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Boletim Letras 360º #85

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Carlos Drummond de Andrade teve interesse em escrever uma peça de teatro. Mas... leia mais sobre ao longo deste boletim. Iniciamos esta semana com boas notícias: dando mais dois livros aos amigos que nos acompanham pelo Facebook. Desta vez, depois de dois Kits com a edição de Memorial do convento e Levantado do chão do escritor português José Saramago demos 2 exemplares do que seria o último romance seu, Alabardas, Alabardas, espingardas, espingardas . Em pouco mais de três anos essa página na rede social além de deixá-los a parte sobre livros e literatura, tem contribuído para o incentivo da leitura. E não é apenas com informações e entretenimento. Temos distribuído livros aos leitores: pela nossa contagem já demos mais de meia centena de livros! Isso é pouco para quantidade de pessoas que nos acompanham, mas é muito para um espaço cuidado pelo esforço único de duas pessoas. 98% dos títulos, por exemplo, foram adquiridos por nós. Este não é um discurso de prestação de conta...

Alabardas, alabardas, espingardas, espingardas, de José Saramago

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Por Pedro Fernandes José Saramago vestido como homem bomba - ao invés de bombas, os livros como arma. Foto: Helena Gonçalves "É mais fácil mobilizar os homens para a guerra que para a paz. Ao longo da história, a Humanidade sempre foi levada a considerar a guerra como o meio mais eficaz de resolução de conflitos, e sempre os que governaram se serviram dos breves intervalos de paz para a preparação das guerras futuras. Mas foi sempre em nome da paz que todas as guerras foram declaradas." José Saramago no Diário de Notícias Quando Claraboia veio a lume em 2011, o romance esteve quase dois anos na estante como se aguardasse uma maturação do papel para sua leitura; quando na verdade era um receio interno de quem ainda não havia perdoado a ingratidão do tempo sobre figuras como a de José Saramago e do luto que é entrar numa livraria e não ter mais aquele anseio de um livro por vir . A ocasião agora é outra: desde que soube da notícia de publicação do que se...

Mossoró e Tibau em Versos: Antologia Poética de David de Medeiros Leite e José Edílson Segundo

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Por Thiago Gonzaga A literatura do Rio Grande do Norte esteve carente durante anos de antologias poéticas. Nossa história literária comprova que poucos livros foram publicados com esta característica, destacando-se as antologias de Ezequiel e Rômulo Wanderley. Todavia, elas se sobressaem mais pela condição de registro histórico do que pela qualidade literária. No final dos anos noventa vieram as antologias de Assis Brasil e Constância Lima Duarte e Diva Cunha com um panorama do que se tinha publicado no estado até então. Essas foram antologias com um rigor mais critico.  Veio também uma antologia temática –  Poesia Viva de Natal  – organizada por Manoel Onofre Jr. No inicio do século XXI, junto com  um número expressivo de editoras e uma nova geração de escritores no Estado surgiram a necessidade de novos trabalhos do gênero.  Pois, além da importância histórico-literária, antologias são fontes de referência e consulta para pesquisadores ...

Débora Ferraz e o universo das emergências: “Enquanto Deus não está olhando”

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Por Alfredo Monte   I “A impressão era sempre a mesma. As coisas aconteciam pra mim antes sempre antes de eu estar preparada para elas.” (trecho de Enquanto Deus não está olhando ) Na minha colaboração anterior para o Letras in.verso e re.verso comentei Por escrito , romance no qual Elvira Vigna nos apresentava uma protagonista já madura, bem-sucedida profissionalmente, com uma relação longa e estável. Um projeto de reinvenção (ela apagando os rastros do passado) que, na narrativa em primeira pessoa, passava por um crivo agônico e mortal. É curioso notar que Érica, a jovem narradora (24 anos) do primeiro romance de Débora Ferraz, Enquanto Deus não está olhando , faz sua curta existência (em relação à qual estava preparando seu próprio projeto de reinvenção) passar por um ritual agônico similar, quando terá que lidar com todo um “universo das emergências” (como lemos na p.184). De repente, temos essas vozes narrativas de mulheres que esfarrapam os bor...

Adonis

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Adonis não crê em Deus, mas vive próximo do céu, numa torre de 37 andares da La Défense, o bairro financeiro de Paris. Não parece o ambiente típico para um poeta. Antes de se instalar no apartamento passou por quase todos os bairros. Vive na cidade francesa há quase três décadas. Para o poeta o lugar é mais iluminado; lembra-lhe Manhattan – logo quem escreveu Epitáfio para Nova York , publicado em 1971 e um dos livros mais famosos de um nome já traduzido em dezenas de línguas e que muitos consideram o grande poeta árabe vivo. Numa entrevista ao El País recentemente, Adonis segue firme em sua crítica ao capitalismo desumanizado e desumanizador, homenageia García Lorca e Walt Whitman, fala sobre a queda das torres gêmeas e relembra a acusação que sofreu de que o poema teria inspirado a Bin Laden. Acusação que para o poeta é ridícula. Seu último livro, Zócalo , foi publicado em francês antes que em árabe. E mesmo antes de chegar à sua língua será apresentado em espanhol. São t...

Uma abelha na chuva, de Carlos de Oliveira

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Por Pedro Belo Clara Considerada pela crítica competente, sem desaguisados de maior, um dos trabalhos mais emblemáticos de Carlos de Oliveira, a presente obra foi dado aos prelos no já distante ano de 1953 e comprovou, com a devida propriedade, a extrema aptidão do autor para o estilo novelístico. Se é verdade que Oliveira iniciou a sua carreira literária através da poesia, género de que nunca abdicaria, para o leitor mais comum a faceta de romancista é a que mais sobressai em termos de divulgação ou de conhecimento geral. Contudo, afirmar que foi nela que o dito autor demonstrou todo o seu supremo talento é, efectivamente, redutor.  Convém aqui recordar que Oliveira foi um dos destacados vultos do neo-realismo português, levando-o até, segundo a opinião de muitos estudiosos, a terrenos que nenhum outro jamais ousara pisar, o que sublinha a extrema originalidade da sua voz. A tal aspecto acresce, quase subsequentemente, o cariz regionalista que viria a imprimir na ...