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Armando Nogueira, futebol e eu, coitada*

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Por Clarice Lispector "Parece uma torcedora?" Pode se perguntar o leitor diante da grande quantidade de imagens de Clarice Lispector on-line. E a resposta viria logo. "Não!" Mas a autora de A hora da estrela  era botafoguense como declarou várias vezes e falou sobre futebol como é caso dessa crônica. E o título sairia muito maior, só que não caberia numa única linha. Não leio todos os dias Armando Nogueira – embora todos os dias dê pelo menos uma espiada rápida – porque “meu futebol” não dá para entender tudo. Se bem que Armando escreve tão bonito (não digo apenas “bem”), que às vezes, atrapalhada com a parte técnica de sua crônica, leio só pelo bonito. E deve ser numa das crônicas que me escaparam que saiu uma frase citada pelo  Correio da Manhã , entre frases de Robert Kennedy, Fernandel, Arthur Schlesinger, Geraldine Chaplin, Tristão de Athayde e vários outros, e que me leram, por telefone. Armando dizia: “De bom grado eu trocaria a vitória de meu time ...

Das desleituras nas artes ou Quem pagará o enterro, se eu morrer de amores

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por Lee Pontes Pablo Picasso. Mulher com livro.  Quando Aristóteles escreveu sua “Arte Poética”, não desenvolveu ao prazer do acaso critérios de juízo para definir o que é uma obra artística. Ao contrário, realizou uma leitura acurada das obras disponíveis em seu tempo e definiu-as e/ou separou-as dos textos em geral. O juízo de valor erguido tinha por base o processo de representação do mundo redefinido por uma mímese, ou seja, o que se dá pela desrealização do real com vistas à universalização do particular (deve-se entender aqui como particular o estrato retirado do mundo em um determinado tempo e num determinado espaço). O processo de desrealização feito pela Arte (falamos aqui de arte em geral) não seria uma imitação do mundo, porém tratar-se-ia de uma perda do real para focar-se na essência do objeto de discurso concebido pela criação artística. A catarse aristotélica não se trata de uma simples purgação, embora se dê, antes, uma busca por libertação das imp...

A morte do pai, de Karl Ove Knausgård

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Por Pedro Fernandes Karl Ove Knausgård Este não o primeiro título do escritor norueguês: em seu país já publicou Ute av Verden ( Fora do mundo , em tradução livre) e En Tid for Alt ( Tudo tem seu tempo ), ambos inéditos no Brasil. O primeiro foi a obra com que venceu o Prêmio da Crítica na Noruega em 1998. Agora, este A morte do pai é o primeiro título de uma série chamada “Minha luta” a qual pertencem outros cinco livros. O segundo, Um outro amor foi publicado por aqui recentemente e comentaremos numa próxima ocasião. Esta extensa obra, com quase quatro mil páginas, tem causado certo reboliço no país de origem e tida boa recepção por aqui, a ponto de ser comparado pela crítica com o Em busca do tempo perdido , de Marcel Proust. Gostaria de expurgar essa comparação porque ainda não li a obra máxima do escritor francês; endossar essa voz da crítica (voz não confiável, diga-se) pode estar endossando certa ignorância e atribuindo fama a algo que não seja verdade. Ou seja, ...

A persistência das formas góticas na arquitetura religiosa do sertão do Rio Grande do Norte

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Por Márcio de Lima Dantas Igreja de Martins - Rio Grande do Norte 1. Introdução Quem viaja pelas terras quentes do interior, a oeste do Estado do Rio Grande do Norte, ao se aproximar de algumas de suas tantas pequenas cidades que pontuam as autoestradas, consegue divisar, mesmo de longe, as torres longilíneas das Igrejas Católicas. Via de regra situadas no centro da cidade, é o espaço para onde convergem todas as ruas. Erguem-se para o céu, em suas cores um pouco acentuadas, destacando-se do monótono conjunto de casas, na sua maioria de um só pavimento retangular, o rez-do-chão, achatadas e de nuances ocres ou cinzenta. Esses templos seguem uma feição que podem ser considerados como caudatários do estilo Gótico, florescido na Europa entre os séculos XII e XVI. A tendência para a verticalidade é constatada em tudo que diz respeito às práticas com o sagrado. Se aparece de maneira ostensiva na arquitetura das igrejas, não deixa, também, de despontar nas capelas, nos...

Aguenta Coração

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Por Hilda Hilst Olha, tenta: segura a bola e alisa, transfere, vagueia, como se a bola tivesse a lisura de uma boa cabeça, isso, pensa a cabeça do Lula, metalurgia lanosa, alisa agora bigodes, pradaria, encosta a bola na coxa, concentra, goza, não era um assim que você sempre queria? Segura aproximando, te cola, a cabeça entre os peitos, teus dois redondos e esse terceiro doce lúbrico veemente, respira, engole teu discursivo, a semente das coisas ausente de fonemas, nos fundos alagados, cala, sofre a bola, pensa no perfeito de toda redondez, ama essa forma, lambe, respira mais fundo, mais, dá um tempo, conhece o reverso agora, os avessos, o reverso é a cabeça dos reis, escurece o gesto, pisoteia, pensa nas tiranias, no soberbo dos outros, os de escudo e couro, no manso-melado que se fez teu ser, na cuspida de tantos sobre a tua vida, odeia, agora vai devagar rondando, rondando a bola, e ao teu redor avalia, avalia sob os pés de quem essa bola-cabeça vai cumprir exata tua ...

Boletim Letras 360º #71

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Fernando Pessoa em hebraico. Exposição em Israel amplia espaço de atuação da poesia do poeta. Mais detalhes ao longo deste Boletim. Imagem patente no Museum  Of Israeli Art at Ramat Gan, em Tel-Aviv para a exposição Ronny Someck Hall of Faeme  (reprodução) Falta pouco para findar o Mundial 2014 de Futebol. E no ritmo até o último dia, seguiremos por aqui com os textos para a seção especial Gol de Letra e uma promoção que dará cinco kits muito bacanas de livros aos leitores do blog que participarem direitinho cf. manda o figurino . Enquanto essas finalizações não chegam, porque ainda faltam mais que 15 dias para que tudo isso se realize, vamos a um fim que já chegou – o fim de semana. E, se é fim de semana, se é sábado, é dia de ler mais uma edição do Boletim Letras 360º com tudo o que circulou de notícia em nossa principal rede social, nossa página no Facebook. Segunda-feira, 23/06 >>> Inglaterra: Em novembro publicam-se novos textos de P. L. Trav...