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Notas sobre o II Festival Literário da Praia da Pipa (FLIPIPA)

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Por Pedro Fernandes Vista da Praia da Pipa A O visor do celular marca-me 8h da manhã. Era essa a hora que eu partia, no dia 18 de novembro, para uma das praias mais badaladas do litoral do Rio Grande do Norte. Praia batizada há muito, ainda pelos anos de mil e quinhentos e tanto, dado o formato de uma das falésias ser o de uma pipa (falésias, aliás, que povoam toda a praia). A praia tornou-se o destino turístico de todo aquele que vem a Natal. Vir a Natal e não ir a Pipa, não veio a Natal. Conhecida por além das belezas naturais, pela intensa noite, os dois elementos juntos só poderia culminar num espaço para promoção cultural. E se o tom salobre do mar e o calor do sol não são ingredientes para, dentro da cultura, a inserção da literatura, a ideia desfez-se. Pipa é já espaço ideal, justamente por estas características, para agregar discussões literárias. Em 2009, realizou-se o I Festival Literário da Pipa. Na agenda do evento, no...

A 18, encontro com Saramago (V)

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Iniciativa posta na rede desde o dia 18 julho; todo 18 de cada mês durante noves meses leitores saramaguianos do mundo inteiro reúnem-se para ler um fragmento de sua obra e brindá-lo com uma taça de vinho. Este blog segue a iniciativa. A edição deste mês tem dupla importância; novembro é mês em que nós, os saramaguianos, comemoramos os 88 anos do escritor, feitos no último dia 16. O fragmento que leio hoje é, na verdade, uma crônica do escritor que dá contas de um dos elementos que compõem o temário, podemos assim dizer, José Saramago: Deus. É peça-chave que se apresenta em toda a obra saramaguiana, mais forte em dois romances - O Evangelho segundo Jesus Cristo (1992) e Caim (2009). Intitulada Dios como problema Saramago retoma a ideia de Deus que marca bem esses dois romances para entendê-lo como uma má acertada criação humana. Publicado incialmente no dia 1 de agosto de 2005 no jornal espanhol El País , onde Saramago publicou uma série de textos numa atividad...

Milagrário pessoal, de Agualusa

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Milagrário pessoal , nono romance de Agualusa, conta a história de um homem que, para seduzir uma mulher, lhe oferece uma nova linguagem. É uma declaração de amor à língua portuguesa. É ela a verdadeira protagonista da história entre um professor angolano e sua discípula, especialista em neologismos. Um dia, a moça parece encontrar a fonte do que seria uma nova língua. “Iara começa a receber centenas de palavras, tão bonitas, extraordinárias, urgentes e necessárias que as pessoas se apropriam delas e começam a utilizá-las sem sequer darem conta que são palavras novas”, explica Agualusa. Juntos, os dois partem em busca dessa coleção de misteriosas palavras, que teriam sido roubadas de uma suposta língua dos pássaros. “No fim, é uma grande viagem pela língua portuguesa, pela sua história e pela forma como ela se foi afeiçoando a territórios tão diversos geograficamente”, complementa. O romance é ainda a história de amor entre Iara e esse homem maduro, que é também o narra...

O dom do crime, de Marco Lucchesi

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Não bastasse a dúvida imortal que continua mobilizando os leitores de Dom Casmurro , se Capitu traiu ou não Bentinho, eis que chega às livrarias um livro que bem pode instaurar outra indagação: afinal, as personagens do enlace amoroso construído por Machado de Assis teriam existido fora da ficção?  Trata-se de O dom do crime ,   o novo livro do escritor Marco Lucchesi. Esta é sua primeira incursão pela prosa; até agora, conhecíamos o poeta, o ensaísta e o tradutor. Tal como apresentado na sinopse divulgada pela casa editorial responsável pela publicação, o escritor “mistura prosa e poesia, numa linguagem que encanta e hipnotiza”.    O ponto de partida do livro é uma acontecimento situado no Rio de Janeiro de 1866: o médico-cirurgião José Mariano da Silva matou a esposa Helena por suspeita de adultério e se defendeu, como era legal no seu tempo, utilizando-se do argumento de defesa da honra. O fato é suficiente para que Lucchesi trace um paralelo com ...

Clarice Lispector: entrevistas ― Lygia Fagundes Telles

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Um dos livros de leitura despretensiosa, e por isso mesmo, delicioso de se ler, é Clarice Lispector: Entrevistas (Editora Rocco). A vivência da escritora com o jornalismo permitiu o contato com uma variedade de figuras, que vão de um Alceu Amoroso Lima a um Tarcísio Meira, de Antônio Callado a um Zagallo. O destaque a seguir é a cópia da conversa de Clarice com Lygia Fagundes Telles.   _______   Eu pretendia ir a São Paulo para entrevistar Lygia Fagundes Telles, pois valia a pena a viagem. Mas acontece que ela veio ao Rio para lançar seu novo livro, Seminário dos ratos . Entre parênteses, já comecei a ler e me parece de ótima qualidade. O fato dela vir ao Rio, o que me facilitaria as coisas, combina com Lygia: ela nunca dificulta nada. Conheço a Lygia desde o começo do sempre. Pois não me lembro de ter sido apresentada a ela. Nós nos adoramos. As nossas conversas são francas e as mais variadas. Ora se fala em livros, ora se fala sobre maquilagem e moda, não temos preconceitos...

A Academia não tem mais tempo para blá blá

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Por Pedro Fernandes Tenho ainda que tomar fôlego porque daqui que chegue o outro lado do rio ainda me faltam muitas braçadas. Não que a extensão seja longa, é o nado que deve ser preciso. De preferência, que todas as braçadas sejam perfeitas. Isso, claro, exige do nadador. A extensão que me falta é pouco mais de 40 páginas ou o que poderei chamar de mais um capítulo ao meu texto de dissertação. Ainda que se foi o tempo em que para se redigir um texto desses precisávamos de traçar um nado que começaria ainda nos primeiros mares da existência do mundo e vínhamos de lá para cá. E ainda não é difícil encontrar com trabalhos em que o nadador nada tanto que morre à beira de chegar do outro lado. Ou ainda que o nadador se perca em alguma correnteza e fique rodopiando no mesmo lugar até que a água lhe afogue. Os textos acadêmicos cada vez mais exigem de quem escreve mais precisão, mas justeza ao itinerário e, claro, mais leitura e mais posição do sujeito-autor no texto. Se antes pe...