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Correspondência inédita de Proust revela suas aventuras num bordel francês

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O adolescente Marcel Proust. Aqui tem perto de 16 anos, quando teve um certo probleminha e foi confessar-se ao avô. “Pode-se dizer qualquer coisa, desde que não se diga eu.” Marcel Proust escreveu estas palavras ao seu colega das letras, o francês André Gide, e elas constituem num conselho valioso para qualquer romancista, bem como uma chave de leitura útil para a compreensão de sua própria obra. Sabemos que Proust é hoje ainda o mais importante nome da literatura ocidental moderna, o melhor autor de sempre depois de sua catedral literária Em busca do tempo perdido . A esses epítetos de melhor, que quase o colocam num altar, sacralizado, também não somos hipócritas e achamos que Proust é o mais importante romancista gay – sem querer inserir o autor num clube rosa, evidentemente. O epíteto final é dádiva do próprio Gide, quem revelou a homossexualidade de Proust sempre enrustida. Foi Gide quem colocou os leitores diante das correspondências do autor publicadas logo após sua mor...

Os livros que me fizeram escritor

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Por J M Coetzee Ao longo de sua vida, Jorge Luis Borges criou duas bibliotecas para o seus editores: a primeira denominada em italiano a Biblioteca di Babele , a segunda intitulada Biblioteca pessoal . Quando digo que criou essas bibliotecas, me refiro a que, entre todos os livros do mundo, selecionou uma lista com obras que voltassem ser publicadas, conferiu a essa lista o selo de sua autoridade e escreveu introduções ou prólogos para cada um dos volumes. A Biblioteca di Babele , criada na década de 1970 para um editor italiano, consta de trinta e três volumes pertencentes ao gênero fantástico, cada um com um prólogo de Borges. A Biblioteca pessoal , criada para um editor argentino, estava pensada para ter cem volumes, mas a morte de Borges em 1986 interrompeu o projeto. A essa altura havia aparecido uns setenta volumes. A Biblioteca pessoal  que não tinha restrições quanto a gênero literário. Os prólogos escritos por Borges eram muito curtos. Há dois an...

É preciso construir gostos ou fazer um livro ser palatável ao gosto do freguês (Parte I)

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  Por Pedro Fernandes Num país não raras vezes acusado de preguiçoso para a leitura, os 19 mil exemplares já vendidos de Poesia Completa , de Paulo Leminski, rumo aos 100 mil exemplares de O sentimento do mundo , de Carlos Drummond de Andrade, contraria as acusações. O caso pode se repetir conjuntamente com outros escritores menos conhecidos: o que falta, os dois casos estão aí para comprovar, é a preocupação por parte do próprio setor livreiro em acreditar na leitura. Quando falamos em setor livreiro pensamos desde as editoras aos meios mais simples de divulgação como páginas de fãs no Facebook ou blogs menores. Está mais que na hora de rever determinados julgamentos simplórios para pensar na própria máxima do mercado: não há retorno se não há alto investimento.  Essa observação não é gratuita. Ela nasce a partir das ações que vejo editoras cumprirem quando estão à beira de apresentar ao meio mais uma edição de algum autor Best-Seller. Quando J. K. Rowling, por...

Boletim Letras 360º #42

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Antes de passarmos aos destaques desta semana em nossa linha do tempo no Facebook, um esclarecimento. Mesmo tendo repetido no Twitter o andamento das entregas dos brindes de nossa promoção de 6 anos, vale deixar escrito que já fizemos o contato com todos os ganhadores do sorteio. Aos que responderam ao e-mail, os brindes seguirão de duas formas: via Livraria Cultura ou via Correios. De uma forma ou de outra todas as encomendas estão a caminho e devem chegar em breve aos locais de destino.  Agora sim, o que foi notícia em nossa página no Facebook. Detalhe de uma página do Antigo Testamento da Bíblia de Gutenberg. O arquivo raro da biblioteca do Vaticano será digitalizado e estará disponível on-line em breve. Mais detalhes no boletim. Segunda-feira, 02/12 >>> Inglaterra: Onde está mesmo o poder dos livros digitais? Fala-se de uma febre do e-book e que este até poderá suplantar o livro de papel, mas a depender da juventude que aí está, talvez seja necessário...

A solidão imortal do vampiro (III)

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Por Márcio de Lima Dantas Cláudia (Kirsten Dunst) no filme Entrevista com um vampiro .  a vampira-menina "Cláudia arrasta consigo o étimo do seu antropônimo. Falo da sua maldita condição de nunca poder ser a completude do outro. O étimo da palavra Cláudia quer dizer “coxa, manca, incompleta” – pessoa que não servirá de cara metade para ninguém.  Lua quarto minguante: Cláudia, a mulher como eterno joguete dos homens (o irremediável mal da “condição feminina” face ao âmbito do masculino) Como sabemos, o vampiro permanece durante toda a eternidade com o corpo igual ao que estava no dia em que foi transformado em imortal pela mordida e pelo sugar daquele que lhe bebeu o sangue. Daí o fato de a personagem Cláudia (Kirsten Dunst) permanecer com o corpo de menina, mesmo tendo a alma de uma mulher extremamente intuitiva e maliciosa, sendo capaz de fazer uso de qualquer expediente para conseguir o que deseja. O engraçado é que a vampira-menina Cláudia arrasta c...

Camille Claudel 1915, de Bruno Dumont

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Camille Claudel (Fère-en-Tardenois, 1864-Montdevergues, 1943), a escultura amante de Auguste Rodin que enlouqueceu por amor, a aluna cujo talento foi manipulado por seu mestre, a bela abandonada e humilhada, a mulher artista chutada pelos poderes masculinos; em definitivo, uma das forjadoras modernas desse arquétipo do feminino orgulhoso, romântico e cruel, da charmosa perturbada. Isabelle Adjani rendeu-se em 1989 ao personagem e o encarnou junto com Gérard Depardieu no filme de Bruno Nuytten Camille Claudel e agora é outra rainha do cinema europeu, Juliette Binoche, quem se aproxima com a lenda da artista em Camille Claudel 1915 , escrita e dirigida por Bruno Dumont. Até aí há as coincidências entre um e outro filme. A de Binoche de Dumont, minimalista e atroz, se detém num ponto sem retorno: o primeiro ano de encarceramento da escultora no manicômio de Montdevergue, próximo de Aviñón, de onde jamais sairia. “Com 16 anos li uma biografia sua que me tocou profundamente que ...