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A culpa como tema na literatura

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Por Pedro Fernandes Cena de Raskolnikov , de Robert Wine, 1993. O filme é uma adaptação de Crime e castigo , clássico da culpa na literatura. Haverá, sem dúvidas, muitas obras literárias que deram enforme artístico à culpa – sentimento em voga já na literatura bíblica, por exemplo. Longe de querer esgotar o assunto ou mesmo me deter profundamente sobre o caso, quero, ainda que superficialmente, registrar esse tema como um dos mais promissores nas artes. Dois autores, no rol dos que já tive oportunidade de ler colocaram no seu extremo de obras esse sentimento: José Saramago e Dostoiévski. Do primeiro, cito o seu O evangelho segundo Jesus Cristo e, do segundo Crime e castigo , para não esquecer dois principais trabalhos que, no âmbito da produção dos dois autores, são obras principais e, no âmbito universal, são obras clássicas. N O evangelho , a culpa é manifestada pela via oposta, ou o lugar contrário do que esperaríamos; não será Deus, o topo poderoso e c...

Americano, de Mathieu Demy

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Por Pedro Fernandes Às vezes achamos que há talento de sobra numa única pessoa, enquanto outras, coitadas, não têm recurso sequer para inventar a própria assinatura. Mathieu Demy é um exemplo do primeiro grupo. Quando assisti a este Americano sabia que ele era o ator principal do filme, mas, perdoe-me as circunstâncias e o tempo, só dei a conhecer que é também o diretor, quando fui fazer algumas pesquisas na web sobre sua pessoa. Evidente que todo seu talento nasce da convivência e da educação que recebeu, afinal ele é filho de ninguém menos que Jacques Demy e Adgnès Varda, dois importantes nomes da cinematografia francesa e foi nos trabalhos dos pais em que Demy apareceu pela primeira vez. Americano é seu primeiro trabalho na direção. Duplo trabalho, na verdade, que agora já sabemos, a personagem principal, que domina integralmente as cenas de toda a narrativa, é também o próprio Mathieu. A personagem por ele vivida é Martin, que recebe, logo no início da trama, o comu...

A crise do impresso

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Os que me acompanham noutros espaços que não apenas este blog terão já lido que tem meu aplauso o jornal que vai à falência quando ele próprio é responsável pela desgraça. Alguns não entenderão a sentença. E digo mesmo que, se o jornal, o objeto, falasse, não entenderia o que está em questão com esse riso aparentemente sacana. Mas, não estranhem, tenderei me explicar nesse breve texto, mesmo achando que não devo. Sentenças boas são as que ao se desembaraçarem suscitam um debate mais extenso. O retorno à sentença terá um propósito mais que aclarar; ela volta porque ontem fomos surpreendidos, e nem devíamos, com a notícia de que o Diário de Natal , um dos jornais mais tradicionais do Rio Grande Norte, não irá mais circular; pelo menos no formato impresso. Os leitores que quiserem ainda acompanhá-lo terão de fazer isso através da internet. A morte do Diário impresso não é fruto meramente de uma crise do impresso ou uma total valorização que os sujeitos têm dado ao virtual como ...

As ilustrações de J R R Tolkien para O Hobbit

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Semana passada, postamos  na fan page do Letras in.verso e re.verso no Facebook , o segundo trailer para O Hobbit , que já tem data de estreia marcada, 14 de dezembro. O filme é o primeiro de uma trilogia descoberta pelo diretor Peter Jackson, ainda quando estava no trabalho de montagem; as aventuras de Bilbo Bolseiro irão até 2014, para quando está previsto o lançamento do último filme da saga. A segunda parte deverá sair em fins de 2013. O filme é baseado no romance homônimo de J. R. R. Tolkien, publicado em setembro de 1937. Mas, o manuscrito foi entregue ao seu editor ainda em outubro do ano anterior. A primeira publicação veio com mais ou menos 20 desenhos inéditos, dois mapas e uma pintura confeccionados pelo próprio Tolkien. Essa mostra não passou disso, amostra, mas o autor criou mais de 100 ilustrações que só começaram a ser descobertas recentemente conforme atesta matéria publicada no The Guardian . O achado veio dos papéis que compõem o espólio do escritor enquanto...

Na estrada, de Walter Salles

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Por Pedro Fernandes 1.  Demorou e muito para que o filme chegasse às telas dos cinemas em Natal. Pelo menos um mês depois de quando já havia saído de circulação nos cinemas nacionais e da esperança dos espectadores do lado de cá ver o filme onde deve ser visto. O caso foi motivo de verdadeiro rebuliço nas redes sociais, em alguns blogs e até jornais de grande circulação no Rio Grande do Norte repetiu-se sobre o descaso das redes de exibição para com seus usuários. Foi o momento oportuno para se questionar as motivações que fazem determinadas produções anunciadas, seja nos trailers, seja nos cartazes de corredor e o filme não alcançar a estreia esperada. Enfim, numa tentativa de se corrigir, ou porque já estivesse fácil demais trazer a aclamada produção de Walter Salles, a coisa aconteceu. Quando ninguém esperava lá estava na lista de estreias da semana Na estrada . 2.  O retorno de Walter Salles às telas acontece reafirmando sua boa forma. O filme é bem acertado. ...

Uma garrafa no mar de Gaza, de Thierry Binisti

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Por Pedro Fernandes Se houve uma questão que perpassou boa parte dos filmes franceses exibidos este ano no Festival Varilux de Cinema Francês foi a dos trânsitos identitários e posso, de memória citar, aleatoriamente, o título de alguns desses filmes: Aliyah , Americano , O barco da esperança , Intocáveis , E agora, aonde vamos? , e este Uma garrafa no mar de Gaza . Pode ser que não seja, neste, como em alguns dos outros citados, uma questão central, mas o tema está lá. Aqui, Thierry Binisti, elege a história de um amor impossível tal qual o dos clássicos que nós já conhecemos, mas, a família rival, é substituída pela pátria e, diferentemente do amor à primeira vista, é um amor que se constrói meio pela passagem do tempo a partir de um acaso; isso porque é a partir de uma garrafa lançada ao mar em Israel e encontrada por um grupo de adolescentes na Palestina, desse simples fato, que se instaura o enredo amoroso. Percebo que não foi interesse do cineasta tratar m...