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Toque de colher poemas

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Carlos Gurgel, Carito, Civone Medeiros e Renata Mar do Projeto Toque de colher poemas. Fonte: Site do Jornal Tribuna do Norte Negando a relação de mão única entre os versos escritos e o leitor, o poeta Carlos Gurgel convidou um grupo de amigos para colherem seus poemas em gavetas, estantes, cadernos e traduzi-los com voz e sentimento, para o público que deseje ouvi-los. Nesta horta foram fecundadas as palavras de Carito, Civone, Renata Mar e o próprio Carlos Gurgel. A colheita acontece hoje (29), às 20h, no Espaço Cultural Buraco da Catita. O público vai ficar com os poemas autorais dos poetas convidados. Além do texto falado, o público poderá contar ainda com Petit das Virgens e Flávio Freitas, que tocaram fole e trompete. O grupo se reuniu há dois meses e vem ensaiando aquilo que eles nem chamam de sarau, nem de performance, nem de espetáculo. É simplesmente “um toque de colher poemas”. O repertório é dividido em três partes: “Inclassificáveis”, “Mesa Confessional”...

M. A. S. H., de Robert Altman

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M. A. S. H.  é um filme de guerra que nem o combate nem os inimigos aparecem. Um único tiro é ouvido e tem como consequência a interrupção de uma partida de futebol. Tudo se passa no Hospital Cirúrgico Móvel do Exército (Mobile Army Surgical Hospital). Médicos se debatem entre os soldados feridos e a burocracia do exército, conversam e reclamam em tom de deboche, construindo sequências cômicas que, em princípio, fazem rir, mas que visa, sobretudo, a denunciar os absurdos da guerra (o filme é ambientado nos anos 1950, durante o conflito norte-americano com a Coréia, mas foi feito em tempos da Guerra do Vietnã). Como em muitos filmes de Robert Altman, o roteiro original acaba, na prática, dando origem a uma grande quantidade de improvisos que se organizam sem ordem aparente, fora de uma cronologia linear. Rompem-se desse modo as relações de causa e efeito habituais. As expectativas  quanto a mudanças significativas nas situações apresentadas diminuem. Os dias se suced...

O que quer um escritor?

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Por Pedro Fernandes Já muitas vezes tenho me deparado com a ardilosa pergunta. E ela volta agora no trabalho de reflexão sobre a obra literária: trabalho que parece ser o de construir um conjunto de ideias  formadoras de uma obra e consequentemente do pensamento de um escritor. Já muitas vezes tenho respondido a mim mesmo e a quem me pergunta da real importância que se tem ler literatura, que o escritor e a literatura não querem nada. É verdade que essa resposta anarquista é forjada no calor de instaurar um problema na ordem da existência da arte e na ordem da nossa própria relação para com ela. Quando afirmo pela boca coletiva de que "nada" é a essência da querença do escritor e consequentemente da literatura, digo que o escritor e a literatura existem para desestabilizar ordens, instaurar paradigmas, resolvê-los é o que menos lhe interessa. Não existe o escritor para compactuar sempre com a ideia dominante. Existe para propor caminhos diferentes dos já trilhado...

Drummond, a tradição e o talento individual: propósitos para Considerações do poema

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Por Pedro Fernandes Entendo que poesia é negócio de grande responsabilidade, e não considero honesto rotular-se de poeta quem apenas verseja por dor-de-cotovelo, falta de dinheiro ou momentânea tomada de contato com as forças líricas do mundo, sem se entregar aos trabalhos cotidianos e secretos da técnica, da leitura, da contemplação e mesmo da ação. Estas foram as palavras de quem por longa data, a vida inteira, para ser mais preciso, dedicou-se ao fazer poético, atividade que certamente, e os livros e a crítica estão aí para provar isso, ultrapassou o sentido da outra função que veio a exercer a vida inteira também, a de funcionário público. Estas palavras foram as de Drummond, poeta de alma e ofício. O que pretendo com estas suas palavras é o entendimento, ainda que breve, do poeta em diálogo para com a tradição e a constituição de seu talento no corpo desta tradição, entendendo que o poeta não figura em momento algum como instância deslocada do meio e das outras ...

Clarice Lispector

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Tenho várias caras. Uma é quase bonita, outra é quase feia. Sou um o quê? Um quase tudo. (Clarice Lispector citada por Nadia Battella Gotlib, Clarice, uma vida que se conta ) ... eu só escrevo quando eu quero, eu sou uma amadora e faço questão de continuar a ser amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever, ou então em relação ao outro. Agora, eu faço questão de não ser profissional, para manter minha liberdade. (Clarice Lispector, entrevista a Júlio Lerner, 1977) Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. (Clarice Lispector, A descoberta do mundo ) Clarice Lispector, 1961. Foto: Claudia Andujar Clarice Lispector nasceu em Tchelchenik, na Ucrânia, em 1920; chega ao Brasil com os pais e as duas irmãs aos dois meses de idade. A família se instala em Recife, capital de Pernamb...

Diário de bordo

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Por Pedro Fernandes Michelangelo. A expulsão do paraíso . Detalhe da Capela Sistina Esta tela me leva a pensar o segundo capítulo de minha dissertação. Depois do gatilho oferecido pela tela Ceci n'est pa une pomme resolvi adotar, claro, porque lido com um objeto artístico, esse diálogo entre a reflexão teórico-crítica a partir de representações nas artes plásticas. Também lido com um tema cuja matéria serviu de maneira diversa a esse outro universo: figurações sobre o feminino. A reflexão sobre o par realidade::ficção  no intuito de conceber que tais modos não são gratuitos, mas produzidos com alguma intenção, ou ainda, que a literatura não é elemento apartado do mundo, findou com a leitura sobre a construção da personagem - desta, a feminina - na literatura de José Saramago. Aqui, um parêntesis: este estudo tem como núcleo os romances Memorial do convento  e Ensaio sobre a cegueira , mas não se perde numa leitura isolada desses textos. Centrais, tais narrativas são p...