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Ronald de Carvalho

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Cândido Portinari. Retrato de Ronald de Carvalho (detalhe), 1929. Exatamente num 15 de fevereiro de 1935, morreu, no Rio de Janeiro, o poeta Ronald de Carvalho. Talvez mais que um poeta, dada sua importância no trânsito diplomático entre Brasil e Portugal, onde passou a viver em 1914, tendo antes passado por Paris, onde estudou Filosofia e Sociologia e onde compôs seu trabalho de estreia, Luz gloriosa , com forte incidência da poesia de Paul Verlaine e Charles Baudelaire. Luz gloriosa foi ofertado, através de Luís de Montalvor, ao poeta Fernando Pessoa, que teceu uma breve apreciação ao livro e conselhos ao Ronald: Luz gloriosa “é dos mais belos que recentemente tenho lido. Digo-lhe isto para que, não me conhecendo, me não julgue posto a severidade sem atenção às do seu livro. Há em sei o com que os poetas fazem. De vez em quando a mão do escultor faz falar as curvas irreais da sua matéria. E então é o seu poema sobre o Cais e a sua impressão do Outono, e este e aquele verso, ca...

Só dez por cento é mentira

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Há várias maneiras sérias de não dizer nada mas só a poesia é verdadeira Manoel de Barros Apresentado no Festival de Cinema do Rio de Janeiro, Só dez por cento é mentira , roteirizado e dirigido por Pedro Cezar, é um original mergulho cinematográfico na biografia inventada e nos versos fantásticos do poeta sulmatogrossense Manoel de Barros. Na sinopse de apresentação do filme – elogiado pela crítica e premiado várias vezes em festivais como II Festival Paulínia de Cinema 2009 e o V Fest Cine Goiânia 2009 – entende-se que seja este um videodocumentário que “ultrapassa as fronteiras convencionais do registro documental. Utiliza uma linguagem visual inventiva, emprega dramaturgia, cria recursos ficcionais e propõe representações gráficas alusivas ao universo extraordinário do poeta”. O filme se constrói alternando sequências de entrevistas inéditas do escritor, versos de sua obra e depoimentos de “leitores contagiados” por sua literatura compondo, des...

Maurice, de James Ivory

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Por Pedro Fernandes O filme é de 1987; é uma adaptação de Maurice , de E. M. Forster e um dos que revelaram para o cinema o ator Hugh Grant, que dividiu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza, no ano seguinte. Talvez seja clichê dizer que estamos diante de uma narrativa sobre os limites do amor, sua existência e a superação deles. Maurice, depois de apresentado por Risley para participar de um dos clubes privados de discussões muito comuns nas universidades europeias de meados do século XIX, se aproxima de Clive Durham. A princípio, os dois desenvolvem uma amizade fora do comum; das amizades em que ambos são capazes de alterar suas rotinas e planos do dia para estarem juntos. A intimidade dos dois chega ao limite de se perceberem que, mais que a amizade, há entre os dois uma natureza variada de sentimentos, como desejo, paixão, amor carnal. Nesse instante instala-se o drama: a atitude de Maurice em assumir seu amor por Clive, o repúdio de Clive e depois a assunção ...

A arte de fazer livros pela Arte & Letra

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Por Pedro Fernandes A chegada dos leitores digitais para e-books e antes disso toda a febre tecnológica em torno dos tablets e ainda antes a moda dos notebooks, tudo do lado eletrônico, aliás, sempre veio precedida de outra febre, a causada pelo medo de que todo o aparato tecnológico pudesse abocanhar o livro de papel e promover, de uma vez por todas o fim do livro. Até a já desacreditada revista Veja chegou a insinuar coisas do tipo com matéria de capa alardeando substituições de modos de leitura da noite para o dia. Tudo alarde mesmo. Naqueles países em que os e-readers e companhia se estabeleceram bem antes de nós, o livro de papel ainda vive muito bem e em alguns casos tem mesmo é se sofisticado, a ponto de, como vinil, se tornar produto de um trabalho da artesania artística. No Brasil, conforme este blog acompanha reiteradas vezes,  já a Cosac Naify, há anos investe nos chamados livros-arte que extrapolam o conceito moderno de leitura aliando-se com a produção de u...

Carnaval e literatura, dá samba?

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Por Pedro Fernandes Vinicius de Moraes, poeta homenageado no Carnaval do Rio de Janeiro. Pode dar. As escolas de samba têm sempre preferido, principalmente nas efemérides, homenagear nomes da literatura na avenida. Ano passado, por exemplo, foi o centenário de Jorge Amado e   a Imperatriz Leopoldinense prestou homenagem ao escritor e sua obra .  Também já foram à avenida nomes como Monteiro Lobato, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade; e obras como Invenção de Orfeu , de Jorge de Lima e  Os Sertões , de Euclides da Cunha. O carnaval de 2013 já está próximo do fim – de hoje até meio-dia de amanhã tudo virará cinzas –, mas é útil lembrar: pelo menos três escritores tiveram sua biografia e sua obra transformada em enredo e em diferentes estados brasileiros. Em Vitória, no Espírito Santo, a Escola de Samba Unidos de Jucutuquara, que é de Cachoeiro do Itapemirim, fez o enredo do desfile com base na vida e obra de Rubem Braga. Celebramos neste ano ...

James Joyce e a explicação de um desenho

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Uma das imagens mais comuns na web quando o assunto da pesquisa é James Joyce é uma em que o escritor aparece com o olho esquerdo coberto por uma bandana preta. Quem tiver lido algumas notas esparsas sobre terá sabido que Joyce teve sérios problemas com visão. Quando ainda tinha seis anos de idade recebeu o seu primeiro conjunto de óculos e, quando ele tinha vinte e cinco anos, veio o primeiro caso de irite, um tipo de inflamação muito dolorosa que ocorre na região do olho responsável pela decomposição das cores, a íris. Católico, o nascimento da sua filha foi oportunidade para que a santa dos olhos fosse homenageada e ela foi batizada com o nome de Lucia. Sem milagres, Joyce teve de suportar uma série horrenda de cirurgias e tratamentos não apenas para olho esquerdo, mas também para o direito, incluindo a remoção de partes da íris, aplicação de sanguessugas diretamente no olho para remoção de líquidos e até mesmo a retirada de todos os seus dentes pela teoria de que sua i...