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Incerto caminhar, de David Leite

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Por Pedro Fernandes Caminante, no hay camino, se hace camino al andar (António Machado) Na orelha da edição bilíngue de Incerto caminhar (Editora Sarau das Letras), do poeta David Leite, diz o poeta Fernando Gil Villa: Al final, el tiempo pasó sin pasar y en algún momento, David decidó irse a casa para escribido todo, aunque tardó mucho em llegar, porque el poeta es el único ser sobre la tierra que no tiene raíces, sino que las va echando continuamente, razón por la cual es incierto su caminar , y sin emabrgo, misterio de los misterios, llega más lejos que nadie (os grifados são meus). Parece-me que os termos em destaque definem bem o que o leitor encontra por esse caminho: um caminho que se é feito de palavras, de palavras que transpiram paisagens, sons, cores, cheiros, emanados todos de um veio que é o próprio veio da memória, esse fio de Ariadne que costura o livro de David, esse fio que é o próprio fio da viagem de idas e vindas "Na mesma estrada longa e sinu...

Cidade de Deus, de Fernando Meirelles

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A realidade da favela carioca serve como palco para uma história eletrizante sobre guerra de gangues do tráfico de drogas Cidade de Deus  foi o grande acontecimento do cinema brasileiro dito "da retomada" (ocorrido a partir dos anos 1990, com a quase suspensão da produção nacional pós-fechamento da produtora estatal Embrafilme). O longa de Fernando Meirelles foi dos mais populares trabalhos nacionais dos últimos anos. Além de aparecer com destaque na mídia internacional, fomentou uma larga discussão acerca de qual seria o "filme ideal" capaz de representar o Brasil e seus problemas sociais. Ao tocar em assuntos centrais do país (miséria e criminalidade), a obra rachou os intelectuais. Uns viram suas qualidades de entretenimento. Outros apontaram uma negação ao que o cineasta Glauber Rocha propôs como estilo adequado de retratar a pobreza do país - a chamada "estética da fome". O estilo aqui estaria mais próximo do cinema de ação de Hollywood, co...

O Selo Letras in.verso e re.verso

O Selo Letras in.verso e re.verso dispõe, agora, de nova casa (pode acessá-la clicando aqui ). O espaço foi criado no dia 25 de março de 2010 e ainda passa por ajustes; já este selo foi criado no início do ano e é uma iniciativa a partir deste blog, visto que, depois da publicação virtual Um retrato de Joyce in amostra fotográfica  passaremos a editar material relacionado ao conteúdo do Letras . A empreitada de criação de um selo surge dado o número significativo de edições virtuais lançadas nos dois últimos anos pelo espaço e também porque é de nosso interesse a edição de materiais extras para acompanhar as postagens, tais como, contos, fotografia, poemas, excertos de romances etc. Isto é, não se trata de uma editora virtual e nem estamos abertos a receber textos para publicação pelo selo; poderá haver edições fora  desse universo do blog, se for para o interesse do caderno-revista 7faces , um periódico que também nasceu a partir do Letras e que terá vínculo...

Lembranças, de Allen Coulter

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Por Pedro Fernandes Bem há uma série de questões a se falar desse filme (e falar mal como aponta a força da expressão). Mas, por que se dá ao trabalho de gastar saliva com uma obra ruim se nem crítico de cinema sou? Na pergunta está, pelo menos resposta: que o que vou dizer não deve ser levado a sério, porque não tem interesse de ofender o expectador capaz de se nutrir com histórias triviais. Apesar de minha leitura ser impulsionada por uma questão de gosto pessoal, não é para servir de atentado ao gosto de ninguém. É antes uma maneira de expressar por aqui a direção contrária dos comentários que me fizeram perder algumas horas, algum dinheiro, no cinema. Aqui é o legítimo caso de alguém que se deixou levar pelas expectativas (lógico, positivas )   de quando viu o seu trailer do filme. Sim, eles são feitos para fisgar futuros expectadores, eu sei; mas, há uns que mesmo essa ferramento oferece alguma barreira capaz de lhe impedir concluir o sacrilégio com a compra do ingr...

Pier Paolo Pasolini: metáfora por metáfora

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Por Alberto Giordano  Tantos anos depois de uma morte tão trágica como trágica foi sua personagem, a obra de Pier Paolo Pasolini segue no centro do debate intelectual e cultural que ela representa e quer representar; ninguém duvidará que é uma obra de força prodigiosa e de igual maneira provocativa. Muitos que tentam fazer um balanço provisório do entre-décadas 1975-1986 (depois de sua morte) sempre chegam à conclusão de que as contas não resultam de um todo exatas; falta assim algo como uma quarta dimensão, uma chave interpretativa não plenamente aceitável, mas iluminadora e inquietante; e o que falta é exatamente o ponto de vista de Pasolini, seu esforço autodestrutivo de encontra-se sempre no ponto mais incômodo. Por um lado, Pasolini nos aparece como a última e irrepetível figura do intelectual tradicional em sentido humanístico e por outro, o ponto de vista que ele representou deu extrema dignidade a um modelo de intelectual alternativo, destinado talvez a exti...

A garota de Mônaco, de Anne Fontaine

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Por Pedro Fernandes Às vezes, mesmo ao acaso, conseguimos não queimar o tempo à toa; geralmente tenho feito o trabalho de, antes de assistir a um filme no cinema, ler o crítica tem dito sobre. Resolvi, nesse caso, apenas apostar que estava indo a uma sessão Cine Cult e não poderia me decepcionar com o que encontraria por lá. Essa sessão ocorre na franquia Cinemark que, em Natal, funciona no Shopping Midway Mall; o horário tem sempre sido inconveniente. Mesmo não tendo uma hora fixada, sempre as sessões ocorrem às 14h; muito provavelmente uma provocação de que, quem vai ao cinema a essa hora é porque não tem o que fazer. Bom, ao menos o preço compensa: as sessões são mais baratas que as convencionais. Mas, o resultado é sempre sala quase vazia. E o filme de Anne Fontaine ficou marcado (por isso essas notas aqui no blog) como uma das melhores produções que até hoje vi nessas sessões Cult; afinal, sempre que posso estou lá.  A garota de Mônaco   é um filme da safra fra...