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Paranóia, de Roberto Piva: a resenha que não foi publicada em 1963

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Por Cláudio Willer No final de 1962 ou começo de 1963, fui apresentado por Dora e Vicente Ferreira da Silva ao editor de uma nova revista chamada  Tempo Brasileiro , Vicente Barreto. Simpático, disse que gostaria que eu escrevesse na revista. Recebeu-me muito bem no Rio de Janeiro. Aproveitando uma viagem a Salvador, mandei-lhe algo sobre artes plásticas na Bahia. Publicaram. Pouco depois, foi lançado  Paranóia . Preparei a resenha reproduzida a seguir para  Tempo Brasileiro . Barreto, algo constrangido, disse-me que a editora de literatura e resenhas da revista (uma escritora conhecida, aliás simpática e que mais tarde teria uma boa atuação contra a censura) havia recusado o texto. Esse foi, obviamente, o final da minha breve relação com  Tempo Brasileiro . Ainda bem: anos depois, essa revista apareceria na relação daquelas ligadas ao grupo Encounter; ou seja, os periódicos subvencionadas pela CIA através do USIS, para fazer frente às publi...

2 eventos literários

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Para um país da dimensão do Brasil as feiras e festas literárias promovidas cá por essas paragens são poucas. Mas, verdade precisa ser dita que, nos últimos anos têm aparecido boas e agradáveis surpresas nesse terreno. Duas delas me chegaram à caixa de e-mails esta semana e, sendo eu mantenedor de um blog que prima pela literatura não pode, claro está, deixá-los no rol de e-mails lidos. Devo, sim, compartilhá-los. O primeiro deles é a 2ª edição da Festa Literária de Marechal Deodoro (II FLIMAR), que acontece de 7 a 12 de setembro no município alagoano de Marechal Deodoro, berço histórico daquele estado. O evento reúne uma extensa programação com apresentações culturais, minicursos, oficinas, mesas redondas, palestras, exibição de filmes e shows. A abertura, por exemplo, no dia 7, recebe a presença de Alexei Bueno e show de Alceu Valença. Tem ainda a presença do poeta Lêdo Ivo – autor homenageado dessa 2ª edição da FILMAR, Flávio Carneiro, Charles Cooper, Marçal Aquino, H...

Miacontear - Maria Pedra no cruzar dos caminhos

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Por Pedro Fernandes Já foi dito que “Maria Pedra no cruzar dos caminhos” está mais para uma não-história da personagem-título, esta que se debanda de casa e se aloja à beira da estrada de saia levantada à espera de algum homem que rompa sua virgindade. Mas, será? A primeira leitura desse conto de O fio das missangas suscitará mais dúvidas que respostas. Afinal, o qual motivo reside na atitude de Maria Pedra? Alguma possessão? Transgressão? Ou a necessidade de libertação sexual do corpo guardado à espera de “desencaminhamento” de sua donzelia? Sabemos que essa mulher provém de uma família problemática - tem uma forte ligação com a mãe, é verdade, a única capaz de socorrê-la nesses estágios de insensatez, mas o pai, é um débil, largado “num canto da sala”, “o homem vivia entre o vazar de garrafa e o desarrolhar de outra garrafa”. Pelo sim, pelo não, o conto nos sugere, até seu desfecho, os dois percursos de leitura. E a leitura por uma das vias parece não d...

Jorge Luis Borges na web

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Por Pedro Fernandes O escritor pelas lentes de Paola Agosti. Quero antes dizer que sou analfabeto em Borges. Sim, analfabeto. Alguém que leu apenas alguns contos perdidos numa vasta obra como a desse senhor que fecha 112 anos nesta semana não me faz seu leitor. Além do que, precisaria, certamente, de ler pelo menos um terço daquele que se disse melhor leitor que escritor. A biblioteca de Borges, entretanto, é uma Babel. E devo levar uma longa vida – na assídua leitura – para aproximar-se daquilo que foi a biblioteca do escritor argentino. Pelo pouco que sei de Borges, sei que é um grande escritor.  O que me faz repetir isso não é acrescentar um ponto na ladainha que a crítica repete em torno do seu nome. Nem quero reverenciar o mito de complexo, labiríntico. É sim para sublinhar o estranhamento que tive quando me deparei pela primeira vez com um texto de Borges.  Foi “Pierre Menard, autor do Dom Quixote”, do livro Ficções , originalmente publicado em maio de ...

Onde se passam as histórias dos livros

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A ideia surgiu em fevereiro de 2010. E de lá para cá, ja conta com mais de 130 livros cadastrados. Segundo a mentora, a jornalista Isabel Colucci, do blog O Guaxinim , já fazia tempo que ela, curiosa, queria saber que livros se passavam em Viena. E pronto. Tomou corpo num mapa interativo criado no Google Maps.  Exemplos de marcação feita no mapa está o cenário de A insustentável leveza do ser , de Milan Kundera, a República Theca. Depois, Rússia, com três obras de Dostoiévski, Crime e castigo , O idiota e Noites Brancas . Em São Paulo, O sol se põe em São Paulo , de Bernardo de Carvalho, Rakushisha , romance de Adriana Lisboa que se passa também no Japão. Ainda no Brasil, Rio Grande do Sul, cenário de Um certo capitão Rodrigo , de Érico Veríssimo, Por parte de pai , de Bartolomeu Campos Queiros, em Minas Gerais, Grande Sertão: veredas , de Guimarães Rosa, Dois Irmãos e Órfãos de Eldorado , de Milton Hatoum, O cobrador , de Rubem Fonseca, e Capitães da areia , de Jo...

Capitão América: o primeiro vingador, Joe Johnston

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Por Pedro Fernandes Chris Evans na pele do Capitão América em O primeiro vingador Ele surgiu no quase-auge (ou terá sido auge?) dos quadrinhos americanos. É fruto de um período em que o mundo está bem dividido – amigos e inimigos – e os Estados Unidos, claro, no primeiro grupo, mesmo que, ainda quando de sua criação, em 1941, o país ainda não houvesse entrado de vez para o conflito da Segunda Guerra. A personagem é criada como um símbolo da propaganda belicista, e o roteiro não só respeita como destaca isso. A história de criação deste super-herói se confunde com a história de criação de outros super-heróis, surgidos, na sua grande maioria, como apoio moral a uma sociedade desacreditada de seu poder de dominação. Capitão América está situado num tempo em que o inimigo atendia por um nome apenas, Adolf Hitler. E claro está em algum momento do filme quando o aspirante a capitão aparece esmurrando o führer. Hoje se sabe que o inimigo está em toda parte. Talvez o Caveira Vermelha, ...