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A lista de leituras de José Saramago

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José Saramago lê com Gael García Bernal As intermitências da morte  no Teatro Diana. Guadajara (México). 2006 O texto a seguir é a entrada do escritor português escrita para o seu blog. E é muito válida sua leitura numa ocasião quando se faz listinhas para tudo, inclusive de livros mais necessários que outros. Leituras de Verão Com os primeiros calores, já se sabe, é fatal como o destino, jornais e revistas, e uma vez por outra alguma televisão de gostos excêntricos, vêm perguntar ao autor destas linhas que livros recomendaria ele para ler no Verão. Tenho-me furtado sempre a responder, porquanto considero a leitura actividade suficientemente importante para dever ocupar-nos durante todo o ano, este em que estamos e todos os que vierem. Um dia, perante a insistência de um jornalista teimoso que não me largava a porta, resolvi ladear a questão de uma vez por todas, definindo o que então chamei a minha “família de espírito”, na qual, escusado será dizer, faria f...

Quatro nomes da Segunda Geração do Romantismo no Brasil: Junqueira Freire

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Edvard Munch. Junqueira Freire é baiano. Nasceu em 1832 e foi, conforme lembra Antonio Candido, dos de sua geração, "o mais ligado aos padrões do Neoclassicismo"; isso terá se dado por motivo diverso. "Considere-se em primeiro lugar o meio baiano, caracterizado por certa tradição clássica, o amor aos estudos linguísticos, a preferência pela oratória. Ao contrário do que aconteceu noutros lugares não houve movimento romântico  no Salvador: Castro Alves encontrou ambiente estimulante em Recife e São Paulo, não na terra natal. O próprio Junqueira Freire é autor dum compêndio conservador, Elementos de retórica nacional . Explica, também, a desconfiança ante a melodia e o movimento, prezados no Romantismo, sendo interessante notar o modo reversível por que aborda a oratória e a poesia, irmanando-as de certo modo, segundo a tradição dos clássicos. Embora admirador de João de Lemos, era-o sobretudo de Gonçalves Dias, Garrett e Herculano, românticos ainda presos a certos aspecto...

Quatro nomes da Segunda Geração do Romantismo no Brasil: Casimiro de Abreu

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O saudosismo e a infância como temas românticos Mas, nem só de amor e morte, do dor e sofrimento, de desregramento das vivências, se sustentou o romantismo brasileiro. Também nem só do impulso ardoroso da denúncia social. Restou-nos espaço para uma certa malemolência da saudade, um apego às memórias e encantos da infância. Nesse sentido, o nome de Casimiro de Abreu será sempre lembrado. A leveza ou a doçura, a singeleza ou simplicidade da poesia, que logo colocou entre o mais popular dos de sua geração, são elementos significativos para inteirar o arco-íris da época romântica. "Nele, o lirismo é pura expressão da sensibilidade, desligada de qualquer pretensão mais afoita. Saudade, ternura, natureza e desejo são modulados numa frauta singela, sem a envergadura que assumem em Junqueira Freire, Álvares de Azevedo, mesmo Bernardo Guimarães. Extremamente romântico na fuga à abstração, à generalização, sempre transpõe no poema um sentimento imediato (ou uma dada planta, um lugar ...

Quatro nomes da Segunda Geração do Romantismo no Brasil: Fagundes Varela

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A poesia tem muitas faces Manuel Bandeira compreende Fagundes Varela com um dos precursores, se não o principal, da Terceira Geração Romântica no Brasil; iniciada por volta de 1840, quando atenuam-se as influências de Byron ou Musset e agora os jovens tomam como ídolo Victor Hugo. A base desse movimento de ordem mais social que sentimental é Pernambuco, como bem lembra Sílvio Romero, porque foi no entorno de Tobias Barreto e Castro Alves que se formou uma nova intuição temática. A razão de Bandeira incluir Fagundes Varela no rol dessa geração nova  se dá porque, muito antes de Castro Alves, ter sido ele o poeta que glosou sobre Napoleão Bonaparte. E cita um trecho da ode "Napoleão em Waterloo" como exemplo: Nos vastos plainos do Egito, Sobre Titãs de granito, Eu tenho um poema escrito Que deslumbra a solidão. Das Ísis rasguei os véus, Entre os altares fui Deus, Fiz povos escravos meus, — Ah! inda sou Napoleão. Desde onde o crescente brilha Até onde o Sena trilha, Tive...

Quatro nomes da Segunda Geração do Romantismo no Brasil: Álvares de Azevedo

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Amor e morte como temas românticos ADEUS MUNDO Já sinto da geada dos sepulcros O pavoroso frio enregelar-me... A campa vejo aberta, e lá do fundo Um esqueleto em pé vejo a acenar-me... Entremos. Deve haver nestes lugares Mudança grave na mundana sorte; Quem sempre a morte achou no lar da vida, Deve a vida encontrar no lar da morte. (Laurindo Rabelo) Os versos de Laurindo Rabelo expõem o que podemos chamar de exaltação à morte. Ela fascinou e ainda fascina vários escritores da literatura mundial. Teve seu apogeu, certamente, no decorrer do que a história literária denomina de Segunda Geração do Romantismo, uma fase que aprofundando os interesses sentimentais, os escritores terão se interessado por uma extensão do fúnebre e satânico. A morte se apresenta quase que como uma constante nas obras literárias. Isso ocorre, atribui alguns críticos, como solução ao sofrimento imposto pela impiedosa e desumana sociedade burguesa. Talvez seja verdade. Nota-se nesse período a preponderânci...

Mostra de poemas de Adília Lopes

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Pedro Fernandes A poesia de Adília Lopes entra por terras brasileiras, tudo indica, pelas páginas de Inimigo rumor . É na edição n. 9, publicada em novembro de 2000, que aparecem dois de seus poemas: “Elisabeth foi-se embora” e “Os desastres da boneca de Sofia”. Quem fez as honras da casa, curiosamente, foi outra voz estrangeira: o amigo e escritor Valter Hugo Mãe. É ele quem sublinha o interesse pelo cotidiano como uma qualidade da poesia então apresentada.   Adília Lopes continuou a aparecer noutros números da revista, até avançar com esta antologia publicada há seis anos numa coleção de complexa e irregular faceta — em amplo sentido. A ordem dos escolhidos  e dos conteúdos  parece ser aleatória e sem buscar qualquer objetivo que não o de oferecer poesia; além disso, os livros ocupam projetos editoriais e gráficos diferentes quase ao gosto dos editores. A linha que traz a poeta portuguesa, por exemplo, pertence aos livros com acabamento inglês: sóbrio, capa dura revista...