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A ignorância é um passo do conflito

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Por Pedro Fernandes É verdade que um país como o Brasil - que viveu tão recentemente um período áureo da censura - faz uso, não muitas vezes exagerado e principalmente em se tratando da mídia, do conceito de censura ou mesmo dos atos praticados nos Anos de Chumbo para classificar todo e qualquer ato que obedeça traços de semelhança não apenas com o conceito mas também com o ato em si de censurar. Isso é fato. Mas, dois recentes momentos que tenho presenciado, não podem entrar para o rol das possibilidades de aproximação com o conceito e ato de censurar. E digo isso porque - na minha curta ignorância - entendo, sim, tais atos como censura. E tenho tanto convicção disso porque acompanho que a grande mídia não se preocupa em colocar esses atos à roda das discussões. A mídia - e restrinjo a grande mídia - só divulga aquilo que lhe é de interesse; aquilo que lhe fere a sua suposta moral. Aquilo que é da moral alheia parece que ela incorpora uma cegueira que está para além ...

Cesário Verde

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A mim o que me rodeia é o que me preocupa. Cesário Verde em carta ao amigo Silva Pinto. Cesário Verde. Columbano Bordalo Pinheiro. Arquivo BNPT. O pensamento que epigrafa esta postagem é marcado pelo laivo do pensamento realista. O escritor é aquele que examina o que lhe cerca — sobretudo o estágio social porque passa o espaço e o tempo em que se insere; como um cientista no seu laboratório, executa movimentos precisos no exame sobre determinadas questões. Assim, é que nos deparamos, por exemplo, com a ficção de alcova. Se o casamento, artefato da sociedade burguesa, dava seus primeiros suspiros de decadência, muitos dos escritores da época — e citemos dois mais conhecidos do grande público, Machado de Assis, da nossa parte, e Eça de Queirós, da parte de Portugal — se deram ao verdadeiro trabalho de retratar essa decadência, bem como de rever outras questões sociais.  Cesário Verde é dessa leva, embora, é importante que se ressalve, não tratamos aqui do a...

Sobre certos individualismos

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Por Pedro Fernandes Clarence Holbrook Carter.  É lastimável o que venho acompanhando em determinados momentos ou situações na web . O primeiro insucesso devo dizer foi quando ainda no jornal Trabuco me disponibilizei a organização de uma antologia de poemas. Na época, a publicação não descolou devido a uma série de desencontros, mas, sobretudo, devido a individualismos da parte de muitos escritores que chegaram a me escrever dizendo não coadunarem com publicações coletivas. Respeito opiniões, mas questiono como que um escritor hoje quer se fazer conhecido (não no sentido de ser famoso, mas no sentido de ser escritor mesmo) se não se mostra entre seus pares. Além do que, seu isolamento só tem a lhe propagar, além da fama de individualista, outra ainda pior, a de não ter capacidade de brilhar numa constelação. Depois lancei-me noutras empreitadas que deram seus frutos. A organização de um miniconcurso literário - Uma página para Saramago - , a organização de uma revista de...

Miacontear - A avó, a cidade e o semáforo

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Por Pedro Fernandes Dois temas aparecem na superfície de “A avó, a cidade e o semáforo”. Um é a relação tradição e modernidade - marcadamente pelos espaços e pelas personagens e expressos no conjunto de substantivos que intitulam o conto: avó, cidade, semáforo. E outro é novamente o tema da solidão na terceira idade, tema que sustenta a narrativa do conto anterior a este em O fio das missangas , “Enterro televisivo”. Tudo acontece quando o neto de Ndzima, professor numa vila rural, é convocado a receber um prêmio do Ministério. O prêmio deverá ser entregue na cidade grande. E esse acontecimento será motivo suficiente para a avó encher o neto de perguntas, quanto ao lugar onde ele se hospedaria, a feitura da comida, quem lhe faria a cama de dormir... E não convencendo Ndzima sobre todos os trâmites na cidade grande, ela compra passagens e decide abalar junto com o neto numa viagem que, mudará o destino dos dois. Conduzindo-nos com seu tom galhofeiro o narrador nos relata d...

A qual artista associas teu escritor favorito?

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Por Pedro Fernandes  Jean-Honoré Fragonard. Carta de amor . A pergunta veio através do colunista do jornal espanhol  El País  Winston Manrique Sabogal depois da leitura do escritor irlandês Colm Tóibín em um artigo para o caderno cultural  Babelia . O artigo em questão tratava do poder subterrâneo da literatura de Ernest Hemingway por ocasião do cinquentenário de sua morte feito no passado 2 de julho.  Numa determinada passagem do seu texto, Tóibín retoma um fragmento de uma entrevista do escritor estadunidense em que ele afirma que queria escrever tal como Cézanne pintava.  "Se Ernest Hemingway queria ser uma espécie de Cézanne da literatura, isto é, escrever com a força e a técnica pictórica do grande artista francês do pós-impressionismo, creio que conseguiu em muitas de suas obras, mas Homero, Shakespeare, Cervantes, Austen, Proust ou Woolf gostaria de se parecer com qual artista?" Pergunta. "Como é muito difícil saber a resposta, ...

Ainda o dia 14 de julho: a Cruviana

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Por Pedro Fernandes Não podia deixar de comentar por aqui acerca do lançamento e da edição da revista  Cruviana . Aquelas ideias que dou apoio e que têm um desfecho além do esperado não podem, claro está, ficar apenas reduzidas às notas de divulgação. É fato que alguns projetos surgidos na  web  e que aqui dou apoio mas perdem-se depois de pronto não carecem de minha parte algo mais que o silêncio. Não devo é agora citar nomes, porque aqueles que me leem com certa frequência haverão de perceber quando falo e quando silencio.  A  Cruviana  teve sua aparição há pouco menos de um semestre. A ideia, tenho notícias, quando seu mentor ainda pensava em chamar esse projeto de  Tramontana . Assim que soube a primeira fase do projeto andava já online postei divulgação por aqui. E agora, depois de, definitivamente pronta, vejo e os leitores que acompanharam esse trânsito – sim, porque a vantagem da internet está na possibilidade de acompanhar bo...