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Aldeia Nova, de Manuel da Fonseca

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Por Pedro Belo Clara Levado aos prelos no já distante ano de 1942, o trabalho que hoje trazemos a discussão foi o primeiro livro de contos publicado por este destacado vulto do neo-realismo português e membro influente do afamado grupo do Novo Cancioneiro: Manuel da Fonseca. Com o intuito de melhor elucidar o nosso caro amigo leitor, importa referir que este movimento literário, encabeçado por nomes como Fernando Namora, Carlos de Oliveira ou Mário Dionísio, que visava através da poesia propor uma válida resistência ao regime fascista em vigor no país, não obteve grande continuidade ou logrou sequer concretizar mudanças efectivas no panorama social e literário da época, muito por culpa da subsequente dispersão produtiva dos seus membros. Contudo, o posterior sucesso dos mesmos, bem como o elevado estatuto adquirido por suas obras, é deveras inegável. Se bem se recorda, levámos já ao seu conhecimento o principal romance do autor em causa (a saber: Seara de Vento ...

Boletim Letras 360º #80

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Capa da esperada edição brasileira do esperado romance inacabado de José Saramago. Mais informações sobre, ao longo deste boletim.  Uma semana fabulosa a que atravessamos! Duas grandes homenagens - uma para o Paulo Leminski, quem chegou aos 70 anos e outra para Julio Cortázar no ano em que chegamos ao seu primeiro centenário. Do poeta brasileiro realizamos uma movimentação relâmpago no Facebook: um sarau que se tornou serão. 70 poemas, um para cada ano do poeta. Com participação dos leitores enviando poemas e concorrendo a edições do Toda poesia . Ao todo, desse livro, já demos 10 exemplares entre o ano de publicação - meados de 2013 - e 2014. Ficamos satisfeitos em saber que a obra de um brasileiro e do gênero poesia tenha alcançado a marca de mais de 100 mil exemplares num país dito desacostumado com a leitura. E fechamos, desse modo, nossa contribuição com esse sucesso. Já sobre o autor de O jogo da amarelinha  quase duas semanas nos desdobramos para apresentar l...

Os falsos mestres da felicidade

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Por Iván Thays É um lugar comum dizer que os livros de autoajuda são maus porque entregam suas mensagens “mastigadas” e prontas para o leitor digerir. Não há nenhuma exigência, as frases estão escritas de maneira simples, direta. A verdade é que não vejo a necessidade de que os  livros de autoajuda sejam complexos. Por que teriam de sê-lo? Exceto para o tolo e arrogante Paulo Coelho, quem muitas vezes enfrenta James Joyce ou William Faulkner acusando-os de ter “corrompido” os leitores com suas complexidades, duvido muito que um autor de autoajuda deseje comparar-se com nenhum autor, e menos ainda com uma celebridade literária morta. Seu público é outro, sua razão de escrever é outra, suas editoras são distintas. E, claro, suas vendas também são outras, ainda que isso não seja o importante neste texto. Confesso que admiro muito os autores de autoajuda e seu desejo de contribuir positivamente na vida das pessoas através da leitura. Não são os livros que compro nem le...

Milan Kundera elege uma passagem de A festa da insignificância

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Milan Kundera. Foto: Philippe Labro “A individualidade é uma ilusão!” Isso exclama um dos personagens do esperado romance de Milan Kundera, A festa da insignificância , cuja ideia condensa boa parte da filosofia com que o escritor de origem tcheca vê a vida e em nada diferente daquilo que já está colocado em seus romances, contos e ensaios. E com maior força agora no alto de seus 85 anos, quando o umbigo ocupa um lugar essencial na sua narrativa. Com este A festa da insignificância , Milan Kundera regressa depois de 14 anos. Volta como se nada tivesse acontecido nesse tempo, com se a conversa deixada com os leitores em A ignorância , romance com o qual recebeu o novo século em 2000, ainda não houvesse sido acabada, ou melhor, como se fosse ontem. Os temas de seus livros são os mesmos, mas amadurecidos pelo compasso do tempo, e sem perder a essência do que são e significam aspectos como a sexualidade, o erotismo, a maternidade, o desejo, a cultura, sobre as ideias que r...

O palco do acaso: “A trilogia de Nova York”

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Por Alfredo Monte Em  Fantasmas  ( Ghosts ), um dos textos de  A trilogia de Nova York  ( The New York trilogy , 1986, tradução de Rubens Figueiredo, Companhia das Letras¹), aparece uma historieta, quase uma vinheta, das muitas que entremeiam a trama geral, a respeito de um sujeito chamado Gray que desaparecera. Contratado pela esposa de Gray, Blue (personagem principal da narrativa) descobre que ele perdeu a memória e passou a se chamar Green, tornando-se um barman (era engenheiro). Bem, Green não só se sente confortável por não rememorar sua existência anterior, como chega a se casar com a antiga esposa, agora dentro da sua nova identidade e vida profissional.   Essa problematização do valor da identidade, essa possibilidade perversa de permutação, perda ou desagregação de quem somos percorre todo o livro de Paul Auster.   A esse preâmbulo se pode acrescentar frases tiradas do primeiro texto,  Cidade de vidro  ( City of glass ), verdadeiras chav...

Julio Cortázar, o menino de 100 anos

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Por Juan Cruz   Ruiz Frame do filme Cortázar: apuntes para un documental . O menino . Cortázar disse a Elena Poniatowska, numa das quatro entrevistas que ela lhe fez, que sentiu mal de menino: “Sim, eu creio que fui um animalzinho metafísico desde os seis ou sete anos. Recordo muito bem que minha mãe e minhas tias – meu pai nos deixou muito pequenos, a minha irmã e a mim – enfim, a gente que me via crescer, se inquietava por minha distração ou devaneio. Eu estava perpetuamente nas nuvens. A realidade que me rodeava não tinha interesse para mim. Eu via as lacunas, digamos, o espaço que há entre duas cadeiras, se posso usar essa imagem. E por isso, desde muito pequeno, me atraiu a literatura fantástica”. A gente . Seu primeiro livro importante, ou ambicioso, Os prêmios (1960), está pleno de gente, cheio de pessoas que vão num barco de Buenos Aires a Europa. Gente vulgar, todo tipo de gente. Tem essa admoestação de Dostoiévski, nada mais para começar: “Que faz um autor...