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Imortal Werther, imortal Goethe

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Por Genoveva Dieterich A morte de Werther. F. C. Baude O autor de Fausto , Wilhelm Meister , As afinidades eletivas , o prudente ministro e conselheiro de príncipes em Wiemar, foi um artista adolescente , demolidor de ortodoxias e academicismos, criador de uma nova linguagem poética e precursor do romantismo revolucionário. Ante a estátua colossal e marmórea monopolizada pela academia e o panteão, é necessário, pois, recordar o imortal autor do imortal jovem Werther . Como nenhuma outra das obras-chaves da época criativa do jovem Goethe, assinalada entre os anos 1771 e 1775, e transbordante de material poético incandescente, o Werther representa essa impressionante tensão de entusiasmo e sensibilidade, inteligência e impetuosidade que caracteriza a juventude do escritor e que só pode definir-se como genialidade. Quando no outono de 1774 foi publicado em Frankfurt o primeiro romance do jovem advogado com o título de Die Leiden jungen Werther , ou Os sofrimentos do jovem Wer...

Jorge Luis Borges

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Por Pedro Fernandes Fui apresentado à obra de Jorge Luis Borges por duas portas: a dos contos e a dos poemas, nesta ordem. Mas, sou leigo, muito leigo para falar de cada uma delas e da obra em geral do escritor argentino. Só sei dizer que é uma obra magistral, cerebral. Ler qualquer obra de Borges pressupõe entrar em contato com uma variedade grandiosa de referências.  Dá para qualquer leitor leigo notar lida algumas linhas de sua vasta obra que a escrita desse argentino cobra caras bússolas como guia no extenso labirinto bordado por ele. A crítica mais especializada já terá dito o suficiente em considerar sua obra como um dos maiores acontecimentos na literatura contemporânea. E com razão. O alerta que deve ser feito, entretanto, é que sua obra é de uma maturidade tal que cobra um leitor iniciado e com uma fome de leitura que esteja próxima a do escritor que, segundo se conta, sempre se considerou mais leitor que escritor. Hoje, é data que marca seu aniversário; o escr...

Fogo Morto, um romance de decadências

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Por Pedro Fernandes Confesso que estive certo tempo afastado da literatura brasileira, que, tanto li desde meados de minha adolescência e na faculdade. Mas, se a memória não me trai agora, o último que eu li foi  Capitães da Areia , de Jorge Amado, sobre o qual redigi um artigo, que por sinal (faz bem tocar no assunto) ainda não achei conveniente torná-lo público. Foi quando me debandei para a literatura portuguesa, mais especificamente (os que me conhecem, sabem) por causa de José Saramago - nele tenho concentrado minhas energias  seja na leitura da obra completa desse escritor, seja na de outros referidos por ele. Aliás, devo a Saramago minha redescoberta de Jorge Amado, porque quando li alguns dos seus romances, inclusive Capitães , fui inconsequente de me guiar pelo sectarismo da crítica literária que os professores nos dão em altas doses na faculdade. Com uma disciplina no mestrado, tive de voltar a algumas lacunas de leitura da nossa literatura e foi quando li Fogo Mor...

Ariano Suassuna, os encontros que (não) tive

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Por Pedro Fernandes 1.  Ainda por esses dias me surpreendi com uma amiga minha no mestrado que afirmou não saber quem era Ariano Suassuna. Mas, nem quando dos comerciais da TV Globo acerca de O   auto da compadecida , o filme, você ouviu falar, Da obra de Ariano Suassuna? Indaguei surpreso. Não. Respondeu ela. Fiz a pergunta porque todo mundo dada a popularidade da emissora e, claro, a quantidade sem fim de vezes que o filme foi reprisado; também eu, quando adolescente, que não tinha o acesso necessário aos livros e à literatura, tive contato pela primeira vez com o nome do escritor pernambucano através desse filme. 2. Em compensação pode haver autores e obras da literatura inglesa e estadunidense, que é área de habilitação de sua formação em Letras que eu nunca tenha ouvido falar. Muito óbvio, mas uma brasileira, estudante de Letras nunca saber sequer do nome Ariano Suassuna, é, sim, muito estranho. 3. Comecei a conhecer a obra de Ariano através da adaptação da pe...

Morte em Veneza, de Luchino Visconti

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Viagem de um artista em crise discute a existência suprema nessa obra musicada pelas sinfonias de Gustav Mahler O italiano Luchino Visconti consegue o impossível: verter para a tela uma obra do alemão Thomas Mann, densa e descritiva, cuja força nasce no volume do texto. Assim, o que é tratado em palavras na obra homônima escrita em 1912, o cineasta, sabiamente, transforma em imagens e trilha sonora. Assim, se o protagonista, Gustav von Aschenbach, era um literato no original, na versão cinematográfica ele é músico. É a bana sonora, aliás, a grande força deste clássico de Visconti, que usa as 3 ª e 5ª Sinfonias de Gustav Mahler para conduzir o martírio de Aschenbach (feito soberbamente por Dirk Bogarde). Ele é um teórico rigoroso que defende a existência de uma beleza suprema, e o papel do artista como seu grande recriador. Em Veneza, ele se depara com um garoto andrógino, Tadzio (Björn Andresen), que seria a encarnação suprema da perfeição. Uma admiração que o filme enfati...

Esperado ouro, de Marize Castro

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Por Pedro Fernandes Escrever me faz suportar todo incêndio - toda quimera (Marize Castro) Tenho revisitado Marize Castro. Desde alguns dos seus primeiros livros, como  Marrons crepons marfins  (1984 e título com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Fundação José Augusto) e Poço. Festim. Mosaico  (de 1996, Prêmio Othoniel Menezes) ao seu último lançamento, Lábios-espelhos  (2009). Quero, entretanto, tecer uma breve nota sobre  Esperado ouro (2005). Como uma nota, é breve; é mais para deixar escrito aqui alguns poemas que grifei na sua obra para uma leitura mais acurada do leitor. Pareceu-me que Esperado ouro  é um metalivro, porque é preenchido de uma poesia que é fala de si, ou uma escrita dobrada sobre si própria. Refletida pele-a-pele a palavra e suas dobras. Pele, dobras e carne. A mesma carne feminina, pulsante de desejo, instintivamente fêmea, ativa pelo cio divino: "Hoje descobri que quando estou dormindo/ Deus segu...