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Quando Vargas Llosa foi ghost writer de uma senhora rica

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Por Juan Cruz Vargas Llosa nos tempos em que viveu em Paris.  Há algo de jovem, de adolescente, em Mario Vargas Llosa. Na terça-feira, 19/11, quando agradeceu ao público de Matadero, um dos cenários do Teatro Espanhol, os aplausos com que acolheram sua obra teatral Kathie e el hipopótamo (o texto ainda é inédito no Brasil), disse que há anos, quando escreveu esse texto, não sonhava com uma montagem como a que viu. Na verdade, ao longo de sua vida, e já tem 77 anos, tem se passado cumprindo o que quis fazer, mas sempre hesitando se alguma vez faria. Por isso é um jovem que segue sendo inseguro ante o emprego, ante aquilo que lhe aguarda, ante o que os demais vão pensar que o que ele faz é liquidar um tempo pela preguiça. Outra dessas virtudes que afirmam sua grande adolescência é sua convicção de que ele não tem imaginação, que todos seus livros se baseiam no esforço que fez para escrevê-los, travando uma batalha para vencer essa falta de ficção que habita e...

Literatura e viagem: dez livros fundamentais da língua portuguesa

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Ninguém hesitará em definir a viagem como um dos temas (e formas) mais profícuas da literatura. Além do clichê de que ler é uma forma de viajar, escritores tramaram suas experiências em relatos, crônicas, que é uma verdadeira visita a lugares onde o leitor possivelmente só poderá ir pela leitura. Outros, transformaram o itinerário numa maneira de estruturação da obra. Esta última possibilidade talvez seja a mais antiga das formas, afinal, o grande clássico fundador da literatura ocidental é o que, se não o périplo de um herói retornado da guerra em Tróia? Na literatura de língua portuguesa, a viagem adquire uma série de sentidos e representações; este foi um dos motes que condicionou a criação dessa listinha. Sim, uma literatura que tem como um dos textos fundadores esse tema (que se constitui igualmente em forma de estruturação da obra) não poderia ser alheia à sua universalização. Possivelmente, na literatura vinda de Portugal esteja o melhor dos exemplos para o tratamento do ...

O lábio cego

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Por Nuno Camarneiro Pediram-me que preparasse um texto sobre literatura e erotismo. E eu aceitei o desafio, apesar de não ter qualquer ideia sobre o que haveria de escrever, apesar de sempre ter praticado as duas artes em separado. Já comi enquanto escrevia, já me ri enquanto escrevia, mas nunca… enquanto escrevia. Do ponto de vista prático, não há para mim qualquer relação entre uma coisa e a outra. Mas tem de haver uma outra relação, porque a literatura mexe com tudo, e o sexo mexe com tudo, sobretudo quando é bem feito. Todos os autores falam de amor, alguns do ponto de vista do crente, outros do ponto de vista do ateu ou do agnóstico. O amor está presente mesmo quando está ausente, é uma espécie de crença que se aceita ou se renega, mas que é difícil contornar. E o erotismo, o que raio é isso? Um amor vertido em corpo? É o sexo teorizado? É simplesmente a descrição do que se fez ou se gostaria de fazer em vez de estar a escrever? O dicionário diz que o ...

Boletim Letras 360º #40

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Iniciamos este boletim fazendo uma chamada final para a celebração dos nossos seis anos on-line. Ainda estamos nas fraldas, é verdade, mas durante esse tempo por aqui já passamos por boas e ruins. Mas, com honestidade e sem subestimações, temos galgado um espaço diferenciado na web , apresentando aos que nos acompanham e aos que caem por aqui desavisados sempre muita coisa bacana. Este espaço surgiu, como está escrito no seu histórico como uma aventura de um sujeito semianalfabeto nos recursos digitais, passou a ser um espaço pessoal, privado, com escritos e coisas de interesse do mantenedor do espaço, para depois, agregar a isso, outros interesses.  Temos construído um corpo de contribuintes com receitas textuais quinzenalmente, o que tem dado muito certo, e firmado parcerias entre grandes e pequenos a título de compor uma rede cujo interesse é o de apresentar aquilo que melhor nos define enquanto humanos, a arte. Nesses seis anos, temos publicado pouco mais de 1.670 textos,...

O beabá das biografias*

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  Por Pedro Fernandes  Em briga de cachorro grande quem sou eu para meter minha língua? Enquanto a questão estava entre os reis da MPB acompanhei de camarote o disse me disse; quando a coisa descambou para o terreno da literatura (perdão pela divisória de áreas, como se a biografia não fosse um gênero textual e estivesse alheio à literatura, mas já me explico sobre), como dizia, quando a questão aqui chegou, dei algumas deixas na minha página no Facebook, principalmente no caso Paulo Leminski, e, enfim, quase um mês depois, é impossível não dizer nada sobre o caso. Ao menos posso ter uma opinião formada sobre, mesmo porque a briga é de cachorro grande, mas o que respinga, respinga diretamente no cidadão comum. E por isso mesmo me vejo um tanto quanto obrigado a dizer alguma coisa, a emitir um parecer sobre. Permitam-me um esclarecimento: não é o caso de ser a biografia um gênero que me apetece ler. Não. Acho esse texto maçante, chato, e foram muito poucos aut...

"Pena mínima", o primeiro livro potiguar dedicado (completamente) ao haikai

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Haikais e poemas curtos constituem essa Pena Mínima do poeta Lívio Oliveira, que parece-nos não querer findar-se, uma vez que, deixa a sensação de que o autor ainda tenha algo mais a declarar. Se finda rápido como um cometa, antecedido em página em branco, como a esperar que a pena lhe venha preencher; cruza sertão e beco e deságua no alto mar, e inicia-se como consequência de uma busca, de um duelo, do desejo humano mais íntimo e ao mesmo tempo paradoxal, posto que, ao mesmo tempo é simples e complexo como a relação do corpo e do espírito, da razão e da desrazão, numa paisagem na qual se descortina a teleologia, que de repente apresenta-se como renovação, recomeço, apontando em direção a um epílogo, que não aparece como fim pelo fim em si, mas chega com segurança e sem temor, como se continuasse a nos transportar a cumprir a pena mínima cotidiana com a liberdade de voar pela literatura norte-rio-grandense.  Pena Mínima é o primeiro livro da poesia potiguar totalmente ...