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Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho

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A primeira é mais difícil tarefa do diretor Luiz Fernando Carvalho foi traduzir em linguagem cinematográfica o discurso literariamente complexo do narrador / protagonista do romance homônimo de Raduan Nassar sem perder a intensidade da palavra. A solução de Carvalho foi utilizar, pela voz do personagem principal, André (Selton Mello), quase todo o texto do livro.  Coordenados com a narração, imagens e sons trabalhados até os detalhes fazem do filme tanto uma precisa transposição do romance para outra linguagem quanto recriação inventiva do texto original. O enredo se desenvolve a partir da volta de André, o filho desgarrado, ao convívio da família. O reencontro tenso discute as incongruências entre os valores tradicionais da família libanesa, as relações de poder estabelecidas na casa e os desejos reprimidos, mas não aquietados de André. A coexistência do fato narrado com um passado angustiante e da imagem no presente faz com que a ideia fatalista em relação ao d...

Minha coleção de pockets books ou tamanho é documento

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Por Pedro Fernandes O primeiro que adquiri foi Drácula , do Bram Stoker da L&PM Editores. E de lá para cá não parei de tê-los. E, estudante, com pouca grana, sempre faço opção por eles. Mesmo depois se eu tiver a chance de construir uma biblioteca com os títulos normais , os pequeninhos continuarão a existir.   Os livros de bolso surgiram no país com a série "O coyote", publicada nos anos 50 pela Monterrey, do Rio de Janeiro. Na época, cada edição vendeu até 200 mil exemplares. A L&PM é a que, definitivamente reinaugurou por aqui o gosto pelos pockets e o sucesso deles também. O objetivo deles é sempre o mesmo do que pensaram os editores da Penguin (a franquia estadunidense que pensou o livro de bolso no favor de uma cartela de cigarros) é popularizar o livro e o acesso a leitura, tomar a maior quantidade de leitores. E não é surpresa ir hoje a uma banca de revistas numa rodoviária e dar de cara com um Madame Bovary , de Flaubert, um Vermelho e o negro , de...

Primeiro romance escrito no Facebook

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Leif Peterson. É este o nome do autor que reivindica para si o fato de ter sido ele o primeiro a escrever uma obra inteiramente através do Facebook. Peterson respondeu a um desafio lançado por um amigo no Inverno de 2009:  redigir uma história com mil palavras sobre um homem que descobre um cartaz da Missing Person com o seu próprio rosto. Concluída a redação, Peterson publicou a história no Facebook a 10 de fevereiro desse ano para que os amigos virtuais pudessem lê-la. Mas aqueles que a leram disseram que a história não estava concluída; julgaram tratar-se apenas de um esboço, ou, no máximo, do começo de algum romance. E logo começaram a chover mensagens tentando saber o que se seguiria à matéria já publicada. Com o alento da demanda, Peterson decidiu desenvolver a história, a que chamou Missing e, ao longo dos quatro meses seguintes, cinco dias por semana, foi colocando novos desenvolvimentos no Facebook e acrescentando novos leitores à list...

Toque de colher poemas

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Carlos Gurgel, Carito, Civone Medeiros e Renata Mar do Projeto Toque de colher poemas. Fonte: Site do Jornal Tribuna do Norte Negando a relação de mão única entre os versos escritos e o leitor, o poeta Carlos Gurgel convidou um grupo de amigos para colherem seus poemas em gavetas, estantes, cadernos e traduzi-los com voz e sentimento, para o público que deseje ouvi-los. Nesta horta foram fecundadas as palavras de Carito, Civone, Renata Mar e o próprio Carlos Gurgel. A colheita acontece hoje (29), às 20h, no Espaço Cultural Buraco da Catita. O público vai ficar com os poemas autorais dos poetas convidados. Além do texto falado, o público poderá contar ainda com Petit das Virgens e Flávio Freitas, que tocaram fole e trompete. O grupo se reuniu há dois meses e vem ensaiando aquilo que eles nem chamam de sarau, nem de performance, nem de espetáculo. É simplesmente “um toque de colher poemas”. O repertório é dividido em três partes: “Inclassificáveis”, “Mesa Confessional”...

M. A. S. H., de Robert Altman

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M. A. S. H.  é um filme de guerra que nem o combate nem os inimigos aparecem. Um único tiro é ouvido e tem como consequência a interrupção de uma partida de futebol. Tudo se passa no Hospital Cirúrgico Móvel do Exército (Mobile Army Surgical Hospital). Médicos se debatem entre os soldados feridos e a burocracia do exército, conversam e reclamam em tom de deboche, construindo sequências cômicas que, em princípio, fazem rir, mas que visa, sobretudo, a denunciar os absurdos da guerra (o filme é ambientado nos anos 1950, durante o conflito norte-americano com a Coréia, mas foi feito em tempos da Guerra do Vietnã). Como em muitos filmes de Robert Altman, o roteiro original acaba, na prática, dando origem a uma grande quantidade de improvisos que se organizam sem ordem aparente, fora de uma cronologia linear. Rompem-se desse modo as relações de causa e efeito habituais. As expectativas  quanto a mudanças significativas nas situações apresentadas diminuem. Os dias se suced...

O que quer um escritor?

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Por Pedro Fernandes Já muitas vezes tenho me deparado com a ardilosa pergunta. E ela volta agora no trabalho de reflexão sobre a obra literária: trabalho que parece ser o de construir um conjunto de ideias  formadoras de uma obra e consequentemente do pensamento de um escritor. Já muitas vezes tenho respondido a mim mesmo e a quem me pergunta da real importância que se tem ler literatura, que o escritor e a literatura não querem nada. É verdade que essa resposta anarquista é forjada no calor de instaurar um problema na ordem da existência da arte e na ordem da nossa própria relação para com ela. Quando afirmo pela boca coletiva de que "nada" é a essência da querença do escritor e consequentemente da literatura, digo que o escritor e a literatura existem para desestabilizar ordens, instaurar paradigmas, resolvê-los é o que menos lhe interessa. Não existe o escritor para compactuar sempre com a ideia dominante. Existe para propor caminhos diferentes dos já trilhado...