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Carlos Drummond de Andrade, o tradutor

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Outro dia comentamos neste blog que a Cosac Naify iria trazer a lume uma face um tanto quanto inédita do poeta de (mais de) sete faces. Pois bem, saiu em nota no blog da editora a chamada de lançamento para  Poesia traduzida . Trata-se de uma antologia reunindo poemas de diversos poetas traduzidos pelo poeta maior. Júlio Castañon Guimarães, que é o organizador da obra, conta que, ainda na década de 1950, o próprio Carlos Drummond de Andrade havia chegado a pensar em reunir suas traduções de poesia numa edição em livro, mas, o que sabemos, não aconteceu. Sabemos também que seu trabalho como tradutor é notório. O poeta traduziu vários livros de prosa (como o A fugitiva , o sexto volume de Em busca do tempo perdido , de Proust), teatro e - conta Júlio - até um livro sobre pássaros. Segundo o organizador da edição, o trabalho de reunir as traduções dos poemas foi uma iniciativa de Augusto Massi. E os dois entraram nessa empreitada à cata dos materiais em jornais...

Lembrar a obra poética de Diva Cunha

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Por Pedro Fernandes Demorou, mas demorou o tempo necessário. Julho de 2011 era o mês adequado para que viesse online a terceira edição do caderno-revista 7faces . Sabemos, entretanto, que o mês foi ocupado com a programação de outro lançamento: o da edição especial sobre e poesia de José Saramago. Esta edição especial é que seria lançada em junho para que em julho a terceira pudesse enfim aparecer. Não deu. As ideias minhas vão aparecendo umas sucessivas às outras, como metástase. Foi quando soube do lançamento da primeira edição da Cruviana que me veio interesse de firmar parceria com seu organizador e fazermos uma sessão física e conjunta de lançamentos. Quem nos acompanha viu que deu mais que certo. Vieram a lume duas edições literárias de fôlego.  Impossibilitado de ocorrer lançamento em julho que seja estipulado, então, o mês seguinte para tal. Também não deu. Apesar dos trabalhos já irem um tanto quanto adiantados, agosto não nos daria o gosto de ver a terc...

Miacontear - O dono do cão do homem

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Antes de adentrar na narrativa de “O dono do cão do homem”, temos, obrigatoriamente, de reparar o jogo semântico elaborado a partir de seu título. O substantivo cão adquire uma dupla via de sentido no mínimo. Ao passo que sugere ser o cão aquele que tem um dono (o homem) sugere ser o homem aquele que tem um dono (o cão). Ao mesmo tempo, tomada esta sentença, pode se referir a uma vida difícil  (vida de cão) na posição do cão de domesticador do homem. E esse jogo de sentido dará conta do que propõe a narrativa.  Observando certamente a proliferação de mimos do homem para com os cães, mal notadamente do século: os cães como elemento que suprem a carência afetiva da qual padece o homem contemporâneo, cada vez mais isolado, vivendo mundos fechados à convivência em grupo, Mia Couto elabora um texto em que a posição de domesticação do animal é invertida e quem agora é domesticado é o homem em relação às criaturas de quatro patas.  Bo...

Melancolia, de Lars Von Trier

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Por Pedro Fernandes Cena do prólogo de Melancolia . O filme de Von Trier se dá no cruzamento de duas histórias. O quase estaticismo dos movimentos das imagens no prólogo - são para o expectador como como sonhos, delírios, que resumem o que vem a seguir. O primeiro filme do diretor Lars Von Trier que tive oportunidade de assistir foi Dogville ; o filme que se apropriou da técnica cenográfica brechtiana e mostrou ao cinema uma forma outra de se fazer filmes conceituais. Agora, em 2011, tenho oportunidade de ver Melancolia . E assim como me surpreendi com aquela incorporação teatral no cinema, agora me surpreendo com a incorporação do lirismo poético para a sétima arte. Não apenas pelas sequências das cenas do prólogo. (Aliás, está aí outro elemento literário mostrado na produção de Von Trier: Melancolia retoma o que foi feito em Dogville , o recurso da divisão da película em prólogo e capítulos.) Mas pela composição inteira do filme – perfeitamente invadida de imagens q...

Lançamento de "Ciclópico olho", de Horácio Costa

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Quando eu finalizava a edição especial do caderno-revista 7faces publicada em julho passado sobre e obra poética de José Saramago, me veio a ideia de organizar um encarte para acompanhar a revista. O encarte seria composto de um ensaio que escrevi a partir das notas de um curso que ministrei em Assu sobre José Saramago. E foi já no fim de elaboração deste encarte que me veio outra ideia: acrescer outras novidades ao material. É aí que entra um conto formatado por João Domingos de Brito e enviado ainda logo no período em que foi lançada a proposta de organização da edição especial. Como essa produção acabou sendo por metástase, junto com esse material entra também o interesse por contatar o professor Horácio Costa para uma entrevista. No foco, a obra poética de José Saramago. Não só porque esse era o tema central dessa edição do caderno-revista como também foi o professor quem primeiro atentou para a primeira parte da obra literária do Prêmio Nobel da Literatura, parte, aliás, ...

Ouvir “Os Lusíadas”

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Que Os Lusíadas é um dos pesadelos dos estudantes de Letras é fato. Não deveria ser, afinal, está fazendo um curso que lida, sobretudo, com leitura, as leituras “difíceis” ou “herméticas” deveriam se constituir em desafios como quaisquer outros que estudantes de outras áreas tenham de passar. Penso aqui, o que seria dos engenheiros ou dos médicos se não tivessem a amargura de estudar cálculo, para os do primeiro grupo, ou anatomia, por exemplo, para os do segundo grupo. Logo, me parece um certo vício ou por que não preguiça em deixar que o texto lhe vença e seja, antes de lido, taxado como inoportuno. Vou citar para efeito um meu masoquismo literário. A obra literária só me instiga quando se apresenta para mim como um desafio maior até do que a minha existência. Foi assim que adquiri fôlego para ler Os Lusíadas , Grande Sertão: Veredas , Dom Quixote , para ficar em três obras de grande desafio para os que querem lê-las. Foi assim que me decidi por estudar José Saramago. Já co...