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As ilustrações de Carybé para Macunaíma, de Mário de Andrade

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Por Pedro Fernandes Macunaíma é uma obra-síntese da virada porque passou a literatura brasileira. Única naquela ocasião por redesenhar as fronteiras da identidade de um povo que, passado muitos anos de sua independência, ainda insistia com a aquela dependência cultural dos modelos europeus. Publicada em 1928, a obra com o subtítulo “o herói sem nenhum caráter” foi escrita em pouco mais de um mês – dezembro de 1926 – e passou por sucessivas revisões até ficar pronta. Apropriando-se da trajetória errante do herói clássico, a narrativa é também uma epopeia do herói da nossa gente, nascido no “fundo do mato-virgem”, às margens do rio Uraricoera, descendente da tribo dos tapanhuma, em busca da famosa pedra muiraquitã. Mário de Andrade, concorda Antônio Bento com o afirmado pela crítica nacional, “foi na verdade o grande bandeirante e desbravador da cultura nacional de seu tempo. Queria que os brasileiros escrevessem mais ou menos como o povo fala comumente neste país. Pretendia mesmo ...

Com as flores do salgueiro, de Albano Martins

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Por  Pedro Belo Clara Albano Martins Das vastíssimas obras que ostentam o cunho deste autor nascido em 1930 no concelho do Fundão, Beira-Baixa, escolhe-se para motivo desta coluna uma que, de tão breve, arrisca-se a passar despercebida ao olhar do leitor mais incauto. Contudo, pela sua peculiaridade, importa não a condenar ao olvido. Ainda para mais sabendo que a edição da mesma não se realizou através dos meios oferecidos pelas editoras mais experimentadas, ficando essa – a edição – ao cargo da Universidade Fernando Pessoa, no Porto, que em 1995 a deu à estampa – o que desde logo, com os devidos respeitos prestados, tende a limitar a global divulgação de um trabalho, seja ele poético ou não. A génese suprema que sustenta a singularidade do trabalho prende-se com o facto de o mesmo se tratar de uma colecção de haikus , estilo poético de raiz oriental que em passadas ocasiões foi aqui abordado. Como se poderá depreender, a prática do haiku é algo incomum nos auto...

Boletim Letras 360º #66

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Clique para ampliar. Página 7 de um diário Anna de Assis recém-revelado. As confissões da mulher com quem foi casado Euclides da Cunha e personagem na história do crime que resultou  no assassinato do escritor lançam novas luzes para o caso. Mais ao longo deste boletim. Mudanças na página do Letras no Facebook e não foi porque queremos. Foi imposta. Até o dia 6 de junho todas as páginas na rede social terão este novo e feio visual. O cúmulo do mal gosto. Quando tudo começou também era e foram feitas alguns aperfeiçoamentos que deram alguma beleza na linha do tempo. Agora, voltamos as origens e voltamos pior. Mas, fazer o quê? Seguimos adiante! Segunda-feira, 19/05 >>> Estados Unidos: A menor HQ está desenhada num fio de cabelo Até mesmo um fio de cabelo humano perfeitamente liso parece uma escamosa criatura alienígena sob um microscópio. Mas, há um fio de cabelo em particular: o em que foi gravada a HQ Juanita Knits the Planet . A história em qu...

O regionalismo de Dalcídio Jurandir em Marajó

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Por Rafael Kafka Dalcídio Jurandir Semana passada, fui à Fundação Tancredo Neves, conhecida popularmente em Belém como CENTUR com uma amiga. Lá, após renovar um cadastro de empréstimo de livros que não usava há pelo menos dois anos, decidi emprestar um livro em especial que me chamou por demais a atenção. Não sem antes sofrer com aquela dor de todo leitor que se preze o qual se depara com diversas situações em ter que escolher este ou aquele título por conta da falta de dinheiro ou de tempo para ler ou comprar livros. No meu caso, é a falta de tempo mesmo que mais me incomoda, pois em tempos de cartão de crédito sempre dou um jeito de me endividar um pouco somente para ter o prazer de ter livros e mais livros para ler em minha prateleira. Mas sem tantos rodeios, o livro em questão é Marajó de Dalcídio Jurandir , autor paraense cuja obra mais conheço. Para os que não sabem, ele escreveu um ciclo de livros chamado Ciclo do Extremo Norte, de caráter fortemente existencial ...

Machado para quê?

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Por Pedro Fernandes Patricia Secco descobriu o mapa da mina: os jovens não leem Machado de Assis porque “os livros dele têm cinco ou seis palavras que não entendem numa frase. As construções são muito longas.” A grande descoberta tem seguidores desde quando me entendo por gente e, portanto, não tem novidade nenhuma. É batida e ultrapassada. Quando eu tinha ainda catorze anos, uma professora de Língua Portuguesa sempre comentava em sala de aula que a obra do autor de Dom Casmurro era muito difícil. Este, aliás, foi o incentivo que tive durante toda minha vida escolar para a leitura. A mesma coisa é válida para José de Alencar - outro facilitado de Patricia. Tive que, na Faculdade de Letras, me abeberar do chá amargo que é Iracema .  O problema não está na novidade ultrapassada de Patricia. Está na ideia da qual participa. A notícia publicada pelo jornal Folha de São Paulo se tornou logo motivo de críticas nas redes sociais. Eu mesmo encabecei as discussões...

Shakespeare e a morte em Romeu e Julieta

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Por Lee Pontes A reconciliação dos Montecchios e Capuletos sobre os corpos de Romeu e Julieta . Frederic Lord Leighton Em Como e por que ler , o crítico literário Harold Bloom diz: “talvez, a obra de Shakespeare não devesse ter se tornado para nós uma escritura secular, a meu ver, ela é a única rival possível da Bíblia, em força literária”. Tais palavras podem, para o leitor (caso esteja vestido dos valores religiosos cristãos), ser consideradas uma blasfêmia. Ora, colocar um texto como Hamlet ou Rei Lear ao nível da escritura bíblica, é afirmar que a literatura pode se tornar um pilar cultural para além dos muros da nação de seu nascedouro. Um fato é certo, seja em qualquer nação ou qualquer cultura, ler Shakespeare é fundamental. Não por ser o maior dramaturgo ocidental, mas por seus personagens serem tão grandes, que, não mais pertencendo à vida inglesa, universalizam o homem e seus dilemas. Poderíamos tratar de Hamlet , o mais aclamado texto, ou Rei Lear , o protót...