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A confissão da leoa, de Mia Couto

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Por Pedro Fernandes Quem tiver lido o conto “O caçador de ausências” fará uma relação imediata com este A confissão da leoa , o mais recente romance de Mia Couto, publicado aqui no Brasil. Um romance, aliás, com fôlego de conto. Essa constatação é útil para dizer que não estamos diante de um grande romance. A matéria textual ou mesmo a trama se reveste de uma simplicidade extrema e os acontecimentos não tem vigor suficiente para servirem a um propósito mais elastecido como é exigido do romance. Quando o máximo que pode alcançar é o estatuto de novela. Temos a sensação que escritor se beneficia de uma série de procedimentos meramente editoriais que serve ao texto como espuma para enchimento da ideia que o sustenta, que é a de caça a leões que no pequeno vilarejo moçambicano de Kulumani têm feito ataques às pessoas, em particular, às mulheres. O problema de A confissão da leoa , ainda nascido dessa simplicidade extrema, está no próprio formato da narrativa: a história é...

Gonzaga - de pai para filho, de Breno Silveira

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Não seria este, já que estamos no fim do ano e começam já a pipocar as listas do que foi bom ou ruim em 2012, o melhor filme brasileiro do ano; talvez, nem um dos melhores. Digo isso para me despir de um dos lugares-comuns que têm levado multidões, como há muito não se via, aos cinemas para assistir uma produção nacional. Num país que ainda as artes engatinham, sobretudo, no que se refere ao apoio estatal, esse consumo alto de uma história nas telas, é coisa de merecer um aplauso. Mas, esse trabalho de Breno Silveira não deve entrar para o que entendo como cinema arte, muito embora, ele já tenha estado próximo do modelo artístico como em Era uma vez , seu segundo longa-metragem que chegou a ser selecionado para o Festival de Toronto, em 2008. O fato é que ele repete uma fórmula fácil que descobriu ainda em Dois filhos de Francisco , mesmo que pareça ser esta esteira do biográfico o seu lugar ou sua natureza do cineasta. O filme, entretanto, é lançado numa importante data:...

Um regresso com Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago

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Ano passado quando voltei a Pau dos Ferros pela ocasião do II Encontro com escritores e do I Ciclo de Conferências, evento promovido pelo rico projeto Biblioteca Ambulante e Literatura nas Escolas (BALE), eu já estava trabalhando na escrita do meu livro, Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago , lançado em outubro passado. Evidente que o trabalho maior já estava escrito, afinal, esta publicação é fruto do texto que redigi para a conclusão de meu Mestrado em Letras, cursado ao longo dois anos que tive o privilégio de conviver com a intensa movimentação acadêmica que é o Campus Avançado Professora Maria Elisa de Albuquerque Maia, onde retorno sempre com muita satisfação. Digo isso porque, conforme já tenho alardeado pela minha página pessoal no Facebook, estou retornando a este lugar onde fiz grandes amizades e organizei alguns nomes pelos quais guardo zelo e respeito, agora com autor, enfim, para, primeiro, fazer um lançamento do livro e, segundo, ...

Os desenhos de Ana Miranda

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Quem estiver de posse de alguma edição dos romances de Ana Miranda já editados pela Companhia das Letras, irá notar desde a capa, certa excentricidade nos desenhos aí apresentados. E não tardará muito para saber a sua autoria: a própria escritora. Folha de rosto do romance Desmundo com ilustração de Ana Miranda. A capa e as 10 partes que compõem o romance são ilustrados com desenhos da escritora. O traço se beneficia de certa caracterização medieval ou do surrealismo da xilogravura do nordeste; nunca estamos diante de uma figura simples, mas híbrida que mantém um extenso diálogo com a narrativa; em Desmundo , por exemplo, cada uma das 10 partes do romance é indicada por um desenho específico, que, logo vamos percebendo parece cumprir com o trabalho de sugerir ao imaginário do leitor, primeiro, uma expectativa pelo andamento do enredo, segundo, um elo entre as partes, e por fim, constituir uma relação mais própria entre o visual e o verbal. E o que a princípio...

Programação para Hora de Clarice 2012

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Como o Dia D, que em 2012, no seu segundo ano, teve uma extensa programação Brasil afora, a programação do Hora de Clarice 2012, divulgada há pouco pela mentora da ideia, a Editora Rocco, ganhou também dimensão. O Instituto Moreira Salles (IMS) que detém parte do espólio da escritora e que publicou uma rica edição dos seus bem conceituados Cadernos de Literatura Brasileira sobre Clarice, destina outra parte da programação. Todas as celebrações se concentram no próximo dia 10 de dezembro, dia em que Clarice nasceu, em 1920, mas há o que acompanhar dias antes, também. É do IMS, aliás, que vem a maior novidade em torno do dia 10: por esse dia, o Instituto coloca on-line um site especial sobre a escritora. Ao criar a página, o Instituto proporciona um ambiente de pesquisa bastante completo, rigoroso quanto ao mapeamento de informações, que servirá não apenas para estudantes do nível médio, mas também para graduandos, pós-graduandos e admiradores da obra de Clarice. “Há, sobre a...

Décio Pignatari

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Décio Pignatari. Foto: Josane Faleiro Décio Pignatari terá aparecido para muita gente sem nem mesmo que essa gente o tenha conhecido ou lido de ponta a ponta sua obra ou sequer sabido de seus feitos. Pelo menos assim se deu comigo; Décio me apareceu muito antes que eu soubesse quem era Décio. Isso porque, aquele poema “beba coca-cola”, foi reproduzido em tudo quanto foi livro didático, principalmente se do Ensino Médio, quando a questão era falar do movimento concretista. Escrito em 1956, "beba coca-cola" tornou-se um dos poemas mais conhecidos do movimento concretista. Muitos anos depois terei sabido o que é foi o tal movimento: caiu para meu grupo na Faculdade de Letras um seminário sobre. E será da revisão dos slides que preparei por essa ocasião que muitas das informações serão aqui repisadas. O destino, mais tarde, me colocará diante do próprio Décio, com quem fiz um curso por ocasião de uma das edições do Colóquio Barroco, quando o evento sob chan...