Postagens

Boletim Letras 360º #95

Imagem
Foi há 16 anos. José Saramago recebe das mãos do rei da Suécia o Prêmio Nobel de Literatura. Ao longo deste boletim acesse a íntegra do discurso do escritor português proferido nessa ocasião.  Estamos muito próximos de reduzir o fluxo do blog para as tradicionais paradas para o recesso de fim de ano. Mas, alerta: não paramos de um todo. As redes sociais ficam ainda movimentadas. No Instagram, por exemplo, iniciaremos e iremos até a véspera de Natal com a publicação de dicas para presente (sim, porque se tem presente no Natal, tem que ser livro); no Facebook, atiçamos o retorno às leituras para 2015 com a retrospectiva; e tem muito mais. Já em breve anunciamos mais uma promoção e nossas listas para o fim do ano. Bom, enquanto tudo isso não vem, vamos ler/ver/rever/reler o que foi notícia esta semana na página do blog no Facebook.  Segunda-feira, 08/12 >>> Brasil: Romance de João Tordo a sair No Brasil, o escritor português tem vez em casas como a L...

Professores alienados que agem como formadores de opinião

Imagem
Por Rafael Kafka O título dado a esse texto me remete aos títulos dados aos arremedos de poemas, contos e crônicas escritos por mim durante minha primeira juventude, ali pelos meus dezessete ou dezoito anos de idade. Mas hoje não o dou motivado por revolta poética inspirada em punk rock a la Ramones ou The Clash, mesmo sendo hoje mais ouvinte dessas bandas do que há oito anos. Hoje ele representa bem algo que tenho percebido em meu cotidiano de educador: a demagogia em cima do ato professoral que disfarça o quanto essa prática está afundada em problemas de certa forma sérios demais. A inspiração desse texto começa em uma sala de aula repleta de professores. Nela, discute-se acerca do popular amigo invisível das confraternizações de fim de ano. Como eu estava com pouco dinheiro, digo a um professor, que tirei nessa brincadeira ano passado, que torço para tirá-lo novamente, pois assim eu poderei dar a ele um livro, já que ele gosta bastante de ler, apesar de que gêneros os...

Clarice Lispector, a travessia da linguagem

Imagem
Por Milton Hatoum A família de Clarice Lispector. Da esquerda para a direita, Mania, Clarice, Pinkouss (sentados); Elisa e Tania (em pé). Recife, década de 1920. Em 1920, aos dois meses de idade, Clarice Lispector fez sua primeira grande travessia da distante Rússia ao nordeste do Brasil. Filha de imigrantes judeus ucranianos, Clarice cresceu sob o calor de Recife (Pernambuco), onde viveu dez anos; perdeu a sua mãe em 1930 e, dez anos depois, se mudou com seu pai e suas duas irmãs para o Rio de Janeiro.  A partir de 1944, quando se casou com um diplomata, viveu em Belém (Pará), nos Estados Unidos e em vários países da Europa; durante sua larga permanência no exterior, com temporadas no Brasil, escreveu e publicou dois romances ( O lustre e A cidade sitiada ) e um livro de contos. Em 1959, quando voltou definitivamente ao Rio, já era considerada uma das mais notáveis escritoras brasileiras. Clarice Lispector, os dois filhos (Paulo e Pedro) e seu companheiro Maur...

Dois romances de Maria Valéria Rezende: O voo da guará vermelha e Quarenta dias

Imagem
Por Alfredo Monte Em 2014, a Alfaguara relançou o primeiro romance de Maria Valéria Rezende, O voo da guará vermelha (2005), uma obra-prima da nossa ficção contemporânea, e publicou seu mais recente exercício no gênero, Quarenta dias , cuja origem está num projeto lançado em 2011, afinal não levado a cabo, “Redescobrindo o Brasil”, meio que nos moldes da série Amores expressos da Companhia das Letras: seriam 14 escritores para 14 capitais brasileiras. Por isso, Maria Valéria (que é da Baixada Santista, em São Paulo, mas há décadas enraizou-se na Paraíba) perambulou durante certo tempo, como sua protagonista e narradora, por Porto Alegre. Felizmente, ela não desistiu de aproveitar a experiência. I “Um corpo de homem aguenta mais do que a gente imagina, por vontade de viver, mas a alma é outras coisa, vai morrendo mais depressa quando perde a esperança...” (trecho de O voo da guará vermelha ) A tragédia maior retratada em  Vidas secas , de Graciliano Ra...

Dom Quixote: realidade ou ficção?

Imagem
Ilustração de Gustave Doré para o Dom Quixote  (Reprodução) As sementes e a lenda do Quixote na terra aumentam. E se confirma que a obra de Miguel de Cervantes Saavedra, segundo os especialistas, é a soma de saberes, informações, fantasias e experiências vividas e ouvidas por este gênio da literatura; de realidade e invenção convertidas numa obra mestra. A penúltima descoberta estaria no povoado de Miguel Esteban, próximo de El Toboso, onde o procurador Francisco de Acuña se vestia com armaduras a Quixote para atacar e espantar os de grande posição como o fidalgo Pedro de Villaseñor.  Ocorreu um dia de verão em julho de 1581, quando o sol estava um tanto alto, e Acuña tentou matar a Pedro com lança de uma maneira que o inimigo teve que fugir correndo pelos campos até El Toboso. Acuña atacaria aos Villasseñor com o fim de destitui-los do poder que exerciam naquela região. Assim ficou registrado num processo judicial daquele ano, pela intenção de assassinato, e corro...

Contos da montanha, de Miguel Torga

Imagem
Por Pedro Belo Clara O livro que agora se abre diante do nosso olhar surgiu naquele que, por certo, terá sido um dos mais conturbados períodos da vida do profícuo autor que o criou. Ora, em finais de 1939, com base num conjunto de críticas de índole política por si proferidas, Miguel Torga é encarcerado por ordem da (repressiva) polícia então vigente. A sua estadia durou três meses, rendendo-lhe poemas de intensa melancolia sobre o caso.  Era o pleno auge do regime ditatorial português. Algum tempo depois, já em 1941, a obra que hoje discutimos é enfim publicada para, breves momentos depois, ser apreendida pela polícia política. A surpresa foi tal que o próprio Vitorino Nemésio, numa carta solidária dirigida a Torga, não conseguiu esconder o seu assombro por uma decisão de índole «tão estranha e arbitrária». Não custa, portanto, compreender porque Miguel Torga designou este trabalho de «livro atribulado». Na verdade, o mesmo (que inicialmente apenas ostentava a e...