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Ouvir “Os Lusíadas”

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Que Os Lusíadas é um dos pesadelos dos estudantes de Letras é fato. Não deveria ser, afinal, está fazendo um curso que lida, sobretudo, com leitura, as leituras “difíceis” ou “herméticas” deveriam se constituir em desafios como quaisquer outros que estudantes de outras áreas tenham de passar. Penso aqui, o que seria dos engenheiros ou dos médicos se não tivessem a amargura de estudar cálculo, para os do primeiro grupo, ou anatomia, por exemplo, para os do segundo grupo. Logo, me parece um certo vício ou por que não preguiça em deixar que o texto lhe vença e seja, antes de lido, taxado como inoportuno. Vou citar para efeito um meu masoquismo literário. A obra literária só me instiga quando se apresenta para mim como um desafio maior até do que a minha existência. Foi assim que adquiri fôlego para ler Os Lusíadas , Grande Sertão: Veredas , Dom Quixote , para ficar em três obras de grande desafio para os que querem lê-las. Foi assim que me decidi por estudar José Saramago. Já co...

Miacontear - Enterro televisivo

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Por Pedro Fernandes Oh! Cride, fala prá mãe, que tudo que a antena captar, meu coração captura Titãs O tom da narrativa de “Enterro televisivo” retoma o daquelas histórias inusitadas que se passam muitas delas com algum vizinho de nossa rua. Aliás, a grande maioria dos contos de  O fio das missangas , apesar de serem histórias cujo cenário é Moçambique, os dramas incorporados pelas personagens de tais histórias são muito próximos dos dramas vividos em qualquer outro lugar mundo.  Nesta, de “Enterro televisivo”estamos no sepultamento do marido de Estrelua, que do nada grita pedindo um televisor. O que tinha em casa havia combinado com o coveiro e posto junto com o defunto no caixão. “Era um requisito de quem ficava, selando a vontade de quem estava indo.” Depois de o padre sossegar o alvoroço que se forma por causa desse pedido da velha novamente ela se “espreita” e começar a perguntar pela presença de desconhecidos - Bibito , Carmenzita - todas personagens de...

Lançamento de "Charlene Flanders, que voava em seu guarda-chuva roxo", de Wilame Prado.

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O jornalista e escritor Wilame Prado. O livro que agora será lançado já foi um dia produção independente publicada na web sob o fomato de e-book. A edição em papel, entretanto, além de marcar um passo certamente importante na carreira do escritor, não é mesma. Vem ampliada O lançamento desse Charlene Flanders, que voava em seu guarda-chuva roxo é o primeiro título do jovem escritor de 25 anos Wilame Prado. Trata-se de um livro contos. 37 no total acompanhados de fotografias de Gustavo Wittich. Wilame é jornalista e escritor. Foi redator, repórter, produtor e ditor no Informativo Cocari e desde 2008 integra a lista de colunistas do caderno D+ do jornal O diário do Norte do Paraná , o que comprova seu acurado faro para a narrativa curta. O livro editado pela Multi Foco será apresentado aos leitores no dia 15 de setembro, às 20h, no salão social do SESC de Maringá dentro da programação da Semana Literária do SESC que tem início já no dia 12 de setembro, evento que reu...

Transamérica, de Duncan Tucker

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Por Pedro Fernandes É longa a lista de filmes que já se dedicaram a relação entre pais e filhos. Transamérica não é para ser considerado mais um por duas razões: primeiro, talvez não seja esse o real tema nele explorado, entretanto, a forma como o tema é abordado e as personagens envolvidas no caso, e aqui reside a segunda razão, dão forma nova para a questão.  O longa de 2005 é uma produção independente do diretor e roteirista Duncan Tucker. É também seu trabalho de estréia. Trata-se de um filme simples, mas com um enredo impecável. Estão em cena apenas dois protagonistas: o transexual Sabrina Bree e um filho seu, descoberto às vésperas dela fazer sua cirurgia de mudança de sexo. É essa descoberta que fará Bree buscá-lo no reformatório em que se encontra preso, em Nova Iorque.  Seu intuito é se livrar do filho: entregá-lo à avó e ao pai adotivo sem que ele sequer suspeite de que Bree é, na verdade, Stanley Osbourne, seu verdadeiro pai. O desejo de Toby, é ...

Fecha-se um diário

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Por Pedro Fernandes Pintura de José Santa-Bárbara para Memorial do convento A coluna chamou-se Diário de bordo . O propósito dela não sei se chegou a ser atingido. Descobri com ela que sou - não pouco, mas muito - displicente com essa história de escrever sob encomenda e sobretudo sob obrigação. Posso mesmo afirmar com todas as letras que não sirvo para isso e que sou totalmente irresponsável. Talvez se algum dia vier a ter alguma coluna num jornal eu aprenda a lidar com isso. Mas, desde já, que fique claro: sofrerei um tanto. O nome diário acabou sendo aqui totalmente violado porque não foi uma escrita diária (e eu bem que alertei já no primeiro post da série) o que se fez durante o período em que estava escrevendo minha dissertação de mestrado. O resultado, entretanto, está pronto e, dentro em breve, espero que ele renda ainda mais. Defendido no último dia 16 de março, o texto, ora intitulado Retratos para a construção da identidade feminina na prosa de...

Sophia de Mello Breyner Andresen: quando começou a escrever e o que escreveu

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Sophia na casa da Travessa das Mónicas, 1964. Fotografia de Eduardo Gageiro. Fonte: Site Sophia de Mello Breyner Andresen da Bilioteca Nacional de Portugal. "Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite. (...)" Este excerto é considerado o primeiro poema escrito da portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen. Foi encontrado no seu espólio quando entregue para a Biblioteca Nacional de Portugal. A poeta é um dos mais importantes nomes femininos para a literatura portuguesa contemporânea. De descendência dinamarquesa pelo lado paterno, Sophia nasceu na cidade do Porto, em 1919. E daí, parte para viver em Lisboa onde passa toda sua infância e adolescência. Na capital portuguesa veio cursar Filologia Clássica, curso que não chegou a findar; foi em Lisboa que também fixou residência depois do c...