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O realismo irónico

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Por Miguel Real Praticando um culto estilista da língua e sendo, com Mário Cláudio, um dos escritores vivos com mais amplo domínio de registo vocabular, seja clássico, seja moderno, Mário de Carvalho é possuidor de um vastíssimo leque de artifícios literários pelos quais encanta o leitor. Entre o anedotário, a paródia, a exploração surrealista da imaginação ( A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho , 1983; “Três personagens transviadas” e “Fenômenos da aviação”, in Contos vagabundos , 2001), o pastiche, o conto pícaro, a graça jocosa, a apologia e a parábola moralistas, mantém sempre uma admirável qualidade de escrita. Foi, porém, nas diversas modalidades do conto e do romance histórico ( Um deus passeando pela brisa da tarde , 1994) que Mário de Carvalho sobressaiu com uma impressionante mestria, seja enquanto criador de uma obra-prima do pícaro moderno ( Quatrocentos mil sestércios , 1991), seja enquanto cultor do conto histórico-romântico ( Conde Jano , 1991), no...

Bom dia RN, da história de uma foto a uma coleção de livros

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Por Pedro Fernandes 1.  A foto apresentada acima data de 2006. Eu era quase recém-chegado a Mossoró e ao curso de Letras. Estou à saída do Teatro Lauro Monte Filho, situado na belíssima Praça Vigário Antônio Joaquim. Aqui uma curiosidade: a praça que se situa entre o teatro e a Catedral de Santa Luzia, apesar do nome, abriga um conjunto de estátuas que celebram Dix-Sept Rosado. Sim, a oligarquia está em toda parte. Na foto, não dá para ver as estátuas - é noite e a câmera do celular não faz milagres - mas o conjunto arquitetônico está bem atrás de mim.  2.  Por este ano e desde o ano anterior, 2005, circulava pelo Rio Grande do Norte um ciclo feito de um conjunto de vozes interessado por colocar em órbita discussões acerca das mais variadas manifestações históricas, culturais e literárias potiguares. O nome do projeto de seminários, Bom Dia. Agregou mais de uma centena de professores, jornalistas, intelectuais, políticos, mestres e doutores, pe...

A necessidade de ficção

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Por Pedro Fernandes Eis que chega ao fim o seriado que parecia não ter fim nunca. E deve chegar com um fim ad infinitum . Não deverá agradar, certamente, a gregos e troianos. A quem conseguiu atravessar a jornada há de ficar um rombo na agenda possível de ser substituído por outro que vier: os estúdios estadunidenses despertaram há um tempo para esse filão dos seriados e devem fazer disso o negócio da china em narrativa para a tela. Como foi que comecei a ver Lost não me lembro. Nem o porquê. Talvez eu tenha sido influenciado pelos amigos da faculdade que já ficavam horas no computador esperando disponibilizarem na web os episódios e fazer o download . Ao menos foi assim que consegui me embrenhar nesse complexo quebra-cabeças muito antes da estreia na TV aberta.   Nesse ritmo assisti ainda, por completo, as quatro primeiras temporadas. Os atropelos do tempo, no entanto, fizeram com que tivesse de deixar o restante do material lançado para outro momento, este qu...

Ben-Hur, de William Wyler

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Ben-Hur  é um filme grande sob todos os aspectos. Além das suas três horas e meia de duração, os números de produção impressionam ainda hoje. O orçamento total foi de US$15 milhões (o longa mais caro já feito, até então), e a bilheteria, de mais de US$70 milhões só nos Estados Unidos, tirou a MGM do buraco. Foram utilizados 100 mil figurinos e 300 sets construídos. A emblemática cena da corrida de bigas exemplifica o espírito grandioso: sua filmagem durou três meses e exigiu a presença de 8 mil extras em uma arena construída em um ano, ao custo de US$ 1 milhão. Uma meticulosidade típica de William Wyler, por anos tido injustamente como um diretor sem personalidade; um artesão, não um autor. A história da vingança do escravo Ben-Hur (Charlton Heston, que ganhou o papel após a recusa de Burt Lancaster e Paul Newman) contra seu traidor e ex-amigo Messala (Stephen Boyd), cheia de referências bíblicas e à vida de Cristo, foi adaptada do romance homônimo do general americano L...

Mais uma semana do filme cult

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Cena de Suspiria , clássico de Dario Argento que abre a programação da IV Semana do Filme Cult Com clássico de Dario Argento, o Cineclube Natal, o Teatro de Cultura Popular Chico Daniel e o jornalista Rodrigo Hammer deram início hoje, 18 de maio de 2010, a mais uma Semana do Filme Cult, evento que promete, pela quarta vez, trazer filmes underground ou ferrenhamente cultuados ao público natalense. Para abertura dessa quarta edição, o filme escolhido foi Suspiria , dirigida pelo mestre do horror italiano Dario Argento. Suspiria apenas antecipa uma sucessão de títulos definidos entre o bizarro e o burlesco, na qual também há lugar para Grand Guignol e experimentalismo barbarizante. A permanência da Semana do Filme Cult no calendário do Cineclube Natal confirma o sucesso da iniciativa, responsável por atrair amantes de raridades do gênero que, assim, podem ter a oportunidade de assistir a títulos nem sempre disponíveis em coleções particulares e muito menos nas ...

Revista Oeste

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Apesar dos atropelos marcados pelo excesso de atividades e curto tempo para todas elas,  posso comentar brevemente sobre a edição recente da Oeste - Revista do Instituto Cultural Potiguar . A apresentação desse número marca um renascimento do periódico e das atividades do ICOP cuja data foi assinalada no dia 7 de maio de 2010, em Mossoró, com uma atividade que contou com autores que escrevem para esta edição ora publicada e os que estão à frente do projeto. Recebi a revista na tarde de sexta-feira, 14 de maio, na Poty Livros de Mossoró, no belo espaço vizinho ao Teatro Municipal (que lugar bom de estar!); encontrei as figuras de David Leite, vice-presidente do Instituto, do poeta Clauder Arcanjo e dos escritores José Nicodemos e Rodrigues da Costa. Não preciso acentuar mais nada sobre o reencontro. Devo apenas dizer sobre a edição, que, para uma revista já em idade adulta - afinal sua primeira edição veio a lume em 1958 - ficou primoro...