comédia muda, Charles Chaplin foi o que atingiu maior popularidade com a figura de Carlitos. Entre os cinéfilos mais fanáticos, entretanto, seu "rival" (eram amigos, na verdade) Buster Keaton é igualmente celebrado. Para alguns, inclusive, é superior a Chaplin. A verdade é que seus estilos são bem diferentes. Enquanto o ator/autor de Tempos Modernos trabalha com o humor de maneira mais escrachada - carregada de mímicas e heróis que não se incomodam de rir de si mesmos -, sempre atrás de gargalhada, Keaton, formado na infância pelo trabalho no circo, raramente ri. Seus personagens se mantêm impassíveis, imóveis, sempre levam seus fracassos a sério. E por isso são tão engraçados. A General , co-dirigido por Clyde Bruckhman e considerado por Keaton seu melhor trabalho, é baseado em uma história verdadeira, ocorrida durante a Guerra Civil Americ...

A viagem de Odisseu

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  Por Mario Vargas Llosa Hans Erni   Pelo que me lembro, meu primeiro contato com o teatro aconteceu em Cochabamba, na Bolívia, quando eu devia ter uns sete ou oito anos. Meus avós e minha mãe me levaram ao Teatro Achá, a um camarote, e de repente as luzes se apagaram, a cortina subiu e no palco alguns personagens de carne e osso começaram a viver uma história. Não eram fantoches, desenhos animados ou imagens evocadas pelas palavras de um livro, mas seres humanos que personificavam aqueles eventos que estavam sendo feitos e desfeitos à medida que ocorriam. Eu os escutava fascinado, embora sem entender muito do que diziam. De repente, um dos cavalheiros levantou a voz e deu um tapa em uma senhora. Comecei a chorar e minha mãe precisou me tirar do local.   Minha próxima lembrança é de anos depois, quando eu já estava no secundário, em Lima. Tinha gostado e ia de vez em quando aos teatros do centro, o Segura e o Municipal, para ver as comédias que apresentavam a Escola Nacio...

Novidades sobre o caderno-revista 7faces

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Por Pedro Fernandes 1.  Quero antes agradecer a todos os que contribuíram para o volume 01 deste caderno-revista, parte de uma rede maior a que denominei de 7faces. Neste intervalo de pouco mais de um mês de quando a ideia foi lançada recebi contribuições de poetas de vários estados do Brasil; terei agora a grande responsabilidade de lê-los, um a um, e ver aqueles que serão matéria da primeira edição.  2.  O caderno-revista 7faces é uma ideia em construção; primeiro, pensava em formá-lo apenas com poemas, isso se expandiu e vou usar da liberdade para já neste número lançar números temáticos, que, por este fato, dará abertura ao espaço para a recepção de outros textos de outros gêneros, sobretudo os do ensaio, do artigo acadêmico.  3.  Agora, a título de evitar sobrecarga porque, claro, é ainda um trabalho conduzido a duas mãos ( para a leitura, a edição, a formatação, a distribuição e divulgação desse material) , darei preferência aos convites e não à...

Anjos e demônios

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Por Pedro Fernandes cena do filme Anjos e demônios . Apesar do título que dou a este texto não é da obra homônima de Dan Brown que irei falar, tampouco da tradução que esta teve para as telas da sétima arte. Irei falar é de um artigo que li no jornal Correio da Tarde publicado recentemente que emendava ao título Anjos e demônios, "mera ficção!". É, pois, um um diálogo para com aquele texto e aparece aqui porque foi inviável através da coluna do jornal, o espaço que seria ideal; entretanto, todos nós sabemos das limitações que existem em cada mídia, disso, já nos falava Pierre Bourdieu na sua magnífica conferência "Sobre a televisão", no Collège de France. Pois bem, alguns pontos no referido artigo me inquietaram: um deles foi os elogios dados ao livro, ao escritor e à produção cinematográfica. Não concordo com nenhum deles: o livro não é lá essas coisas, é mero transplante de um molde de vender que deu certo com O   código Da Vinci ; o escritor, também não,...

Leite derramado, de Chico Buarque

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Por Leyla Perrone-Moisés Um homem muito velho está num leito de hospital. Membro de uma tradicional família brasileira, ele desfia, num monólogo dirigido à filha, às enfermeiras e a quem quiser ouvir, a história de sua linhagem desde os ancestrais portugueses, passando por um barão do Império, um senador da Primeira República, até o tataraneto, garotão do Rio de Janeiro atual. Uma saga familiar caracterizada pela decadência social e econômica, tendo como pano de fundo a história do Brasil dos últimos dois séculos. A visão que o autor nos oferece da sociedade brasileira é extremamente pessimista: compadrios, preconceitos de classe e de raça, machismo, oportunismo, corrupção, destruição da natureza, delinquência. A saga familiar marcada pela decadência é um gênero consagrado no romance ocidental moderno. A primeira originalidade deste livro, com relação ao gênero, é sua brevidade. As sagas familiares são geralmente espraiadas em vários volumes; aqui, ela se concentra em 200 páginas. ...