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Alice no país das maravilhas, de Tim Burton

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Por Pedro Fernandes É bem verdade que fui ao cinema empapado de críticas para ver Alice , de Tim Burton. Ele me foi como o filme brasileiro  Chico Xavier , de Daniel Filho, uma das estreias desse ano que mais aguardei. E, claro, com reações diversas: sobre o último, é claro, o que tive foi decepção. Já sobre este... Bem sobre este, o que tenho a dizer é o eco das críticas das quais me empapei antes de vê-lo. Há muito de Burton e sobretudo dos estúdios Disney e pouco (muito pouco!) da literatura de Lewis Carroll. Mas, aprovo a beleza imagética do filme, que, pela natureza do 3D, que depois de Avatar  deve se tornar um filão para o cinema. Agora, sou muito consciente de que, onde a imagem se impõe, o conteúdo desce pelo ralo. O sentido do exercício criativo que é peça do escritor inglês é substituído pelo entretimento fortuito; e a narrativa termina por atender ao gosto dos telespectador comum que é levado a estabelecer relaçõ...

Graciliano Ramos

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Já não cairá no esquecimento; é o que agora dizem quando alguém ganha as páginas da web.  A editora responsável pela reedição de sua obra é a autora do feito. O autor do já clássico da literatura brasileira  Vidas secas , obra que ano passado celebrou seus setenta anos, Graciliano Ramos, está bem. O escritor é de 27 de outubro de 1892; nascido na cidade de Quebrângulo, sertão de Alagoas, o primogênito de uma família de dezesseis filhos. Teve sua infância vivida em Viçosa, Palmeira dos Índios (Alagoas) e Buíque (Pernambuco); em Palmeira dos Índios foi prefeito. O pouco tempo que esteve na função revelaram-no um sujeito dedicado a querer fazer o que é certo  quando se está à serviço do povo num cargo público. É desse período os famosos relatórios que, nas palavras do próprio escritor, o tornaram mais reconhecido do que mesmo o seu trabalho como romancista. Nascido e criado no sertão nordestino, é sobre essas suas raízes que desenvolverá as principais te...

Vieira, vida, engenho e arte

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Por Pedro Fernandes O céu estrela o azul e tem grandeza. Este, que teve fama e a glória tem, Imperador da língua portuguesa, Foi-nos um céu também. Fernando Pessoa Os versos de Fernando Pessoa que epigrafam este texto já trazem em si as dimensões inabarcáveis dessa personagem magnânima, que ano passado completou exatos 400 anos de seu nascimento. Português de nacionalidade, jesuíta, Vieira foi maleável aos espaços por onde esteve, foi a personagem que a circunstância o exigia ser: professor de tupi e de retórica, missionário, diplomata, serviçal do rei, teólogo e, inclusive, padre. Viveu em terras brasileiras por exatos 42 anos, até quando da sua morte no Colégio dos Jesuítas, em Salvador, em 18 de dezembro de 1697, aos 89 anos. Sua vida é uma grande epopeia. A começar pelo tempo de vida, numa época em que viver tudo isso era sinônimo de eternidade. Personagem intrigante pela não menos intrigante rede de influências em que esteve metido, a ponto de ser condenado pe...

Um fragmento de "As intermitências da morte" e dois solos de violoncelo

Eram onze horas quando a campanhia da porta tocou. Algum vizinho com problemas, pensou o violoncelista, e levantou-se para ir abri. Boas noites, disse a mulher do camarote, pisando o limiar, Boas noites, respondeu o músico, esforçando-se por dominar o espasmo que contraía a glote, Não me pede que entre, Claro que sim, faça o favor. Afastou-se para a deixar passar, fechou a porta, tudo devagar, lentamente, para que o coração não lhe explodisse. Com as pernas tremendo acompanhou-a à sala de música, com a mão que tremia indicou-lhe a cadeira. Pensei que já se tivesse ido embora, disse, Como vê, resolvi ficar, respondeu a mulher, Mas partirá amanhã, A isso me comprometi, Suponho que veio para trazer a carta, que não a rasgou, Sim, tenho-a aqui nesta bolsa, Dê-ma, então, Temos tempo, recordo ter-lhe dito que as pressas são más conselheiras, Como queira, estou ao seu dispor, Di-lo sério, é o meu maior defeito, digo tudo sério, mesmo quando faço rir, principalmente quando faço rir, Nesse caso...

Quatro livros para entrar no universo literário de José Eduardo Agualusa

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Quem eu sou não ocupa muitas palavras: angolano em viagem, quase sem raça. Gosto do mar, de um céu em fogo ao fim da tarde. Nasci nas terras altas. Quero morrer em Benguela, como alternativa pode ser Olinda, no Nordeste do Brasil. Escrever me diverte, e escrevo também, porque quero saber como termina o poema, o conto ou o romance. E ainda porque a escrita transforma o mundo. Ninguém acredita nisto e no entanto é verdade. - José Eduardo Agualusa, entrevista a Denise Rozário (1999, p.362-363) José Eduardo Agualusa. Foto: Jordi Buch De família brasileira e portuguesa, nascido em 1960, na cidade de Huambo, Angola, José Eduardo Agualusa adquiriu de suas referências culturais um amplo senso de pertencimento. O autor se define como afro-luso-brasileiro. Dividindo-se entre os três continentes, ele é jornalista e estudou Agronomia e Silvicultura em Lisboa. E imprime em sua obra o destaque à relação cultural entre os países de língua portuguesa, através da fusão das influências de cada ...

Milan Kundera

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O nome de Milan Kundera não mais estranho ao leitor brasileiro. Sua obra tem livre circulação no país e a permanência da adaptação cinematográfica de A insustentável leveza do ser pelo cineasta Philip Kaufman no centro das obras do chamado círculo Cult, são elementos que justificam essa afirmativa. Além disso, o nome do escritor está em todas as listas de aposta para o Prêmio Nobel de Literatura, inscrevendo-o no rol dos nobelizáveis quais foram da nossa cena João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado ou Guimarães Rosa. O que isso significa? Significa que, venha o prêmio ou não, Kundera é já um dos expoentes da literatura universal. Afinal, não foi o fato dos brasileiros citados ou qualquer outro escritor que mereça a honraria algo que os destitua do lugar alcançado por sua obra. Milan Kundera é o típico escritor nascido e criado numa cultura erudita e faz dela uso na composição de uma simples na forma e profunda no conteúdo evocado. O pai Ludvik Kun...