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García Márquez vai ao dentista

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Nota:  Foi pesquisando materiais para escrever uma post sobre o escritor Gabriel García Márquez que encontrei com este texto publicado em dezembro de 2010, no caderno do jornal  Folha de São Paulo , o  Ilustríssima . Com a desenvoltura de uma anedota o peruano Julio Villanueva Chang compõe um perfil - cotidianesco - do Prêmio Nobel de Literatura. O perfil foi escrito a partir de uma entrevista que Chang fez por através do dentista de Gabriel García Márquez, Jaime Gazabón, um contorno àquele que nutria uma aversão a repórteres. Em entrevista para o jornal O Globo quando esteve na FLIP de 2010, Chang respondeu como foi compor esse perfil "enviesado" do escritor colombiano: "Todos, mesmo que só uma vez, já pedimos a um ser querido que nos olhasse nos olhos. García Márquez não dá entrevistas e um caminho para aproximar-se dele é tentar conhecê-lo na diagonal, ou seja, pelos olhos de outra pessoa. Procurar o dentista de García Márquez não foi uma ...

Um dia de chuva, de Eça de Queiroz

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Por Pedro Fernandes Trata-se de um achado do escritor português. Assim se anuncia pela editora o que agora se publica. Trata-se de um conto que ganha sua primeira edição independente em  livro. E vem alagado (para usar um termo afluente da ideia-chuva) por um conjunto de 15 ilustrações do desenhista Eloar Guazzelli. Um dia de chuva é uma pequena obra-prima, assim opina o professor Antonio Candido, quem escreve a quarta capa da edição. "O enredo é simples e aponta para uma singela história de amor, encoberta por uma chuva incessante. Escrito perto de sua morte, o autor deixou o texto por terminar, e este aspecto de inacabado é um traço de modernidade que só faz enriquecer sua leitura. Na história, José Ernesto, um solteirão que mora em Lisboa, vai até uma cidade do Norte de Portugal com o intuito de comprar uma quinta, para fugir da cidade grande. Ao chegar, sucedem-se vários dias de chuva incessante, em que o protagonista conversa com o padre da paróquia loca...

Benedito Nunes

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Benedito Nunes. Foto de Luiz Braga. Fonte: Revista Brasileiros Nota:  Defini-lo como autodidata como tenho lido nos poucos espaços que se sensibilizaram com a morte do professor Benedito Nunes é insuficiente, afinal todo intelectual tem em sua natureza o autodidatismo; já não é, portanto, um elemento que o isole em diferença dos demais. Não fosse isso não seriam intelectuais. Mas hoje li um texto na Revista Brasileiros , edição 25, de 2009 , cujo link encontrei no mural do Facebook disposto pelo meu companheiro de rede social Cristhiano Aguiar,   que rende a justa homenagem a este homem que partiu ontem de mãos dadas com Moacyr Scliar; reproduzo parte a seguir: Benedito Nunes, o iluminista dos trópicos Por Adriana Klautau Leite Em um de seus encontros com Benedito José Viana da Costa Nunes, em Belém do Pará, Clarice Lispector lhe disse: “Você não é um crítico, mas algo diferente, que não sei o que é”. A escritora tinha razão ao demonstrar a di...

A arte de fazer livros

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Por Pedro Fernandes Sem propagandas, mas nós leitores sabemos que os livros produzidos pela Cosac Naify têm algo além dos preços assombrosos: o esmerado zelo na composição das publicações que nos entregam. Em alguns casos, são quase livros-arte. É talvez a primeira vez que algo assim sofisticado, continuamente, se pratica no nosso pequeno e maltrapilho mercado editorial. Até quando durará? Isso não sabemos, mas devemos aproveitar.  A nova publicação da casa é um exemplo do que dissemos e um convite ao deleite. Editaram simplesmente um livro-chave para a literatura moderna e de vanguarda na Argentina e na América Latina:  Museu do romance da eterna , do escritor argentino Macedonio Fernández. E para um desses livros inclassificáveis, a editora propôs um projeto editorial semelhante. Antes, alguns detalhes do romance e depois olhamos a sua primeira edição brasileira. Macedonio Fernández nasceu no dia 1.º de junho de 1874, em Buenos Aires, cidade onde viveu até 10 de fev...

A descida – Variações em torno do tema

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 Como afirma Ronaldo Lins, em  Violência e literatura , a partir do século XIX, período em que o romance atinge seu apogeu, a viagem recriada na literatura parecerá sempre uma descida aos infernos, tanto interior como exterior, indicando uma crescente incerteza nos homens ou talvez indiciando que um mundo tão cheio de certezas até aquele século, estava agora recheado de insegurança e perigos ou teria se transformado no grande espaço-incógnita de que fala Ricardo Gullón. O tema da descida na ficção, um aspecto que envolve diretamente a maneira como determinado autor utiliza o espaço em suas obras, sob a forma de variações ou figurações da viagem aos infernos, aparece frequentemente na literatura de todos os tempos. ... O tema da descida ora assume a forma do mito de Orfeu, usando de suas habilidades musicais para comover os deuses infernais e conseguir recuperar Eurídice no império subterrâneo – e fracassando por ceder à curiosidade e quebrar a proibição, olhando para ...

Macondo, o nascimento de uma cidade literária

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Quem leu Cem anos de solidão , de Gabriel García Márquez sabe que   Macondo é "uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, construídas à margem de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos". Dizem que Macondo foi baseada na cidade da Aracataca, onde García Márquez viveu parte da sua infância. Macondo era o nome de um bananal que se localizava nas imediações da cidade. Dizem também que Macondo foi inspirada por Yoknapatawpha Country de William Faulkner, embora muitos digam ainda que o escritor não havia lido nenhuma peça de Faulkner enquanto escrevia o romance. A cidade aparece pela primeira vez no livro A revoada  para depois ser protagonista em Cem anos de solidão . Em péssima hora , outro romance de García, Macondo é retomada fazendo uma ligação evidente entre os dois romances. Em Cem anos de solidão , a cidade cresce a partir de um pequeno assentamento com quase nenhum...