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Cada homem é uma raça, de Mia Couto

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Por Pedro Fernandes Enfim, tantos anos depois que o escritor moçambicano circula pelo Brasil, não só fisicamente, mas pela sua obra, já há muito editada pela Companhia das Letras, é preenchia uma lacuna na sua produção literária por aqui. É que, mesmo não sendo um leitor assíduo da obra de Mia Couto e mesmo fazendo ressalvas para alguns de seus trabalhos, sobretudo o romance último publicado por aqui, A confissão da leoa ,   tenho acompanhado de perto o crescimento da rede de leitores ou simplesmente admiradores de seu trabalho. É um feito raro para um escritor africano. Há muitos que circulam por aqui e que têm uma expressão literária além da do autor de Terra sonâmbula , mas que não têm a mesma aceitabilidade. Falo isso pensando em nomes como Pepetela e José Craveirinha, dois que trago na minha lista de leituras. Mia Couto, entretanto, terá escolhido uma linha tênue entre a forma estética e a capacidade de se aproximar de questões um tanto mais corriqueiras do dia...

Os mistérios de J. D. Salinger por um triz

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Os que nos acompanham terão lido que está bem próximo o lançamento de um documentário cujo pretexto anunciado é de que, enfim, sejam apresentadas algumas peças do complexo quebra-cabeça que se tornado a misteriosa vida do autor de O apanhador no campo de centeio , um dos livros mais icônicos e controvertidos da literatura estadunidense do século XX . Por que J. D. Salinger viveu durante décadas no silêncio mais absoluto e não deu entrevistas e nem declarações de nenhum gênero? Seguiu escrevendo? De que maneira lhe afetou a II Guerra Mundia? E o fato de que seu romance fora uma obsessão para o assassino de John Lennon ou para John Hinckey Jr. que tentou acabar com a vida do presidente Ronald Reagan em 1981? A biografia The private war of J. D. Salinger (A guerra privada de J. D. Salinger, tradução literal e livro inédito no Brasil) dá respostas a todas essas perguntas. O livro é publicado em Nova York pela mesma ocasião da apresentação do filme de Shane Salerno. Esta é ...

A passagem de Allen Ginsberg pela Índia

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Gary Snyder, Peter Orlovsky e Allen Ginsberg, ao visitar Lama Govinda. Ao fundo os picos do Himalaia. Primavera de 1962. Foto: Arquivo Allen Ginsberg Allen Ginsberg passou oito meses num hospital psiquiátrico porque teve uma visão de William Blake que durou uma semana. Quando ingressou ali levava debaixo do braço um exemplar de Bhagavad Gita , o livro mais importante do hinduísmo. Treze anos mais tarde, William Blake, definitivamente convertido em seu guru, embora já não em forma de alucinação, mas de cartaz, o acompanharia numa viagem de um ano pela Índia que seria compartilhada com sua parceria sentimental de durante três décadas, Peter Orlovski, e, parte dele, com o matrimônio formado pelos poetas Gary Snyder e Joanne Kyger, que então residiam no Japão. Estamos falando de 1961 e 1962, uma época em que a contracultura estava buscando referentes intelectuais e espaços mentais e geográficos para assentar-se. Ginsberg, que pouco antes havia deixado atônitos os melhores cérebro...

Boletim Letras 360º #23

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A vida é um grande rosário de promessas. Não, não estamos  empapados  com a visita do papa ao Brasil – que este espaço é sério, não é de brincar com a razão alheia. É apenas que cumprimos duas promessas esta semana e deve ter restado ainda uma lista quase sem fim para  cumprir-se . Chegaremos lá qualquer dia desses, se não ficarmos pelo caminho ou se a vida não for mesquinha conosco.  Uma das promessas cumpridas foi disponibilizar para os nossos leitores uma nova promoção – oh, já estava na hora! Estão no páreo as duas recentes edições de José Saramago incorporadas ao catálogo da editora do escritor no Brasil. E a outra novidade, bem, a outra, vocês ficarão sabedores no correr do boletim e em nossa página do Facebook. Nova nota de 10 libras que terá rosto de Jane Austen Segunda-feira, 22/07 >>> Brasil: Textos de Machado de Assis, João do Rio e outros podem ser lidos em celulares e tablets A editora carioca Mórula lançou uma coleção voltada ...

Crônica de um leitor de O jogo da amarelinha (3)

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por Juan Cruz Ruíz Há gente que pergunta a idade dos livros e decide, em função dos anos, o que acontece com eles, ou o que deve acontecer, até quando durou ou até quando devem durar. Quando decidem que os livros estão envelhecidos porque tem anos suficientes cometem o mesmo erro de que quando  não os escolhem porque são demasiado jovens. Os livros não têm idade ou têm a que os próprios leitores lhe dão. Ou tem a idade que alguém lhes dê, ou têm todas as idades. Com O jogo da amarelinha aconteceu desde há algum tempo que alguns lhe tomam a temperatura ou que outros lhe tomam o pulso ou ainda que outros decretem sua morte. É um livro que foi para adolescentes ou para jovens, dizem. Então, não é velho? É velho mas foi jovem para aqueles jovens. Ah, os jovens de agora não podiam ter gostos semelhantes a aqueles de em torno de 1965 que o leram como se estivessem bebendo o elixir do contrarromance? Esta reticência que mantenho ante aos que decretam com respeito a esta ob...

Uma dama em Paris, de Imar Raag

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Parte da crítica terá se esforçado para uma recepção ao menos fria sobre esse último trabalho de Ilmar Raag. Mas, peço licença para ir em direção contrária e ensaiar outro esforço, o de uma recepção calorosa ao filme. Uma dama em Paris é o terceiro longa do diretor que já dirigiu e escreveu para a televisão August 1991 , sobre a tentativa de repressão da independência estoniana pelos russos e Klass , sobre um estudante em defesa de seu colega vítima de bullying numa sala de aula. E nesse contexto, o filme é o mais diferenciado já produzido por ele. Produzido numa parceria larga, aliás, entre Estônia, seu país de origem, Paris e Bélgica. Em cena a grande atriz do cinema francês, Jeanne Moreau, no alto de seus 85 anos e que, diga-se, é também a responsável pela inteireza do filme de uma ponta a outra. Jeanne é quem interpreta Frida, uma idosa que teve grande vida artística, mas o gênio forte terá reduzido ela a uma presença sozinha numa casa em Paris. Frida não é francesa, ...