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A costa dos murmúrios, de Lídia Jorge

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Por Pedro Fernandes Não dá para reduzir esse livro a determinados rótulos, como os de romance pós-colonial ou romance denúncia ou ainda romance acerca da condição feminina. Ele é isso, mas não somente. Figura entre os da produção literária da portuguesa Lídia Jorge como o mais conhecido; tanto que chegou a ser adaptado para o cinema pela Margarida Cardoso. Seu enredo de construção fragmentária e com variações no tom da narrativa - ora em primeira, ora em terceira pessoa - A costa dos murmúrios reduz-se já no texto-conto que lhe abre sugestivamente intitulado por "Gafanhotos" e com epígrafe do poeta e jornalista moçambicano Álvaro Sabino. Em "Gafanhotos", que narra o casamento de Evita, somos apresentados ao cenário e às personagens principais do romance. É também nesse introito que se instala a atmosfera paralisada que se mantém no decorrer da narrativa. É do Stella Maris, um hotel de luxo de Beira, Moçambique, onde se dá toda a trama. Desde então,...

O currículo do vampiro

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Por Miguel U. Nosferatu , de Friedrich Murnau, 1922. Embora sejam medíocres e suas protagonistas insossas pareçam anêmicos veganos com constipação vital, o sucesso da tetralogia Crepúsculo dá conta do excelente estado de saúde das histórias de vampiros entre o grande público. Viva Deus que ao menos apareçam em meu banheiro formas de vida mais intimidadoras que Robert Pattison! E as expressões de Kristen Stewart que transmitem a mesma comoção que o lábio superior de José María Aznar? Crepúsculo não só nos lembra que o vampiro segue vivinho e chafurdando em nossa cultura, por assim dizer como nos diz muito sobre suas múltiplas facetas e sua capacidade para reciclar-se continuamente, adaptando-se aos tempos e conservando seu poder de sedução. Para continuar com os exemplos cinematográficos recentes, quanta diferença encontramos entre os ídolos da massa teenager e os monstros meio silvestres com garras e caninos podres de 30 dias de escuridão ou os viciados chupa-sa...

José Régio

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Por Pedro Fernandes Já um tempo ouvi  "Cântico negro" pela voz de Maria Betânia. O poema é de José Régio. Escritor co-fundador de uma revista batizada de presença , ainda em 1927. O periódico acabou por ser, não apenas o nome de uma revista, mas de uma fase do período modernista português que havia brotado com os seus precursores Álvaro de Campos (o poeta das Odes ), Almada Negreiros e Mário de Sá-Carneiro, autores de Orpheu , outra revista literária de curta de vida e longa balbúrdia no meio intelectual lisboeta. Nascido na Vila do Conde, distrito do Porto, José Régio, foi mais que poeta, de profissão regular, foi professor; ainda na escrita foi romancista, crítico literário, dramaturgo, ensaísta... e teve sua trajetória pelas artes plásticas... compondo-se "uma das mais lúcidas consciências literárias de seu tempo", definido por Isabel Cadete Novais, uma das coordenadoras do Centro de Estudos Regianos. Indagado a definir seu estilo, o autor de Po...

BBB: fornicar é preciso, mas cuidado com teu cajado

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Por Pedro Fernandes O caso não é novo. Mas, ainda está no assunto do populacho, na boca dos usuários de semi-cérebro que, já impossíveis de pensar, crer que tudo o que lhe serve, desde um enlatado de qualidade não registrada até qualquer outro subelemento nacional é programa de primeira classe. Perdoem-me, os semi-cérebros, se ainda conseguem se indignar por tratá-los assim. Aliás, perdoem-me não. Se vocês não são condicionados a pensar, eu ainda, não também com pouca massa encefálica, meto-me onde não sou chamado – e a propósito nem quero que me chame mesmo – e digo o que não devo dizer. Minha função é, com a palavra, ser um balde de água fria. Há dois dias estive lendo o que anda se passando na nova redoma de silvícolas que está sendo exibida pela 12ª vez. Quem diria. Só mesmo num país de semi-cérebros para a frivolidade ocupar alguns meses de uma grande emissora de TV por longos 12 anos. Já repararam o que isso significa. Significa que teve neguinho sendo gerado enquan...

Autores consagrados

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Por Pedro Fernandes Num texto para o blog Papeles Perdidos, Maria Inés Amado, a partir de uma leitura para o Babelia da escritora argentina Leila Guerriero, reflete acerca do termo e busca para si algumas definições, mesmo sabendo que é essa categoria tem sentido escorregadio e, logo, é contraditória. O que seria, então, um escritor consagrado? Pergunta-se. “Alguém com grande prestígio e um grupo infinito de leitores? Alguém que, mais que leitores, têm devotos? Alguém que capturou as angústias de toda uma geração e soube traduzi-las numa obra? Alguém que é produto de uma estratégia de marketing editorial? Tudo isso, mais que isso ou nada disso?” Eis aí pano para a discussão. Sim, porque haverá os que enquadram em todas as categorias e aqueles que nunca sequer pensaram nelas para se tornarem consagrados. Enrique Vila-Matas, em texto para o referido Babelia e indicado por Maria Inés, intitulado “Fracasa otra vez”, relembra de quando foi convidado para participar de um con...

Jorge Amado para videogame

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Levar literatura a todos cantos é sim uma alternativa para conquistar leitores. Pensando nisso é que falo de algo que descobri na web por esses dias, além do aplicativo para iPhone que permite o usuário ter contato com poemas de poetas clássicos e contemporâneos: é uma prévia de uma série de jogos para videogame inspirados no livro Capitães da areia . Esse romance de Jorge Amado já teve sua adaptação para o cinema e agora essa nova ideia é, certamente, algo, no mínimo, inusitado. A proposta é do selo Porreta Games que já disponibilizou os jogos no seu site e dos sete jogos, um está disponibilizado no Facebook , onde o jogador se depara com uma Salvador da década de 1930, cenário da trama romanesca e tem de enfrentar missões para sobreviver nas ruas e pode, ao modo de outros muitos jogos disponíveis na rede social, convidar amigos a fazer parte de sua gangue.  Os sete jogos - Boêmia, Dora, Carrossel, Caça-palavras, Capoeira, Social Capitães da Areia e um de realidad...