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O amor nos tempos do cólera, de Gabriel García Márquez

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Por Rafael Kafka Sendo fã dos dois escritores em um nível difícil de mensurar, diria que pelo que escreveu em seu grande ensaio feminista Simone de Beuavoir amaria o texto de Gabriel García Márquez, tido hoje como um de seus romances mais bem escritos: O amor nos tempos do cólera . Seja pelo nível da escrita, seja pela forma de abordar o mais universal de todos os temas humanos: o amor. O romance conta de forma bastante interessante a construção de um tipo bizarro de triângulo amoroso que dura mais de cinquenta anos. Um tipo bizarro, pois não se converte em um triângulo propriamente dito como esses existentes nas mais melosas novelas mexicanas. O que temos é um amor deixado de lado, logo depois sendo substituído por outra relação, essa ao contrário da primeira bastante duradoura. O amor deixado de lado é um amor juvenil surgido entre Florentino Ariza, uma espécie de funcionário estágio do correio da cidade onde a história se passa, e Fermina Daza, filha de um rico de...

O fazer poético na "Resma", de Lívio Oliveira

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Por Thiago Gonzaga                     “Mundo mundo vasto mundo mais vasto é meu coração”. Carlos Drummond de Andrade Atualmente, qualquer pessoa que esteja atenta ao mercado literário local intui que a poesia ainda é a vertente que mais se distingue na literatura potiguar, não apenas pela grande quantidade de poetas, mas pela superior qualidade de alguns, que vêm se destacando há anos, dignos de figurarem numa antologia nacional.  Acredito, por ser leitor e estudante de poesia,  que a poesia feita no Rio Grande do Norte continua viva e ativa; organizam-se saraus, leituras de poemas, encontros com poetas, surgem novas revelações poéticas. No entanto, há poetas e poetisas que se sobressaem em meio à avalanche de livros publicados no Estado. Dentre estes, cito Lívio Oliveira, que penso ser o melhor representante masculino da nova geração poética potiguar, neste início de século; já com cinco livros de p...

Um discípulo para Stephen King

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Por Jana Lauxen Admito que não sou fã número um de histórias sobrenaturais. Provavelmente por que a maioria delas explore indiscriminadamente (e de modo superficial) o horrível, o bizarro e o nojento, mais pregando sustos desnecessários do que instigando legitimamente nosso medo. É fácil chocar apresentando uma cena de tortura extremamente realista. É simples horrorizar descrevendo detalhadamente canibais devorando criancinhas indefesas. Mas conseguir chocar e horrorizar sem apelar para o sensacionalismo violento e gratuito, já é outro departamento. Não é para quem quer; é para quem sabe. Por esta razão tenho grande admiração pelo escritor Stephen King. Em minha opinião, ele sabe como manipular nossos medos mais intensos com maestria, pois detém a medida exata do terror, que nunca falta e nem sobra em suas obras. Não por acaso, seus livros são incansavelmente transpostos para o cinema, como é o caso do clássico O Iluminado – um filme pouco chocante, mas genuinamente...

Chico Buarque: artista e pensador

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Por Rinaldo de Fernandes Chico Buarque tem uma profunda identificação com o Brasil. Suas letras, seu teatro, seus romances reimprimem importantes interpretações críticas do país. Estão entre os protagonistas do compositor os pivetes, os malandros, os sem-posse. Aquilo que constitui, efetivamente, a ‘negatividade’ da sociedade brasileira. Para Chico, especialmente em suas composições dos anos 70, a negatividade da vida brasileira é produto ou atributo da política, passa pelos poderosos de plantão. Iníquos lhe foram todos os governos militares, calando, torturando, matando. Governos que encontraram no compositor de “Apesar de você” e de “Cálice” uma voz incisiva, intrépida. Uma voz que afrontava a “mentira” e a “força bruta”. Chico, por outro lado, é um pensador da condição feminina. Quando retrata as ‘resignadas’ ou ‘recolhidas’ no universo doméstico, caso de “Cotidiano” e “Mulheres de Atenas”, é mordaz, ironizando a submissão ou o papel de esposa na família ...

O mapa da tribo, de Salgado Maranhão

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Por Iracy Conceição de Souza capa da edição de O mapa da tribo  (editora 7Letras) ouço ladrar uma ausência Que me rasteja: loba. Salgado Maranhão A poética de Salgado Maranhão, ao longo dos últimos anos, construiu um perfil que se solidifica em sua décima obra, O mapa da tribo . Concebê-la é duplicar continuamente os espaços por ela construídos: “um oceano insondável”, que movimenta os afetos e incentiva o labor. Se o livro, Punhos da Serpente , (1978) marca o início de sua trajetória e sinaliza o estilo e a singularidade, para além do saber fazer, da habilidade; a obra, A pelagem da tigra , procura extrair e filtrar os meandros mais complexos da autenticidade sensível da vida, os ecos enigmáticos das entranhas do interdito, para expô-la em cenários reconstruídos e a obra, Sol sanguíneo (2002) ou Blood of the sun , (2012) 1 marca a experiência, o limiar do raso e do profundo, onde as coisas não somente têm significações, mas também têm existências e, por i...

Boletim Letras 360º #75

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Ariano Suassuna por Edu Magalhães Não vamos contabilizar perdas. Ao que parece a morte gosta delas. Além disso, já muito se tem contado. As Letras brasileiras, entretanto, atravessam ainda o luto pela morte Rubem Alves e de Ariano Suassuna. Fique o registro que novamente este Boletim abre-se negro. A boa nova, bem a boa nova vem das notícias que estão a seguir, entre elas a chegada do romance deixado por José Saramago. Boas leituras! ESTAMOS SEM RUBEM ALVES “Um livro são pedaços de mim espalhados ao vento como sementes” Pedagogo, poeta, filósofo, cronista, ensaísta, teólogo, acadêmico, palestrante, autor de livros para crianças, psicanalista - contador de histórias, como se definiu certa vez. Rubem Alves no dia 15 de setembro de 1933, em Boa Esperança, no Sul de Minas Gerais. Tido como uma das principais referências no pensamento sobre educação, tem uma bibliografia que conta com mais de 160 títulos distribuídos em 12 países. O educador mantinha em Campinas, ...