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Tudo em excesso é ridículo, o politicamente correto também

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Por Pedro Fernandes Nunca lembro quando foi a primeira vez que me irritei pela tendência mundial do politicamente correto. Mas, vou recuperar uma história que os que me conhecem já terão escutado eu falar a respeito: certa vez, não faz muito tempo, eu tomava meu banho ou fazia alguma coisa no computador, não sei precisar ao certo, ouvi de um grupo de três crianças que brincavam na piscina da casa vizinha onde moro a já conhecida musiquinha do “Atirei o pau no gato”. Uma delas cantou pela letra original – “Atirei o pau no ga-t-o-to/ mas o ga-t-o-to não morreu-reu-reu/ dona Chica-ca admirou-se-se/ do berrô do berrô que o gato deu: - Miau!” Logo em seguida, um dos meninos intervém dizendo que aquela forma de cantar era errada e foi a vez dele fazer a versão adaptada da canção na qual o pobre do animal é privado da surra da dona Chica. Eu fiquei com esse momento na cabeça enquanto pensava comigo mesmo que sempre cantei quando criança a canção pela forma original e nutro desde semp...

A datilógrafa, de Régis Roinsard

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É até onde sei o primeiro longa-metragem de Régis Roinsard, que depois de findar seus estudos na prestigiada Ecole Supérieure d’Études Cinématographiques realizou dois curtas – Les petits-salés e Madame Dron – e muitos clipes musicais e spots publicitários. Com cara de comédia romântica a Hollywood, mas a medida adequada em que o bom do gênero em francês ultrapassa, A datilógrafa é um filme divertidíssimo e muito bem desenhado do ponto de vista da construção narrativa. Embora já desde o princípio se estabeleça um possível desfecho para a trama, Roinsard consegue uma proeza rara no cinema do gênero que é compreender o limite do tempo em que as coisas devem de fato acontecer – sem parecer maçante ou está dilatando o tempo para dizer o óbvio. Para justapor numa comparação com o modelo hollywoodiano de fazer comédia romântica (ainda por cima travestida de drama romântico) permita-me alinhar no mesmo nível o filme que deu o Oscar de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence este ano, O l...

Fernando Pessoa & Ofélia Queiroz – correspondência amorosa completa 1919-1935

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Por Pedro Fernandes Por esses dias comentamos aqui sobre as cartas entre F. Scott Fitzgerald e sua filha; outro dia, fomos às cartas de Charles Darwin; sobre as cartas de Octavio Paz e seu amigo Enrique Krazue; sobre as cartas entre Carlos Drummond de Andrade e muitos intelectuais; e sobre as cartas eróticas de James Joyce a sua mulher; e, como se vê, poderíamos até compor uma coluna aqui (estamos pensando sério sobre) que tivesse esse interesse...   Há algo de extrema importância estar às voltas com esse legado dos escritores – podemos dizer com todo sentido que comporta a palavra – e que, vale determinar aqui: é o fato de ser pelas correspondências que se pode esclarecer muito da vida pessoal do seu autor àqueles que tem na biografia seu campo de realização profissional enquanto pesquisadores. Em muitos casos, a correspondência também possui elementos esclarecedores para determinadas questões da própria obra, afinal, quem disse qu...

Mais que escritor, desenhista Millôr Fernandes

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A escrita de Millôr Fernandes é ainda algo por explorar. Não há dúvidas disso – não apenas pelo fato do pouco interesse que há da parte da academia pela sua literatura como pelo modo de escrita pouco usual do escritor. Apesar de textos mais longos, o escritor deixou uma quantidade enorme de coisas miúdas que levará seu tempo para assentar-se como corpus em algum trabalho da parte da crítica, que seja digno de locar Millôr no seu devido lugar da literatura brasileira. Ou não. Talvez o silêncio da academia ou da crítica no geral seja um aviso. Mas Millôr medíocre? Para dizer que a literatura de Millôr não está de um todo esquecida sei de um pesquisador que está decifrando parte das coisas miúdas do escritor reunidas em A bíblia do caos . E o caos é mesmo uma ordem por se decifrar. Que digam os estudiosos do Livro do desassossego , de Fernando Pessoa, obra de igual caoticidade esmiuçada em leituras e releituras e por mais que se estude, parece que não haverá nunca uma forma d...

Céline

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Conhecido por um livro, mas autor de uma extensa obra que, como se vê pelo apelo introdutório deste texto, é quase toda desconhecida de nós brasileiros. Ainda bem que  Viagem ao fim da noite , sua epifania literária e um dos seus primeiros textos já tem seu tempo que chegou até nós. E já com esse livro lido não seremos de um todo analfabetos numa das obras que mais influenciaram a narrativa contemporânea. Céline nasceu em 1894 em Courbevoie, zona periférica de Paris. Serviu no exército francês em 1912 e esteve na frente dos conflitos da Primeira Guerra Mundial, onde depois de um acidente, produto de uma arriscada missão de reconhecimento a qual muitos recrutas jovens e inexperientes estavam – podemos dizer – condenados, ele foi mandado de volta para casa com uma condecoração no peito e declarado inválido de guerra. Nesse período do entre guerra, Céline casou e divorciou-se. Depois disso, foi enviado para Londres; e Camarões, na África, para trabalhar numa empresa...

Boletim Letras 360º #14

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Semana movimentada na nossa página no Facebook. Alcançamos os 4k seguidores e ultrapassamos a marca e, lógico, ficamos muito felizes com  isso. Estamos preparando muitas novidades para o blog – e todas elas levam em consideração esse reconhecimento que vimos alcançando. É tarefa nossa evoluirmos e melhorar, sempre, a qualidade de nossos serviços. Afinal, mais de 4k gostam de nós e nós gostamos de muito mais. Agora, um giro pelo que foi notícia por lá nesta semana que finda aqui. "Alma de côrno", um dos cinco sonetos inéditos de Fernando Pessoa publicados na Revista Granta  em Portugal. Imagem: Jornal Folha de São Paulo. Segunda-feira, 20/05 >>> Brasil: Texto inédito de Graciliano Ramos volta-se para a questão do cangaço no Nordeste brasileiro Num texto redigido para o jornal Valor , a professora de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo, pesquisadora da obra de Graciliano Ramos e autora de Graciliano Ramos e a novidade: o astrônom...