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Ilustrações de Édouard Manet para Allan Poe

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Egar Allan Poe em desenho de Édouard Manet Edgar Allan Poe terá sido o vício da admiração para muitos grandes escritores: cá, no Brasil, sabemos do apreço de Machado de Assis e Haroldo de Campos que resolveram fazer uma tradução d’ O corvo ; em Portugal ninguém menos que Fernando Pessoa; na França, Baudelaire e Mallarmé se apaixonaram por sua obra assim que a conheceram. No caso do segundo poeta, ele trabalhou quase uma década dedicado à tarefa de traduzir os versos do americano, que foram sendo publicados esparsamente na imprensa francesa e, por fim, organizados num livro que teve desenhos, retratos e vinhetas de Édouard Manet, no final do século XIX. As ilustrações, além de serem as primeiras da relação Mallarmé-Manet, que em 1887, publicariam “L'aprés-midi d'un faune”, poema do poeta francês ilustrado pelo artista, inauguraram uma nova expressão pictural e poética na poesia de vanguarda moderna, que surgia cheia de reinvenções propondo misturar-se a elementos...

Aqui embaixo, de Jean-Pierre Denis

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Por Pedro Fernandes A que nível de cegueira alguém pode ser reduzido quando desenvolve por alguém uma paixão sem limites? Boa parte ou se não todo mundo haverá de concordar que não há níveis, que há paixões incondicionais. Talvez seja sobre esses limites incapazes de precisar na maioria dos casos do tipo o mote para este drama histórico de Jean-Pierre Denis. Num retorno ao fim de 1943, durante a ocupação nazista na França, fato da Segunda Guerra Mundial, o diretor francês recupera a história entre a Irmã Luce, religiosa e enfermeira no hospital de Périgueux, e o capelão Martial. Ela desenvolve uma fé plena na igreja católica desde a infância; o apego ao padre da região, entretanto, demonstrado logo no início do filme parece sinalizar que a fé tem seus mistérios insondáveis, uma vez que essa devoção e apego serão, futuramente transferidos para Cristo, no voto que faz ao se tornar freira de reputação inabalável na congregação, mas logo desviados para a figura do capelão. ...

III Encontro dos Escritores da Língua Portuguesa de Natal (EELP)

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Eduardo Lourenço Este ano, o  Encontro dos Escritores da Língua Portuguesa de Natal (EELP) acontece de   15 a 17 de outubro de 2012, no Teatro Alberto Maranhão, no bairro histórico da Ribeira em Natal/RN e na Academia Norte-Riograndense de Letras. A iniciativa é da União das Cidades Capitais Luso-Afro (UCCLA), com o apoio da Prefeitura do Natal, por meio da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte) e da Academia Norte-Riograndense de Letras. O evento já se realiza desde 2010, quando teve sua primeira edição no mesmo local em que será sediado este ano. O segundo Encontro, que ocorreu ano passado, foi sediado na Academia Norte-Riograndense de Letras. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas on-line ( aqui ) ou presencialmente na Funcarte,  situada à avenida Câmara Cascudo, 434, Cidade Alta. A programação deste ano é marcada por vários pontos altos como as presenças de escritores como Eduardo Lourenço, Inês Pedrosa e o moçambican...

Diagramas do humano constelam Ceará Mirim

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Por Márcio de Lima Dantas   Uma assinatura escritural Walter Benjamin, no ensaio “A imagem de Marcel Proust”, relembra que todas as grandes obras literárias ou inauguram um gênero ou o ultrapassam. Esse caráter de excepcionalidade de um texto adequa-se muito bem a um nosso arremedo de classificação dos textos que compõem o livro O Céu do Ceará-Mirim . Tal fusão de gêneros diversos já havia se manifestada no livro O Spleen de Natal , no qual poucas vezes a linguagem advinda do jornalismo, tradicionalmente vinculada à função referencial da linguagem, adquiriu, por meio de vários artifícios estilísticos, uma dimensão estética consubstanciada em uma dicção que ostensivamente (e naturalmente) faz irromper a função poética da linguagem, que, em certas passagens de alguns capítulos, passa a ser a dominante. Com efeito, aqui neste livro, é quase impossível não detectar um modo pertencente ao sistema literário: memorialística, crônica, poesia, autobiografia, confissões, ou refle...

Aliyah, de Élie Wajeman

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Por Pedro Fernandes Quem nunca terá sido tomado pela ideia do fracasso e que as coisas não se passam bem em determinado lugar e que o futuro é bem longe de tudo? Todos já terão, em algum momento das suas vidas, dito a singular frase de que gostaria mesmo de está numa ilha, onde não pudesse ser visto por ninguém, num total anonimato. O sentimento existencialista que, em sua boa parte, não provoca outra reação se não a de permanecer onde estamos e, o muito que fizermos, será ir a uma festa, ler um livro, ver um filme para supri-lo, ganha motivação quando, externamente, a sua situação não é tão desajustada quando o sentido de pertença. Noutros casos não há necessidade nenhuma de ter crise de pertença, é sim, a tal situação externa que lhe obriga uma tomada de rumo. Em Aliyah , Élie Wajeman explora minuciosamente o último caso colocando em cena a personagem de Alex, um jovem parisiense de 27 anos que, sentindo-se inútil com a vida que leva, decide, depois de uma conversa com...

António Nobre

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António Nobre em Nova York. Foto de 1897. Não é desconhecida a relação que Florbela Espanca estabelece com a poesia de António Nobre. O reconhecido poeta português que se assume uma das vozes mais singulares da literatura em Portugal no seu tempo vive agora numa condição interessante: é, muitas vezes, pela obra da poeta esquecida no seu tempo que muitos chegam a Anto.  Em algum momento, e isso está na sua obra com todo trago de sinceridade ainda dominante na poesia herdada dos poderes do romantismo, ela diz se sentir fortemente levada pela capacidade poética de Nobre e não negaria em certa autocrítica  uma incapacidade sua em tornar-se poeta, diante do fenômeno de Só , a única obra que os dois viram publicada.  Só foi publicado em Paris, para onde foi morar depois de iniciar uma incursão literária em seu país; foi na Cidade Luz onde concluiu o curso de Direito. E foi, certamente, entre a variedade de sentimentos do sujeito fora de seu lugar que se viu preso nas...