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Estorvo, de Chico Buarque

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Por Pedro Fernandes Estorvo é a história do sujeito em estado de sonho, de pavor de si. Tudo começa quando uma personagem, já não identificada, mira alguém por através do olho mágico e logo em seguida põe-se em disparada numa viagem de muitos retornos - não necessariamente eternos, nem de filho pródigo. Não tarda o itinerário da própria trama para que descubra-se que ele, membro de uma família da elite carioca, está envolvido, o porquê disso também não sabemos, com o tráfico de drogas. Com esse romance Chico apresenta-se como romancista, até então só compunha, cantava e escrevera, sim, peças para teatro e um livro infantil. Inaugura também aquilo que deverá se tornar rota, para não dizer estilo, de sua escrita: uma escrita de, senão forte apelo, mas de veio social muito vivo. O trânsito dessa personagem de Estorvo - que, ora está no seu berço de origem ora está no mundo à parte do seu - apresenta-nos que as fronteiras de classe no Brasil é divisada por linha mu...

Karatê Kid, de Harald Zwart

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Por Pedro Fernandes Gosto daqueles filmes que, a princípio não aposto muita coisa e entro no cinema totalmente desacreditado de ser "o filme" e depois, com o andar da trama, a opinião minha se reverte a ponto de dizer, no fim de tudo, que valeu a pena. Isso, devo dizer, não se repete com frequência. São raros os momentos. A surpresa desse ano me foi, então, Karatê Kid . A releitura do filme de 1984 não deve ser totalmente preso a ideia de releitura; pela curta memória minha, vejo na versão atual uma leva de fatores que fazem desse o filme um filme com identidade própria em relação a primeira versão. Um dos fatores é, sem dúvida a atuação de Jaden Smith, filho do astro Will Smith. Pode ser que Jaden não tenha o talento do pai - e seria até absurdo fazer uma relação desse tipo - mas o fato é que Jaden incorpora e bem a sua personagem, a ponto de imprimir no rosto de alguns desavisados alguma lágrima furtiva. Outro fator será a trilha sonora. Eles conseguem dá um...

Clarice Lispector: entrevistas, de Claire Williams

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Por Pedro Fernandes Já disse outra vez por aqui que Clarice Lispector é hoje, juntamente como outros pouquíssimos nomes da literatura brasileira, tais como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, João Guimarães Rosa, uma das escritoras mais estudadas e mesmo bem-quista. Reafirmo. É sim, sem dúvida. As provas estão nas abordagens das mais diversas em torno de sua obra, para todos os gostos, inclusive os duvidosos, como esses que agora fazem de espalhar pela internet frases atribuídas à escritora, um mal da popularidade.   No mercado editorial circula também uma leva de publicações que começam as nos revelar outras Clarices. Isto é, a que se dedicou a outras expressões da escrita.  Clarice Lispector: entrevistas  é um desses novos trabalhos com interesse de oferecer aos leitores (conhecidos ou não) partes para uma imagem mais ampla e coerente da escritora e do seu ofício com a palavra.   Produzido pela editora Rocco, casa que até e...

Gonçalo M. Tavares

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“A literatura pode ter a função de diminuir a ingenuidade e eu tento aumentar a lucidez das pessoas.” (Gonçalo M. Tavares) A literatura de Gonçalo M. Tavares é para leitores interessados abandonar sua condição de entregues à roldana do mundo e descobrir aquilo que não conseguimos alcançar pelo olho comum, porque padecemos, muito ou pouco, dos engessamentos propostos, clara ou sutilmente, pelas ideologias de domínio. Sua escrita também é abandono, deambulação, procura por entre as trivialidades do mundo e da história do sopro capaz de produzir as desestabilizações necessárias à constituição dos sentidos de ser e estar no mundo e na história. Tudo isso significa dizer que, o escritor se preocupa em interrogar não apenas a realidade e seus contornos, como o elemento que enforma: a linguagem. Em diferentes registros, em diferentes fronteiras, em diferentes formas, sua obra elege a certeza da impossibilidade do total como ponto de interesse. Assim se observa, por exemplo, os vár...

Mario Vargas Llosa, o Prêmio Nobel de Literatura de 2010

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O Prêmio Nobel Faltavam alguns segundos para uma hora da tarde (hora local) quando Peter Englund, secretário da Academia sueca, abriu a famosa porta branca onde está a sede acadêmica do Prêmio Nobel e pronunciou o nome do escritor peruano Mario Vargas Llosa como novo galardoado com o prêmio mais prestigiado das letras universais. Como sempre, as razões da Academia cabem em duas linhas: “Por sua cartografia das estruturas do poder e suas imagens mordazes da resistência individual, a revolta e a derrota”. No momento do anúncio, o escritor estava em Nova York, onde ministrava um curso sobre Jorge Luis Borges na Universidade de Princeton. Também é sabido que os leitores em língua espanhola breve receberão seu novo romance O sonho celta (escrito antes do prêmio, portanto, ainda sem julgamentos se escritor melhorou, permaneceu ou piorou sua literatura depois de ganhar a maior honraria das letras). O romance é sobre uma personagem histórica, Roger Casement (1864-1916) que quest...

Por que Literatura?

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Pedro Fernandes, o mantenedor desse blog que ministra fala Por que Literatura numa mesa-redonda dia 07 de outubro no I CNELL/VII SELLP. Foto de Netanias Mateus. Arquivo VII CMELP Este é o título da fala que ministro amanhã, 07 de outubro, na abertura de uma mesa redonda para o I Colóquio Nacional de Estudos Linguísticos e Literários. A mesa é a que discutirá sobre o tema Literatura e Ensino. O meu interesse pelo tema surge ainda na graduação quando estive, por vários momentos, colocado contra a parede para dar uma resposta acerca da contribuição prática para o então projeto de conclusão do curso escrito para leitura (análise) literária e vem ganhando contornos em vários outros momentos acadêmicos. Cito, dentre eles, o curso Literatura e ensino feito no decorrer do mestrado e o desdobramento de vários textos a respeito escritos para jornais. Por ocasião do VII Colóquio Nacional de Professores de Metodologia do Ensino ...