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Milagrário pessoal, de Agualusa

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Milagrário pessoal , nono romance de Agualusa, conta a história de um homem que, para seduzir uma mulher, lhe oferece uma nova linguagem. É uma declaração de amor à língua portuguesa. É ela a verdadeira protagonista da história entre um professor angolano e sua discípula, especialista em neologismos. Um dia, a moça parece encontrar a fonte do que seria uma nova língua. “Iara começa a receber centenas de palavras, tão bonitas, extraordinárias, urgentes e necessárias que as pessoas se apropriam delas e começam a utilizá-las sem sequer darem conta que são palavras novas”, explica Agualusa. Juntos, os dois partem em busca dessa coleção de misteriosas palavras, que teriam sido roubadas de uma suposta língua dos pássaros. “No fim, é uma grande viagem pela língua portuguesa, pela sua história e pela forma como ela se foi afeiçoando a territórios tão diversos geograficamente”, complementa. O romance é ainda a história de amor entre Iara e esse homem maduro, que é também o narra...

O dom do crime, de Marco Lucchesi

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Não bastasse a dúvida imortal que continua mobilizando os leitores de Dom Casmurro , se Capitu traiu ou não Bentinho, eis que chega às livrarias um livro que bem pode instaurar outra indagação: afinal, as personagens do enlace amoroso construído por Machado de Assis teriam existido fora da ficção?  Trata-se de O dom do crime ,   o novo livro do escritor Marco Lucchesi. Esta é sua primeira incursão pela prosa; até agora, conhecíamos o poeta, o ensaísta e o tradutor. Tal como apresentado na sinopse divulgada pela casa editorial responsável pela publicação, o escritor “mistura prosa e poesia, numa linguagem que encanta e hipnotiza”.    O ponto de partida do livro é uma acontecimento situado no Rio de Janeiro de 1866: o médico-cirurgião José Mariano da Silva matou a esposa Helena por suspeita de adultério e se defendeu, como era legal no seu tempo, utilizando-se do argumento de defesa da honra. O fato é suficiente para que Lucchesi trace um paralelo com ...

Clarice Lispector: entrevistas ― Lygia Fagundes Telles

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Um dos livros de leitura despretensiosa, e por isso mesmo, delicioso de se ler, é Clarice Lispector: Entrevistas (Editora Rocco). A vivência da escritora com o jornalismo permitiu o contato com uma variedade de figuras, que vão de um Alceu Amoroso Lima a um Tarcísio Meira, de Antônio Callado a um Zagallo. O destaque a seguir é a cópia da conversa de Clarice com Lygia Fagundes Telles.   _______   Eu pretendia ir a São Paulo para entrevistar Lygia Fagundes Telles, pois valia a pena a viagem. Mas acontece que ela veio ao Rio para lançar seu novo livro, Seminário dos ratos . Entre parênteses, já comecei a ler e me parece de ótima qualidade. O fato dela vir ao Rio, o que me facilitaria as coisas, combina com Lygia: ela nunca dificulta nada. Conheço a Lygia desde o começo do sempre. Pois não me lembro de ter sido apresentada a ela. Nós nos adoramos. As nossas conversas são francas e as mais variadas. Ora se fala em livros, ora se fala sobre maquilagem e moda, não temos preconceitos...

A Academia não tem mais tempo para blá blá

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Por Pedro Fernandes Tenho ainda que tomar fôlego porque daqui que chegue o outro lado do rio ainda me faltam muitas braçadas. Não que a extensão seja longa, é o nado que deve ser preciso. De preferência, que todas as braçadas sejam perfeitas. Isso, claro, exige do nadador. A extensão que me falta é pouco mais de 40 páginas ou o que poderei chamar de mais um capítulo ao meu texto de dissertação. Ainda que se foi o tempo em que para se redigir um texto desses precisávamos de traçar um nado que começaria ainda nos primeiros mares da existência do mundo e vínhamos de lá para cá. E ainda não é difícil encontrar com trabalhos em que o nadador nada tanto que morre à beira de chegar do outro lado. Ou ainda que o nadador se perca em alguma correnteza e fique rodopiando no mesmo lugar até que a água lhe afogue. Os textos acadêmicos cada vez mais exigem de quem escreve mais precisão, mas justeza ao itinerário e, claro, mais leitura e mais posição do sujeito-autor no texto. Se antes pe...

Cegueira - um ensaio, de Fernando Meirelles

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Cegueira - um ensaio , de Fernando Meirelles. Foto de Alexandre Ermel e Ken Woroner para o livro. Ao espectador comum, os muitos fatores envolvidos na produção de um filme costumam passar despercebidos. Da elaboração do roteiro, passando pela escolha do elenco, até minúcias de ordem técnica, tudo fica oculto quando se assiste ao resultado final. O livro Cegueira - um ensaio , de Fernando Meirelles, é uma rara oportunidade de olhar por dentro os bastidores de um longa-metragem. O livro foi idealizado por Silvinha Meirelles, irmã do cineasta, a partir do conjunto de textos publicados por ele num blog no período quando trabalhava na produção e filmagem de Blindness , obra feita a partir do romance  Ensaio sobre a cegueira , de José Saramago. O resultado do livro agora publicado é belíssimo. O leitor tem contato não apenas com os bastidores, mas com as confidências do diretor; seus textos ora mostram as dúvidas, as inseguranças, as decisões e as lições aprendidas no s...

Roald Dahl

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Por Donald Sturrock 19 de setembro de 1940. Um pequeno caça monomotor biplano da Força Real Aérea Britânica (RAF) se dirige ao sudoeste atravessando o deserto da Líbia. Os últimos raios do entardecer iluminam a areia com um intenso brilho avermelhado. O piloto está sobrevoando a superfície. Tentando juntar-se com seu esquadrão, mas não consegue localizar a pista de pouso camuflada. Seu tanque de nafta está quase vazio e logo será noite. Só resta uma alternativa possível – uma aterrissagem forçada. Com desespero, passa à baixa altura sobre um solo rugoso, buscando uma área lisa para pousar. Mas não aparece nenhum lugar propício. O sol desaparece por trás do horizonte e ele decide arriscar-se, reduzindo a marcha e descendo a uns 80 p, rezando para que as rodas não batam contra alguma pedra. Mas a sorte não está do seu lado. O trem de pouso bate numa pedra e o avião cai no mesmo instante, com o nariz enterrado na areia. Com a impulsão violenta, o piloto choca-se contra o...