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Alberto da Costa e Silva

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Alberto da Costa e Silva faz o trabalho de resgatar a memória de África com arte e elegância. É um poeta que está a escrever. As palavras são do escritor moçambicano Mia Couto em reação a escolha do nome do brasileiro para o Prêmio Camões 2014. Desde 2007 que acompanhamos ano a ano os galardoados com a honraria maior das literaturas de expressão portuguesa. E é sempre um privilégio dar com nomes aparentemente desconhecidos – principalmente quando são de figuras que se encontram no quintal de nossa casa, como é o caso de Alberto da Costa e Silva. À exceção de João Ubaldo Ribeiro (2008), Ferreira Gullar (2010), Dalton Trevisan (2008) e o próprio Mia Couto (2013), os nomes desse intervalo de tempo eram nomes por conhecer. Alberto da Costa e Silva é, dos nomes aqui mencionados, o de maior maturidade literária e possui como elemento para corroborar essa conclusão sua própria obra que se espraia entre a poesia, o ensaio, o memorial e o trabalho acadêmico. Se o ofício da poesia rep...

Boletim Letras 360º #67

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Como pode um desenho valer tanto? Tin-tin  bateu novo recorde em leilão. Mais informações ao longo deste boletim. Reprodução do papel que foi a leilão esta semana. Para que ninguém seja pego de surpresa e também para ir alimentando sua sorte desde já, é para breve a próxima promoção no Letras . Estejam atentos, portanto! Há muito que devemos essa e, lembrem-se que, tardamos, mas não falhamos. Esta semana, por aqui, foi de muito trabalho; foi de textos excelentes no blog; foi de notícias muito boas nas redes sociais – a lembrar mais um galardão do Prêmio Camões para um escritor brasileiro – enfim, para não perder de vista o que foi notícia, o já tradicional BO Letras 360º. Boas leituras! Segunda-feira, 26/05 >>> Inglaterra: Ouvir J.R.R. Tolkien Protegida por um fã, uma fita contendo um discurso perdido do escritor J.R.R. Tolkien está em processo de restauração para ser liberada ao público. A fita, que estava há 20 anos guardada no acervo do col...

Paz de Espírito

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Por Rafael Kafka Essa é mais uma crônica que começa citando Sartre. Fazer o quê se desde um pouco antes de começar a escrever no Letras eu já estava imerso no existencialismo como uma forma de cura para os meus problemas? Peço perdão aos meus leitores. Um dos livros dele mais interessantes lidos por mim foi As Palavras. Creio nunca ter falado desse livro em uma resenha especificamente, mas vivo a citá-lo em diversos textos por conta da retomada que Sartre faz de sua infância. Algumas pessoas, como Nelson Rodrigues, não acreditam na forma como o autor de O Ser e o Nada  desenvolve a reconstrução de sua infância. Para elas, aquilo é um personagem criado pelo existencialista para justificar o seu modo de ser. Apesar de ter ficado abismado com uma argúcia de pensamento muito assustadora para mim em uma criança de seis anos de idade, confesso que o retrato do jovem Jean-Paul Sartre muito me tocou. Mesmo sendo um livro curto, As Palavras consegue ser intenso e memoráv...

Refém da paixão, de Jason Reitman

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Kate Winslet e Josh Brolin em cena de Refém da paixão , filme que faz um retorno a era de ouro dos romances em Hollywood. O trabalho de Jason Reitman, entretanto, não é lá essas coisas. Depois de Amor sem escalas , filme sobre o qual deixamos algumas notas aqui , e de Juno , o trabalho mais bem elaborado e aceito positivamente pela crítica, Reitman mantém-se numa dura linha de decaída desde a apresentação de Jovens adultos . Ainda assim, Refém da paixão é um filme mediano, recupera uma era de Hollywood para os romances açucarados, e merece um pouquinho da atenção do público – principalmente os interessados em se soltar da rotina e preencher o tempo com um divertimento , mesmo não sendo esta obra uma comédia. Pelo contrário, consegue criar uma atmosfera de tensão permanente desde o início até o fim da narrativa, estando, portanto, mais para um trihller com pitadas de romance. O estilo de Reitman com este filme é sisudo.  Não é uma produção com enredo complexo ou pl...

Na dimensão do avesso: personagens de Lewis Carroll

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Por Alfredo Monte Alice. Ilustração do próprio Lewis Carroll para a primeira versão de Alice no país das maravilhas . Biblioteca Britânica. 1. ALICE “Meu querido Charles, Você pode confiar em que não esquecerei  da sua encomenda. Assim que chegar a Leeds, começarei a gritar, no meio da rua ´Ferrageiros´, `Ferrageiros´. Seiscentos homens acorrerão de uma loja num instante, voando de todas as direções, os sinos tocarão, a polícia será convocada, a cidade será incendiada. Eu HEI de conseguir uma lima e uma chave de fenda e uma argola, e se essas coisas não forem trazidas imediatamente, em quarenta segundos, não deixarei pedra sobre pedra em toda a cidade de Leeds, e a única coisa que sobreviverá será um gatinho, porque não sei se terei tempo de matá-lo. Então haverá gritos e arrancar de cabelos! Porcos e bebês, camelos e borboletas, rolando juntos na sarjeta, mulheres velhas tentando escapar pelas chaminés e vacas correndo atrás delas, patos escondendo-se em...

As ilustrações de Carybé para Macunaíma, de Mário de Andrade

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Por Pedro Fernandes Macunaíma é uma obra-síntese da virada porque passou a literatura brasileira. Única naquela ocasião por redesenhar as fronteiras da identidade de um povo que, passado muitos anos de sua independência, ainda insistia com a aquela dependência cultural dos modelos europeus. Publicada em 1928, a obra com o subtítulo “o herói sem nenhum caráter” foi escrita em pouco mais de um mês – dezembro de 1926 – e passou por sucessivas revisões até ficar pronta. Apropriando-se da trajetória errante do herói clássico, a narrativa é também uma epopeia do herói da nossa gente, nascido no “fundo do mato-virgem”, às margens do rio Uraricoera, descendente da tribo dos tapanhuma, em busca da famosa pedra muiraquitã. Mário de Andrade, concorda Antônio Bento com o afirmado pela crítica nacional, “foi na verdade o grande bandeirante e desbravador da cultura nacional de seu tempo. Queria que os brasileiros escrevessem mais ou menos como o povo fala comumente neste país. Pretendia mesmo ...