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Rubens Figueiredo

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Ele foi o ganhador da última edição do Prêmio Portugal Telecom. E é hoje um dos escritores mais promissores da literatura brasileira atual. Mais conhecido como tradutor,  um dos melhores do seleto grupo de brasileiros que têm povoado nossas livrarias com excelentes traduções diretas do russo para o português, tendo traduzido obras de referência como  Infância e  Minhas universidades  de Maksim Górki;  O assassinato e outras histórias  de Antón Tchekhov,  Pais e filhos , de Ivan Turguêniev,  Anna Karenina  e  Guerra e paz , de Tolstói - todos publicados pela Cosac Naify.   Esse trabalho de tradução não se restringe aos russos. Da sua mão já saíram para o português autores como Paul Auster, Philip Roth, Martin Amis, Nathaniel Philbrick, Susan Sontag, Alberto Manguel, V. S. Naipaul, Cornell Woolrich, Saul Bellow, Colm Tóibín, Raymond Carver,  entre outros, constando uma versatilidade na língua inglesa e espanhola....

Afinal, quem são os bandidos?

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Faz certo tempo que tenho me afastado de falar de certas querelas políticas. Não sei a razão. Talvez minha capacidade de se indignar esteja acabando e eu me transformando em mais um em cima do muro. Aliás, está em cima do muro virou um estado permanente no Brasil. Por aqui de tudo se faz. Nos pisoteiam até dá no coro. Esfolam. Sangramos. E calados permanecemos. Como se tudo o que nos fazem fosse isso mesmo o que tem de ser feito. Aquele comodismo cristão de que as coisas são o que são porque Deus quer, se transformou em as coisas são o que são porque não temos como mudar. Essa famigerada consciência de classes que criamos chegou por aqui, como muitas das invenções que chegam do outro lado do Atlântico, com o sentido deturpado. Aprendemos que existem duas classes – a dos que mandam e a dos que obedecem; a dos que dizem como as coisas têm de ser e a dos que concordam. Do lado de lá, Estado, Igreja e Mídia, juntos numa móia, com seus discursos unilateralistas; do lado de cá, nós, N...

O palhaço, de Selton Mello

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Primeiro devo dizer que fui ao cinema com os dois pés (de desconfiança) atrás. A recente experiência de Selton Mello para a TV como faz-tudo no seriado desastroso A mulher invisível não é, diga-se de passagem, bom tom para ir ver um filme no qual ele, também faz-tudo, possa ter um desempenho considerável. Ledo engano. A princípio o filme não quer nos convencer porque nos deixa muito sem saber a que veio. Talvez por isso seja um filme que tem seu brilho: vai nos convencendo – aos poucos – pelo riso e pela emoção, duas pontas distintas e aí tão bem interligadas. O filme possui um enredo simples, no entanto, muito bem trabalhado. Gira em torno da vivência de um palhaço, o Pangaré, filho do dono do circo, o Circo Esperança. Nome sugestivo esse para um circo que está – como todos os circos – à beira da falência. Aliás, Benjamim, é esse o nome da personagem Pangaré, sequer está convencido de qual a razão ou se é mesmo para ser palhaço, como o pai, a sua profissão, afinal, ...

Dois irmãos, de Milton Hatoum

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Por Pedro Fernandes Este não é o primeiro romance do escritor Milton Hatoum. O primeiro é  Relato de um certo Oriente , publicado em 1989 e logo vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance daquele ano. Dois irmãos é o segundo e é tão premiado quanto o primeiro: mereceu outro Jabuti e já figura até o presente em mais de oito diferentes idiomas. É este romance minha porta de entrada pela literatura do autor. Já havia lido – numa das tantas idas às livrarias – alguns contos esparsos da antologia  A cidade ilhada  (Companhia das Letras, 2009) e, claro, como já notifiquei noutras ocasiões, alguns ensaios escritos pelo Hatoum para a extinta revista  EntreLivros .  Não precisa dizer – mas vou mesmo assim fazer isso – que este romance me fisgou ponta a ponta. E há algumas razões que devo citar nestas notas. Primeiro, e isso deve ser uma observação corriqueira entre os críticos, é que Hatoum não é, à princípio, influenciado por dois modismos ...

Miacontear - O menino que escrevia versos

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Por Pedro Fernandes O protagonista no conto  “O menino que escrevia versos”  bem poderia ser o último exemplar daquelas criaturas que viviam de fazer arte e que em seguida foram sendo transmutadas para outro universo que não o dos humanos no conto “A infinita fiadeira”, outra passagem de O fio das missangas .  Acontece que o menino parece ter sido salvo antes do tempo de receber tal condenação. Retomando o tema da “função” ou “utilidade” da arte na sociedade contemporânea, no caso aqui específico da poesia, Mia Couto engendra a história de um menino dado a fazer versos e que tem, por isso, a reprovação do pai e o cuidado exacerbado da mãe.  Uma vez preocupados com o “mal” do menino, os pais levam-no ao médico e requerem urgência no tratamento do caso. Os pais sinalizam, evidentemente, o modelo dessa sociedade para a qual a inclinação (muitas vezes nata) para a expressão artística é um problema a ser contornado, desviado, uma vez que agora...

Epitáfios

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“Gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou.” A sentença descarnada é de um narrador bem conhecido da literatura brasileira, Brás Cubas, o homem que, do interior da sua lápide fabula suas memórias; e, porque escritas do além-vida, póstumas. É possível que o fio irônico que a sustenta não deixe de oferecer uma razão muito própria e séria; há no epitáfio qualquer coisa desse interesse universal e humano pela eternidade. E se só dado a alguns, uma perduração do nosso egoísmo.   A celebração do dia dos mortos parece ser um ato útil por duas razões: reencontrarmo-nos como a ideia de que nossa vida não é eterna e fazer manter viva a memória do morto, que será esta a única eternidade que dispomos. Se fosse dar vazão a estes dois motivos eles se ampliariam e teríamos aqui um texto semiacadêmico pensando sobre a questão. O que não é nossa intenç...