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A arte de ilustrar Guimarães Rosa por Poty

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Poty Lazarotto. Foto: Arquivo Casa da Memória Tem já 57 anos da primeira edição de Grande Sertão: Veredas , de Guimarães Rosa. Na ocasião, o editor José Olympio convidou o artista plástico Poty Lazarotto para compor a capa e ilustrações para o romance. Mas até que o convite fosse feito, já no auge do seu trabalho, foi longo o seu itinerário artístico. Filho dos italianos Isaac Lazzarotto e Julia Tortato Lazzarotto, o interesse pelo desenho começou ainda quando criança. Ao perder um dos braços, o seu pai abriu um restaurante em Curitiba que foi muito frequentado por importantes figuras paranaenses. Várias horas do dia Poty ajudava o seu pai na feitura de peças de alumínio que eram modeladas em quadros da Santa Ceia – o trabalho era para complementar a renda da família. Foi um encontro com o governador do Paraná que numa visita ao restaurante, ainda em 1942, percebeu o talento do menino e lhe deu uma bolsa de estudos na Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro. Ant...

As cartas entre F. Scott Fitzgerald e a filha

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Alguns filhos de escritores, talvez de tanto estarem entre papeis e livros, se debandam para a mesma profissão do pai; outros têm uma relação mais complexa – sofrem da ausência paterna, afinal, que os escritores são pessoas normais, sim, são, mas o que todos têm em comum é seu mundo paralelo, onde se isola do mundo para a escrita. O gesto de escrever está associado na maioria das vezes a este fechamento; é necessário afastar-se do agito das multidões e enfrentar seus diabos interiores, à torto e à direito, para se querer produzir alguma coisa que valha. Recentemente, Ana Miranda, romancista brasileira, falou desse processo para um programa na SESC TV. E o depoimento dela se confunde com isso que dissemos e se confunde com o sentimento de muitos outros que têm na escrita a labuta pelo trabalho. Há ainda os casos mais complexos: além do ‘abandono’ os filhos de escritores padecem um tanto dos altos e baixos dos pais. O texto a seguir é uma tradução livre de "Com todo su dolor papá ...

Boletim Letras 360º #11

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Semana intensa. Por aqui, depois de findar a leitura de nosso reino iniciamos o remorso de baltazar serapião , de Valter Hugo Mãe. Isso porque vamos escrever um conjunto de notas críticas para cada um dos romances do escritor português mais a coletânea de poemas mil e setenta e um poemas , editado pela Thesaurus Editora, compondo um itinerário em torno da sua literatura. Parte disso, sairá aqui. Mas, essa revelação tem o tom do convite. Quão bacana seria que os nossos leitores também fossem na mesma rota compondo esse itinerário conosco! Teríamos coisas de sobra para sublinhar e conversarmos juntos, não acham? A proposta está feita. Agora, deixem que contemos o que foi matéria na nossa página no Facebook e o tempo não permitiu acompanhar. O quarto , de Van Gogh. Uma nova exposição em torno da sua obra revela novas facetas do artista. Segunda-feira, 29/04 >>> Estados Unidos: Charles Bukowski – documentário on-line Os amantes da poesia de Charles Bukowski est...

Todo o Dom Quixote em apenas 3 segundos

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A escultura de quase cinco metros concentra os mais 22 mil vocábulos recortados de um exemplar do Dom Quixote. Você é do grupo que nunca teve tempo e nem coragem para ler todo o Dom Quixote ? Isso agora não é um problema. Graças às novas tecnologias, somadas com uma boa dose de ironia, é possível escutar a leitura integral da obra mestra de Cervantes em não mais que três segundos. Isso mesmo. Há somente que visitar Erase DE UNA VEZ Don Quijote de La Mancha , uma engenhosa instalação interativa que permite experimentar o clássico da literatura de uma forma que provavelmente haveria encantado ao próprio Cervantes. A instalação, que é uma engenhosa criação dos artistas Diego Agulló e Jorge Ruiz Abánades, em colaboração com Intact Project, estreou no passado 23 de abril em ocasião do Dia Internacional do Livro e dia da morte do escritor espanhol, no Instituto Cervantes de Berlim. E ficará aí até o dia 10 de maio. Apesar de ser uma peça realizada graças às novas tecn...

A longa travessia de Nabokov

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Por Pedro Fernandes Carteira de Identificação para Emigrantes de Vladmir Nabokov Nascido em 22 de abril de 1899, Vladimir Nabokov, autor já há muito conhecido, amado e odiado por uma personagem, amante das borboletas, rico conferencista, inimigo dos clichês e homem de opiniões fortes, é um dos mais reverenciados autores emigrantes desde a época em que Estados Unidos e Rússia eram muito mais que rivais, eram inimigos mortais. Apesar da sua jornada para a aclamação cultural na América servir de signo de esperança para muitos e mesmo aposta na capacidade de respeito entre os povos sem olhar a quem, a ida de Nabokov para os Estados Unidos representou para ele um período de grandes perdas e de profunda tristeza, afinal não se troca de identidade como quem muda de roupa, principalmente porque há aí uma leva de valores afetivos, de pertença cultural, mais forte que qualquer coisa. O fato é que os Estados Unidos serviu ao escritor de ponto de equilíbrio numa vida toda ela nascida so...

No, de Pablo Larraín

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Por Pedro Fernandes O ator Gael García Bernal em cena do filme No, onde vive o publicitário René Saavedra É preciso dizer não. Sempre. Principalmente diante da possibilidade de sair da clausura e por um vulto de liberdade, essa palavra buscada pelo homem desde quando olhou para si e para o outro e reconheceu-se espécie diferente das irracionais. Palavra buscada repentinas vezes desde quando somos colocados sobre as sólidas paredes do poder. O filme de Pablo Larraín, mesmo se referindo a um lugar específico da história chilena – os últimos dias do regime militar de Augusto Pinochet – quer revigorar o sentido se não esquecido por muitos já envolto em brumas de passado que inocentemente acreditamos sem retorno. Sensível ao estranho lugar que hoje respiram as democracias no mundo inteiro, vendidas todas para uma forma de poder ainda mais degradante que o seu poder político, o poder do capital, a palavra que dá título ao filme é também uma convocação a olhar – se não para o escuro ...