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A reedição da monumental A comédia humana, de Balzac

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Honoré de Balzac. Alguns ingênuos poderão dizer que A comédia humana terá sido a obra que colocou, definitivamente, Balzac entre os grandes escritores da literatura universal. É possível. Mas, o escritor francês não terá passado ao panteão apenas por esse feito incompleto, diga-se. Sabemos que sua literatura tem um forte poder de reinvenção do gesto linguístico de representação e significação da realidade a ponto de ser considerado por muitos dos estudos literários como um dos criadores do romance moderno, muito embora tenha passado aos olhos do seu tempo quase ignorado, apesar de alguns sucessos que obteve. A comédia humana é feito incompleto porque quando Balzac morreu, ainda aos 51 anos, o projeto que esperava alcançar os 137 livros só chegou a possuir 89; esses, juntos, somam mais de 10 600 páginas (tomando como contagem a reedição dos 17 volumes projetada pela editora Globo) e mais de 2 500 personagens.  A obra quis ser um inventário da França do século XIX,...

Clarice Lispector e a pintura

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Retrato de Clarice Lispector. Desenho de Ceschiatti, datado de Paris, janeiro de 1947. Em setembro de 2009, o Instituto Moreira Salles (IMS), no Rio de Janeiro, a partir de um conjunto de telas de Clarice Lispector, patentes no acervo da Fundação Casa de Rui Barbosa, realizou uma exposição reunindo 16 telas em guache feitas pela escritora em fins da década de 1970 e princípios da década seguinte. Neste mesmo ano, chegou às livrarias pela Editora da Universidade Federal de Minas Gerais o livro Retratos em Clarice Lispector - literatura, pintura e fotografia , resultado da tese de doutorado em Teoria da Literatura e Literatura Comparada de Ricardo Iannace, defendida na Universidade de São Paulo. Antes, o autor já havia publicado A leitora Clarice Lispector . Ainda, nove anos antes, era publicado em Portugal, pela Universidade do Minho, a tese de doutorado de Carlos Mendes de Sousa, integralmente reeditada e publicada no Brasil este ano, pelo IMS; uma belíssima e capr...

Os Contos reunidos de João Antônio

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Por Pedro Fernandes Este é um autor brasileiro que, para a maioria da público leitor, ainda permanece por conhecer, certamente. Por duas razões: a primeira é o próprio desconhecimento por parte de grande maioria dos brasileiros; a segunda é a grande celebração que o autor tem entre os principais nomes da crítica literária nacional, como Alfredo Bosi, Tânia Macedo...  O próprio Antonio Candido, para citar uma viga-mestra da crítica literária, assim se pronunciou sobre o escritor paulista: “João Antônio faz para as esferas malditas da sociedade urbana o que Guimarães Rosa fez para o mundo do sertão, isto é, elabora uma linguagem que parece brotar espontaneamente do meio em que é usada, mas na verdade se torna língua geral dos homens, por ser fruto de uma estilização eficiente”.  Isso porque a ficção de João Antônio empresta a profundidade da filosofia e da teoria literária aos tipos marginais e os abandonados pela vida que povoam suas histórias; nas suas narrativas atuam...

A confissão da leoa, de Mia Couto

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Por Pedro Fernandes Quem tiver lido o conto “O caçador de ausências” fará uma relação imediata com este A confissão da leoa , o mais recente romance de Mia Couto, publicado aqui no Brasil. Um romance, aliás, com fôlego de conto. Essa constatação é útil para dizer que não estamos diante de um grande romance. A matéria textual ou mesmo a trama se reveste de uma simplicidade extrema e os acontecimentos não tem vigor suficiente para servirem a um propósito mais elastecido como é exigido do romance. Quando o máximo que pode alcançar é o estatuto de novela. Temos a sensação que escritor se beneficia de uma série de procedimentos meramente editoriais que serve ao texto como espuma para enchimento da ideia que o sustenta, que é a de caça a leões que no pequeno vilarejo moçambicano de Kulumani têm feito ataques às pessoas, em particular, às mulheres. O problema de A confissão da leoa , ainda nascido dessa simplicidade extrema, está no próprio formato da narrativa: a história é...

Gonzaga - de pai para filho, de Breno Silveira

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Não seria este, já que estamos no fim do ano e começam já a pipocar as listas do que foi bom ou ruim em 2012, o melhor filme brasileiro do ano; talvez, nem um dos melhores. Digo isso para me despir de um dos lugares-comuns que têm levado multidões, como há muito não se via, aos cinemas para assistir uma produção nacional. Num país que ainda as artes engatinham, sobretudo, no que se refere ao apoio estatal, esse consumo alto de uma história nas telas, é coisa de merecer um aplauso. Mas, esse trabalho de Breno Silveira não deve entrar para o que entendo como cinema arte, muito embora, ele já tenha estado próximo do modelo artístico como em Era uma vez , seu segundo longa-metragem que chegou a ser selecionado para o Festival de Toronto, em 2008. O fato é que ele repete uma fórmula fácil que descobriu ainda em Dois filhos de Francisco , mesmo que pareça ser esta esteira do biográfico o seu lugar ou sua natureza do cineasta. O filme, entretanto, é lançado numa importante data:...

Um regresso com Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago

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Ano passado quando voltei a Pau dos Ferros pela ocasião do II Encontro com escritores e do I Ciclo de Conferências, evento promovido pelo rico projeto Biblioteca Ambulante e Literatura nas Escolas (BALE), eu já estava trabalhando na escrita do meu livro, Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago , lançado em outubro passado. Evidente que o trabalho maior já estava escrito, afinal, esta publicação é fruto do texto que redigi para a conclusão de meu Mestrado em Letras, cursado ao longo dois anos que tive o privilégio de conviver com a intensa movimentação acadêmica que é o Campus Avançado Professora Maria Elisa de Albuquerque Maia, onde retorno sempre com muita satisfação. Digo isso porque, conforme já tenho alardeado pela minha página pessoal no Facebook, estou retornando a este lugar onde fiz grandes amizades e organizei alguns nomes pelos quais guardo zelo e respeito, agora com autor, enfim, para, primeiro, fazer um lançamento do livro e, segundo, ...