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Meu encontro com Maria Teresa Horta

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Por Pedro Fernandes Eu e a escritora Maria Teresa Horta, Salvador, 2009. Arquivo pessoal. 1. Embora conheça através da leitura esparsa na web  vários outros títulos da poesia de Maria Teresa Horta,  conheci seu nome primeiramente de ouvir uma fala da professora Conceição Flores na qual se propunha uma relação interbiográfica com a obra de outra Teresa, Teresa Orta (leia mais aqui ). 2.  Logo depois disso, encontrei a edição das Novas Cartas Portuguesas , obra com a qual os nomes de Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno, e também o de  Maria Teresa Horta,  se fizeram marcantes na literatura portuguesa. Para quem não conhece o livro, fica a recomendação. Há edição brasileira relativamente fácil de encontrar nos sebos. Escrito em 1971, o livro saiu um ano adiante pela Estúdios Cor. Por aqui, três anos mais pelo Círculo do Livro. 3.  As Novas cartas...  reúne cartas, ensaios, textos de ficção, poemas e vários fragmentos dispersos. As...

O grito de Caim por José Saramago

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Por Pedro Fernandes É preciso ser-se Deus para gostar tanto de sangue José Saramago, em "O Evangelho segundo Jesus Cristo" (OESJC), 2006, p.327. Já era de se esperar. E não há novidade alguma no fato. O novo romance de José Saramago, Caim , lançado há poucos dias, recebeu da Igreja o já esperado visto de condenação devido seu teor. Segundo o episcopado lusitano, a nova obra do escritor português não passa de uma operação publicitária e reduz o romancista à categoria de sujeito amante da descordialidade e da ofensa. Depois de insistir na concepção carnal de Jesus, "nascido como todos os filhos dos homens, sujo do mesmo sangue de sua mãe, viscoso de suas mucosidades" (OESJC, 2006, p.65), de uma Maria não virgem, do relacionamento amoroso entre Jesus e Madalena e do que possivelmente esteve envolvido no desfecho da vida de Cristo, Saramago avança sua veia crítica sobre o discurso religioso cristão quando nesse seu novo romance intima o leito...

Uma Rua Chamada Pecado, de Elia Kazan

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Adaptação de peça do dramaturgo Tennessee Williams revelou para o cinema talento mítico de Marlon Brando Antes de cinema, Elia Kazan foi um homem de teatro. Desta origem, seus principais filmes herdaram uma admirável direção de atores (por suas mãos passaram os míticos Marlon Brando e James Dean) e a habilidade em reter o essencial da carga dramática, transferindo-a concentrada do palco para a tela. É o que mais chama a atenção no impressionante Uma Rua Chamada Pecado , que tem por base o texto Um Bonde Chamado Desejo , de Tennessee Williams. Como hábito no universo do dramaturgo nascido no Mississipi, os personagens carregam valores fortes e enraizados, e o drama consiste externamente, no confronto entre eles e a sociedade, e, internamente, no conflito moral que acaba por lhes produzir crises psicológicas. É o que acontece a Blanche DuBois (cujo nome ressoa significados de pureza), centro da trama. Ela chega a Nova Orleans vinda do interior, e se hospeda na casa de Stella,...

Doze livros fundamentais da poesia brasileira

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Costuma-se dizer que, no Brasil, de louco e poeta todo mundo tem um pouco. E tanto é verdade que não precisa ser um leitor de poesia para saber que este é um dos gêneros mais praticados por aqui; está em toda parte e todo mundo, mesmo quem nunca terá se aventurado na oficina do verso, conhece alguém que o faz ou mesmo já publicou livro. E há uma série de especulações possíveis para o fenômeno: um deles, é a dada graças à própria língua. A proximidade entre oralidade e escrita no português é, certamente, um dos fatores favoráveis à alta estatística de criação poética; outro, o primitivismo do gênero – isto é, por mais que o poema cada vez mais se assuma como um texto fabricado e que exige longo tempo de estudo e de leituras ainda se tem a noção de que para fazê-lo é suficiente está munido de uma força subjetiva, seja qual for, e traduzir esses estados para o papel; mais outro, e esse de cunho mais universal, todos passam em alguma vez na vida por estágios de profunda trans...

As aventuras de Teresa Margarida da Silva e Orta em terras de Brasil e Portugal, de Conceição Flores

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Por Pedro Fernandes A primeira vez que tive contato com a pesquisadora autora da obra que intitula estas notas foi quando li para meus primeiros contornos em torno da obra de José Saramago outro estudo seu intitulado Do mito ao romance  (EDUFRN, 2000). Mais tarde, em 2007, tive a oportunidade de conhecê-la melhor numa mesa redonda intitulada "Gênero e literatura", realizada por ocasião do I Colóquio Nacional de Estudos da Linguagem (CONEL), evento que foi sediado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A fala era um diálogo em torno da obra de duas Teresas ,   Teresa Orta, a escritora do século XVII e a escritora portuguesa contemporânea Maria Teresa Horta, produto de um recorte de seu estudo publicado no ano anterior pela Opção em que a pesquisadora recompõe os passos da primeira Teresa e da gênese de sua obra, uma das primeiras de autoria feminina em língua portuguesa. Teresa Margarida nasceu em 1711 no Brasil; este fato isolado faz com que alguns estudios...

A obra de um polígrafo

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Por Pedro Fernandes Depois de apresentado o polêmico Caim , José Saramago iniciou os trabalhos no que possivelmente será seu próximo romance a ser colocado para público no próximo ano. Assistimos um escritor em urgência, como um que "não poderá morrer sem dizer tudo", para fazer eco aos versos de um poema seu publicado em Os poemas possíveis .  E se o escritor português tem atirado para tudo quanto é matéria do estágio atual da civilização humana – a política, o capitalismo, a religião – a bola da vez, será a indústria armamentista. "Esse é o tema: as armas, quem as faz, quem as trafica. Estão por todas as partes. A televisão mostra continuamente cenas de violência com as quais fica claro que a vida não tem nenhuma importância", declarou à agência EFE . O escritor Prêmio Nobel da Literatura lembra que se fala sempre de uma greve em busca de melhores salários, mas se questiona por que não param os trabalhadores de construir armas pelo simples fato de estas servire...