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As cidades invisíveis, de Italo Calvino

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Por Pedro Fernandes Algumas obras são sempre marcantes. As cidades invisíveis  está entre elas. Não consigo (talvez pela minha limitação de ainda um leitor ingênuo) captar aqueles paradigmas elegidos pelo próprio Italo Calvino em Por que ler os clássicos  (livro do qual só li a primeira parte), que possa inscrever esse título no rol do clássico (e clássico  no sentido de obra-prima). Entretanto, não é este um livro comum. O escritor italiano usa de um experimentalismo de raio fantástico . Depois da sua descoberta, fui dia desses à livraria e encontrei com o progresso da reedição completa da obra oferecida pela Companhia das Letras. E me lembrei outros dois importantes livros que li de Calvino ( Seis propostas para o próximo milênio , numa roda de leitura que me serviu de introdução à obra desse autor). Recentemente (isso depois de sobejar as três primeiras páginas) coloquei mais um para a lista de leituras: chama-se Se um viajante numa noite de invern...

Relendo A revolução dos bichos

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Por Christopher Hitchens  A revolução dos bichos , como escreveu seu autor mais tarde, “foi o primeiro livro em que tentei, de forma plenamente consciente, fundir intenção política e intenção artística num todo”. E certamente, suas páginas contêm uma síntese de muitos dos problemas que sempre chamamos de “orwellianos”. Entre eles, o ódio à tirania, o amor pelos animais e o campo ingleses, e uma profunda admiração pelas fábulas satíricas de Jonathan Swift. A isso pode acrescentar o desejo de Orwell de ver as coisas desde o ponto de vista da infância e da inocência dessa idade: sempre desejou ser pai e, temendo ser estéril, adotou uma criança pouco antes da morte de sua primeira companheira. O meio irônico subtítulo do romance é “Um conto de fadas”, e Orwell se sentiu satisfeito quando ouviu amigos como Malcolm Muggeridge e Sir Herbert Read lhe contar que seus próprios filhos haviam desfrutado do livro. Como grande parte de seu trabalho posterior – mais conspicuamente ...

O mundo está gritando por Deus ou a Igreja grita por fiéis

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Por Pedro Fernandes Em artigo recente publicado no jornal Correio da Tarde o padre Matias Soares deu ao leitor sua profissão de fé. Respeito e admiro os que tem essa fé. Não consigo alcançá-la. Por que? Não sei. Defeito? Também não sei. Pode ser também uma qualidade. Depende do ângulo que você enxerga a questão. O fato é que essa crença cega - epíteto para fé - tem algumas afirmativas que carecem de ser revistas, afinal as coisas não são apenas o que parecem ser, mas são também aquilo que não parecem. Não existe absolutismo em nada. E se viver de relativismos nos tira do eixo de fixidez, problema nenhum, nunca fomos possuidores mesmo desse eixo de fixidez e a verdade não passa de uma invenção que pode no dobrar da esquina se transformar em mentira. Fazendo relações entre "uma pessoa que tem uma experiência de Fé, no sentido teológico-cristão" e "um solipsista do vazio falando sobre sua existência no mundo e para o mundo" o artigo do padre dizia em rela...

Os homens preferem as loiras, de Howard Hawks

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Duas amigas, Lorelei  Lee (Marilyn Monroe) e Dorothy Shaw (Jane Russell), embarcam num cruzeiro rumo a Europa à caça de um marido rico. A loira é louca por diamantes; a morena, por músculos. Por meio da história das garotas, o filme deixa subentendido um ideal desejo de libertação feminina: nessa trama, são os homens que - movidos pelo desejo - ocupam o lugar de meros objetos, gravitando em torno das protagonistas. Em sua extensa carreira, o diretor Howard Hawks transitou entre vários gêneros, do filme de gângster ao anti-bélico, das comédias malucas aos faroestes clássicos, do noir aos épicos históricos e às fitas de aventura. Além da versatilidade, o que mais se destaca nos longas de Hawks é a presença, mesmo em universos aparentemente tão heterogêneos, de uma visão de mundo pessoal, de um olhar particular que põe em destaque os mecanismos morais que regem os homens (e as mulheres).  Foi essa unidade sobre a profusão de gêneros que levou os críticos franceses ...

Faz-me rir, mundo caduco (de como não se pode ler a poesia-puta de Hilda Hilst)

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Por Pedro Fernandes O reizinho gay Mudo, pintudão O reizinho gay Reinava soberano Sobre toda nação. Mas reinava... APENAS.... Pela linda peroba Que se lhe advinhava Entre as coxas grossas. Quando os doutos do reino Fizeram-lhe perguntas Como por exemplo Se um rei pintudo Teria o direito De somente por isso Ficar sempre mudo Pela primeira vez Mostrou-lhes a bronha Sem cerimônia. Foi um Oh!!! geral E desmaios e ais E doutos e senhoras Despencaram nos braços De seus aios. E de muitos maridos Sabichões e bispos Escapou-se um grito. Daí em diante Sempre que a multidão Se mostrava odiosa Com a falta de palavras Do chefe da Nação O reizinho gay Aparecia indômito Na rampa ou na sacada Com a bronha na mão. E eram ós agudos Dissidentes mudos Que se ajoelhavam Diante do mistério Desse régio falo Que de tão gigante Parecia etéreo. E foi assim que o reino Embasbacado, mudo Aquietou-se sonhando Com seu rei pintudo. Mas um dia... Acabou-se da ...

I Encontro de Escritores de Língua Portuguesa de Natal

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Tantas vezes adiado e adiado mais uma vez para uma data errada na minha agenda; durante o período de realização do I Encontro de Escritores de Língua Portuguesa de Natal não estarei por aqui, mas em Recife a participar de um evento acadêmico. O encontro literário promovido anualmente pela Funcarte é uma nova roupagem do anterior Encontro Natalense de Escritores, que foi promovido durante quatro anos. Apesar de que eu não me farei presente a esta edição, de todo modo divulgo por cá o que provavelmente terá nesse evento - que esse ano se divide em duas edições, uma agora em fins de abril e outra ainda em data a definir. Na primeira edição do ano o evento promovido pela Fundação Capitania das Artes em parceria com a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa – UCCLA terá lugar nos dias 28, 29 e 30 de abril, no Teatro Alberto Maranhão. A leva de nomes que participarão desta edição ainda está em definição. Se antes tínhamos na lista o escritor João Uba...