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O artista, de Michel Hazanavicius

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Por Pedro Fernandes O filme chegou num ano que se configura como o de homenagens ao cinema. A constatação se dá pela presença de outro título, este de Martin Scorsese, A invenção de Hugo Cabret . A consolidação de um novo filão para a indústria cinematográfica – o do metacinema – ou interesses comuns em torno de uma data festiva, os cem anos de Hollywood? A segunda opção é mais viável já que a primeira mantém sua presença desde o nascimento do cinema e não constitui necessariamente numa nova modinha dos cineastas, mas uma estratégia textual comum às produções contemporâneas. E por falar no cinema atual, O artista é uma das melhores criações desse novo tempo. Recria, desde a forma, a linguagem, o texto, uma parte da muito rica história do cinema estadunidense, desde as primeiras produções de Hollywood, e testemunha, despido de qualquer tom documentarista, o que foi, talvez, a maior revolução da criação dos irmãos Lumière, a transição entre o cinema mudo e o cinema fala...

Burroughs, assassino

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Por Jan Martínez Ahrens Não houve orifício de saída. A bala ficou alojada no cérebro de Joan. Ela caiu no chão e o copo que tinha sobre a cabeça rolou pela sala. Na mesa havia quatro garrafas vazias de gim Oso Negro e à sua frente um orifício de sete milímetros de diâmetro. Um buraco arredondado e escuro pelo qual William Seward Burroughs entrou de cheio na literatura. Aquele 6 de setembro de 1951, no número 122 da rua Monterrey, na Cidade do México, Burroughs acabava de matar com um só tiro sua companheira. Havia nascido com uma Star automática na mão, uma lenda do século XX. Burroughs, o homicida. O maldito por excelência. “Tudo me leva a atroz conclusão de que jamais haveria sido escritor sem a morte de Joan”, escreveria 34 anos depois. Nessa mesma tarde foi preso. O crime chegou às capas dos principais jornais. “Quis demonstrar sua pontaria e matou sua mulher”, dizia La Prensa . As fotos de primeira página mostram Burroughs, então com 37 anos, tentando esconder o rost...

Miacontear - O cesto

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Por Pedro Fernandes “ Pela milésima vez me preparo para ir visitar meu marido ao hospital. Passo uma água pela cara, penteio-me com os dedos, endireito o eterno vestido. Há muito que não me detenho no espelho. Sei que, se me olhar, não reconhecerei os olhos que me olham. Tanta vez já fui em visita hospitalar, que eu mesma adoeci. Não foi doença cardíaca, que coração, esse já não o tenho. Nem mal de cabeça porque há muito que embaciei o juízo. Vivo num rio sem fundo, meus pés de noite se levantam da cama e vagueiam para fora do meu corpo. Como se, afinal, o meu marido continuasse dormindo a meu lado e eu, como sempre fiz, me estirasse para outro quarto no meio da noite. Tínhamos não camas separas, mas sonos apartados. ” (p.21). Assim inicia, a meu ver, um dos contos mais densos de O fio das missangas .  O narrador é uma mulher presa à rotina de levar, diariamente, atenção ao marido que está em coma no hospital. Entregue a esse movimento de ir-e-vir casa-hospital-casa ela é um ...

Mente cativa, de Czesław Miłosz

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Num livro de memórias fascinante, Mente cativa , o poeta Czesław Miłosz descreve o prodigioso processo de transformação ideológica que se produziu na Polônia depois da Segunda Guerra Mundial, quando os comunistas ocuparam o poder. Sem citar nomes, mas aludindo a vários casos verídicos, o escritor relata como intelectuais católicos ou socialistas iam pouco a pouco, dia a dia, artigo a artigo, mudando suas opiniões, até converterem-se em submissas cópias do modelo de intelectual orgânico que o regime comunista polonês havia desenhado para eles. Talvez, seja permitido fazer um paralelo entre o que viveram os poloneses com o que o Brasil viveu durante o período da Ditadura Militar. É evidente que grande parte das adesões intelectuais que o governo dessa época recebe se devia a uma postura contundente frente ao comunismo (fantasma que terá assombrado a mente de muitos, claro, espalhado pelos militares em parceria com um regime nenhum um pouco melhor que o comunista, o capitali...

insônia

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David Dupuis. se na noite vaga o sono abrisse-me os misericordiosos braços agarraria-o como o escuro agarra-me os olhos grilados nele. * Acesse  o e-book  Palavras de pedra e cal  e leia outros poemas de Pedro Fernandes.

Aspirinas & Urubus

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O título é de ouro. Mais literário impossível. A ideia também. Jotta Paiva, jornalista do jornal De Fato e editor da Revista de contos Cruviana aparece juntamente com Regiane, Arlete, Klas e Davi para reinventar a atmosfera dos blogues literários no Rio Grande do Norte e por que não (?) no Brasil. Segundo notifica o editorial da ideia, Aspirinas & Urubus - é este o sugestivo título do blogue - nasce daquele filme de Marcelo Gomes, Cinema, Aspirinas e Urubus . Da ideia dessa película, extrai-se o Aspirinas & Urubus que pretende ser uma espécie de laboratório ao ar livre da web para novas experiências literárias. Os cinco integrantes do blogue, pessoas com características profissionais diferentes, emprestam suas atenções e percepções para descrever os fenômenos da vida a partir de uma escrita rápida como a crônica e o conto ou mesmo a poesia e demais gêneros. A novidade é que este blogue não se pretende ser fechado como os laboratórios comuns. Fazendo jus ao...