Postagens

Odes escolhidas de Ricardo Reis, Fernando Pessoa

Imagem
Por Pedro Belo Clara O livro que hoje trago ao conhecimento, lançado em Portugal no passado mês de Junho, é uma bem composta antologia das principais odes criadas por Ricardo Reis, um tão conhecido heterónimo, entre muitos outros, do não menos famigerado Fernando Pessoa. Revelando-se um excelente meio de contacto com o trabalho da faceta mais clássica deste luso autor, caberá portanto ao leitor a hipótese de agarrar o ensejo e, se tal lhe interessar, aprofundar o conhecimento sobre esta “personagem” (chamemos-lhe assim) deveras única e, como tal, peculiar. O vulto maior das letras portuguesas e lusófonas organizou e enumerou, assim, um primeiro livro de odes deste seu heterónimo pagão com simpatias latinas e helénicas. Perfazendo o total de vinte trabalhos, fora seu intuito publicá-las na revista Athena , da qual Pessoa era director literário. Tal intenção viria a ser cumprida no ano de 1924, mas acabaria por se tornar numa iniciativa sem continuidade. E isto porque, apes...

As armas secretas, de Julio Cortázar

Imagem
Por Rafael Kafka As armas secretas é uma compilação de cinco contos escritos por Julio Cortázar e traduzidos por Eric Nepomuceno, que também traduziu Cem anos de solidão de Gabriel García Márquez para a editora Record. A edição lida por mim para feitura dessa resenha foi produzida pela Civilização Brasileira. Os cinco contos contidos no livro são de um primor estético e literário muito altos. Porém chega a ser redundante usar tais termos para se falar de obras produzidas por Cortázar. A não ser, é claro, que o leitor não goste de histórias mirabolantes e repletas de surpresas típicas da linguagem do realismo mágico, o que o fará não ver primor nenhum nas obras do escritor argentino, porque é isso o que vemos nos contos e romances de Cortázar: as histórias começam em um ritmo de prosa e falam de assuntos (perdoem o trocadilho) prosaicos, comuns, banais. Aos poucos, contudo, as surpresas aparecem e o que começou como um causo simples ganha contornos angustiantes e,...

Cinco títulos inéditos de J. D. Salinger a serem publicados a partir de 2015

Imagem
J. D. Salinger. Foto: Weinstein Company. J. D. Salinger, que morreu em 2010, aos 91 anos, foi conhecido por uma obra literária notável, mas escassa, reduzida ao enorme sucesso de seu romance de 1951, O apanhador no campo de centeio . Mas, a biografia e o documentário, ambos com lançamento nas próximas semanas nos Estados Unidos (falamos a respeito em outras duas matérias para este blog – a primeira aqui , e a segunda aqui ), apresentam, entre as novidades, a existência de inéditos: há informações seguras de que o escritor deixou aos responsáveis por seu espólio claras instruções para a publicação de pelo menos outros cinco livros – alguns deles com enfoque completamente próximo daquele que perseguiu até 1951. Nesse rol, há uma série de títulos que, segundo o The New York times  começarão a ser publicados a partir de 2015. Os novos livros foram em grande parte escritos durante o período em que foi sendo ampliada a reclusão de Salinger. Da série a ser chamada The fami...

Boletim Letras 360º #27

Imagem
Mais uma semana vencida e semana vencida com muito gosto: fizemos o nosso tão esperado sorteio – dois contemplados com romances de José Saramago; estamos de parceiro novo, e parceiro ilustre – a Companhia das Letras; e, deixamos de cumprir um anúncio ( cof cof foi necessário) – o de apresentar nosso novo colunista. Sem pressa que tudo tem seu tempo o colunista estreia na semana vindoura. Por enquanto queremos alertar: estamos preparando o próximo sorteio que deve sai em breve. E, no mais, vamos aos destaques de nossa página no Facebook? Por lá, também muitas novidades! Que tal um livro com 2cm². O achado da Biblioteca da Universidade de Iowa, Estados Unidos. Segunda-feira, 19/08 >>> Inglaterra: Últimos inéditos de Virginia Woolf foram publicados Já havíamos comentado por aqui sobre este achado. The Charleston Bulletin Supplements , era o nome de um jornal doméstico produzido entre 1923 e 1927 pela escritora e seu sobrinho Quentin Bell, que mais tarde se torn...

Quando falei com Quintana

Imagem
Por André Bolivar Nesse tempo remoto, as calçadas do centro de Porto Alegre ainda sentiam as leves pisadas de Mario Quintana. Talvez fosse outubro, certamente de 1980, era eu muito jovem e daqueles meninos que quando jogavam bola na Redenção, esperavam a hora de deitar e ler e, que quando liam, esqueciam que existia futebol. Naquela tarde, passeava pela feira do livro com um exemplar de Esconderijos do Tempo, capa meio amarelada, poemas breves, um tesouro em minhas mãos, pois era o primeiro livro do Quintana que eu comprava; já tinha doze anos e havia lido no Correio do Povo (jornal que circulava na época) uma entrevista em que o poeta se declarava fã de Arthur Rimbaud. Menino curioso, sócio da Biblioteca Pública, lá na minha ficha de leitor, deixaram de escrever José Mauro de Vasconcelos e passaram a preenchê-la com o nome de Rimbaud e tudo o que se relaciona a ele. Ali, lembro-me de ficar espantado, pois pela primeira vez eu via impressa a palavra merda. O po...

Amor eterno amor, de Paulo Cox

Imagem
É preciso dizer que o título, apesar de sugerir um daqueles romances baratos, está longe desse lugar comum. Com um enredo extremamente simples, outra coisa também é preciso dizer, Paulo Cox consegue o improvável, transformar essa simplicidade em algo de amplo sentido. Nos anos cinquenta, Andreas, um jovem estudante de música, conhece Claire, filha de um diplomático. Os dois então vivem uma intensa paixão, mas por um daqueles imprevistos da vida, acabam se separando. Cada um, distante, faz suas vidas: casam, têm filhos. Cinquenta anos depois pela ação do mesmo imprevisto que os separou, casualmente, os dois se reencontram. Já viúvo e com a morte em estado iminente, Andreas buscará todas as formas para resgatar o passado e viver essa história de amor falhada. No caso dele as coisas são um tanto simples: não há nada que o impeça de por em prática um desejo desse tipo, mas não é esta a situação de Claire, casada há 45 anos. Ainda que este seja um casamento apagado, ou melhor, nunc...