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Boletim Letras 360º #92

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Chegamos a outro final de semana e é hora de recordar o que se passou em matéria de notícias em nossa linha de existência na rede social. Devíamos , sim, termos disposto on-line a nova promoção do blog, mas, perdão, os afazeres foram tantos que o jeito foi deixar para organizar isso para a semana vindoura, que, esperamos sejam outros os dias. Bom, estejam atentos! Fernando Pessoa para a dança. Que projeto é esse? Mais novidades ao longo deste boletim Segunda-feira, 17/11   >>> Portugal: As cartas de amor de Fernando Pessoa no teatro   O texto teatral As cartas ridículas do Sr. Fernando e os suspiros líricos da menina Ofélia  toma por base a correspondência entre o poeta português e Ofélia Queiroz. Encenado pela Companhia de Teatro do Algarve em Portugal, a adaptação redescobre a faceta quase adolescente e pueril de uma relação que precisamente não se tem notícias de sua plena realização. Além das cartas de amor a adaptação se constitui de outros te...

Passeios pela literatura de Mia Couto

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Mia Couto seria um homem branco africano desconhecido, filho de colonos português, com corpo comum, óculos e barba rara comum, mãos sempre em movimento, jaqueta e calças comuns, olhos claros comuns. Seria apenas quando muito António – seu nome de batismo – que cruza pelas ruas e ninguém vê. E se assim fosse, este anonimato é o preferia, disse já reiteradas vezes o escritor, misto de timidez e simpatia demonstradas nos gestos e na voz melódica. O escritor é um contador de histórias. E isso é o que mais faz Mia Couto quando salta para fora dos livros para cumprir a sempre lotada agenda. E faz com um português recriado daquilo que muito ouviu quando criança e durante toda sua vida na extensa aldeia chamada Moçambique tão marcada pela diversidade cultural. “À medida que ia nascendo, ia sendo escritor. Foi algo que me acompanhou no descobrimento de mim mesmo”, refere-se de como foi se tornando escritor.  Na já prestigiada carreira literária, a última honraria de grande valor...

A duração do deserto, de Nina Rizzi

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Por Pedro Fernandes Sinto, e ao nomear as coisas, traio-as como Araetê às veredas. O outro, ao nomear o outro, ter-me-ia à luz? Repito esse outro que também sou eu – Tenho me aperfeiçoado em ausente. Depois de tambores pra n’zinga Nina Rizzi volta a cena da poesia, entre o trabalho como tradutora, editora e outra leva de ações condicionadas pela letra. A duração do deserto tem nome de obra que levou largo tempo para composição, compreendendo pela associação dos termos duração-deserto, como instantes de travessia árdua e complexa. Se olharmos o tempo comum do calendário, notaremos que essa constatação é vã: o livro sai apenas dois anos de tambores . Para poetas que maturam durante décadas uma mesma obra, dois anos são dois dias. Mas, se deixarmos o calendário comum para pensar noutro tempo, alcançaremos o limite de compreensão que aqui proponho já na leitura do título. A duração do deserto . Basta o contato com a variedade poética expr...

Julio Cortázar e Isel Rivero: confidências

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Uma das novidades mais interessantes que tem surgido em torno de Julio Cortázar, sem dúvidas um dos autores mais célebre do chamado Boom Latino-americano, é a extensa correspondência com que manteve durante muitos anos com amizades não tão badaladas, como a tida com Isel Rivero. São escritos que vieram a lume só muito recentemente. E certamente, esta compreende um dos mais ricos tomos da escrita íntima do autor de O jogo da amarelinha . Osita, Osezna, Oseznita, Iselísima são apelidos ou formas carinhosas com as quais Julio iniciava suas cartas a sua amiga de alma. Cartas em que o escritor argentino se revela como uma pessoa de uma ternura alegre e requintada; repletas de neologismos, jogos de palavras, poemas visuais, desenhos e que nos mostram muitos aspectos inéditos de sua persona. Porque Cortázar, ainda sendo um dos escritores mais estudados pelas universidades de meio mundo, e acostumado à dar cara em todo tipo de atitude que teve por objetivo a condenação das dita...

Francisco e a razão institucional

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Por Miguel Koleff “Se a razão é uma espada curta e o poder uma pedra atirada de longe, estão trocados aqui os papéis de David e Golias.” (Clara, em A segunda vida de Francisco de Assis ) Por incrível que pareça, falar de razão institucional deixa de ser uma fábula quando se pensa a sério. Há organizações que repetem os preceitos de sua fundação contra vento e maré e não se preocupam em parecer irracionais em relação aos novos tempos; outras se acomodam ao ritmo das circunstâncias, se atualizam. O vento as leva ao melhor porto e se deixam conduzir sem problemas. Entre umas e outras estão as que mudam de perspectivas sem medir a consequência de seus gestos. Para Saramago, a Igreja Católica é um das mais acomodadas. E se mantém com tanta impunidade que parece que estamos falando do mesmo quando – sem querer – mudamos de assunto. Um texto teatro escrito em 1987 põe o dedo na chaga dessa questão. Intitula-se A segunda vida de Francisco de Assis e...

Virginia Woolf, fotografias, diários e a guerra

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Virginia Woolf. Foto: Man Ray Os que conheceram Virginia Woolf dizem que foi mulher frágil e ao mesmo tempo forte. O semblante da escritora inglesa em muitas das fotografias deixadas para a posteridade chegam a revelar esses caracteres: uma rara fortaleza num mulher tão leve. A autora de Ao farol se suicidou quando tinha 59 anos (em 1941) porque já não suportava sua própria loucura, nem queria que os outros a suportassem. Novamente confirma-se a dupla característica com que sua figura é muitas vezes descrita. Viveu para escrever sua obra mas, sobretudo, para interrogar-se pelo passado, como havia chegado ante “a parede branca” de seu silêncio. “Nada terá realmente acontecido até que se recorde”, dizia, e a recordar dedicou uma extensa quantidade de diários; guardou suas cartas, suas notas manuscritas e a narrativa íntima que segue sendo lida até hoje como se uma ferida aberta, exposta ao mundo, cada vez maior. Muitas das páginas dos diários estão ilegíveis; foram escritas por sua ...