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Juan Gelman

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O nome do poeta Juan Gelman está inscrito no mesmo rol que Jorge Luis Borges, Ernesto Sabato e Adolfo Bioy Casares. Dito isso, explode logo a conclusão de que estando diante do nome está diante da sua literatura e de uma das mais importantes para a forma da literatura latino-americana. Foi em 2014 que ficamos sem sua presença física. Deixou-nos, entretanto, uma corrente de vozes em torno de uma melhor existência entre os da comunidade humana. Logo ele, que depois da extensa dedicação às letras, esteve marcado pela morte do filho pela força da ditadura e pela busca incansável de sua neta Macarena. Um homem que se não desprezava a vida, depois dos retornos amargurados que ela lhe deu, disse sempre nunca temer a morte. Grande parte de sua obra ficou marcada por uma veemente crítica social e política que dialogou com temas de seu tempo; mas, certa certa vez garantiu que, antes de escrever para intervir, foi por amor – um amor sem explicação – sua dedicação às letras. Seus p...

Não há nada de novo na literatura contemporânea

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A quase 85 anos, Harold Bloom segue sendo um colosso entre os críticos literários, embora pleno da florescente excentricidade e do gênio legendário que construiu entre os poucos eruditos célebres de nosso tempo. Apesar de sua má saúde de ferro , acaba de entregar a seus editores um livro sobre o sublime nos Estados Unidos, título que em breve chegará às livrarias, The Daemon Knows: Literacy, Greatness and the American Sublime ( O demônio sabe: alfabetização, grandeza e sublimidade nos Estados Unidos , em tradução livre). O livro sai depois de Poetas e poesias e enquanto trabalha noutro ensaio sobre William Shakespeare, autor que já apreciou em Shakespeare, a invenção do humano . Bloom, “secularista com inclinações gnósticas”, persiste no assédio permanente; e segue ainda defensor da ideia de como a influência se exerce na literatura imaginativa e de que se é produzida entre o conflito e a tensão. Hoje, entretanto, o crítico se sente muito mais que disposto a comentar o...

A realidade assalta a ficção

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Por Berna González Harbour Não vamos chamar engano. Que a realidade é a matéria-prima mais substancial da ficção é uma verdade provada desde que a sabedoria popular tomou forma de Sancho Pança, por exemplo, o Essex , o baleeiro afundado por uma baleia cachalote em 1820, se transformou em Pequod pela pena mágica de Melville. Ou para que pular séculos, milênios? Que Zeus raptara Europa para trazê-la a Creta se explicava pela razão da beleza e do caráter (era assim), mas que com ele e seus irmãos chegara o alfabeto e novas ideias do Oriente, não era senão a realidade escondida por baixo da deslumbrante explicação mitológica? Também Madame Bovary, Oliver Twist ou Anna Kariênina nasceram para encarnar pessoas que sofriam em lugares reais, onde habita a miséria ou a impossibilidade do amor, fora geograficamente de França, Inglaterra ou da Rússia imperial. A lista poderia não ter fim. Isto é, sempre aconteceu. E alguns dos romances mais sugestivos que se encontram...

Boletim Letras 360º #95

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Foi há 16 anos. José Saramago recebe das mãos do rei da Suécia o Prêmio Nobel de Literatura. Ao longo deste boletim acesse a íntegra do discurso do escritor português proferido nessa ocasião.  Estamos muito próximos de reduzir o fluxo do blog para as tradicionais paradas para o recesso de fim de ano. Mas, alerta: não paramos de um todo. As redes sociais ficam ainda movimentadas. No Instagram, por exemplo, iniciaremos e iremos até a véspera de Natal com a publicação de dicas para presente (sim, porque se tem presente no Natal, tem que ser livro); no Facebook, atiçamos o retorno às leituras para 2015 com a retrospectiva; e tem muito mais. Já em breve anunciamos mais uma promoção e nossas listas para o fim do ano. Bom, enquanto tudo isso não vem, vamos ler/ver/rever/reler o que foi notícia esta semana na página do blog no Facebook.  Segunda-feira, 08/12 >>> Brasil: Romance de João Tordo a sair No Brasil, o escritor português tem vez em casas como a L...

Professores alienados que agem como formadores de opinião

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Por Rafael Kafka O título dado a esse texto me remete aos títulos dados aos arremedos de poemas, contos e crônicas escritos por mim durante minha primeira juventude, ali pelos meus dezessete ou dezoito anos de idade. Mas hoje não o dou motivado por revolta poética inspirada em punk rock a la Ramones ou The Clash, mesmo sendo hoje mais ouvinte dessas bandas do que há oito anos. Hoje ele representa bem algo que tenho percebido em meu cotidiano de educador: a demagogia em cima do ato professoral que disfarça o quanto essa prática está afundada em problemas de certa forma sérios demais. A inspiração desse texto começa em uma sala de aula repleta de professores. Nela, discute-se acerca do popular amigo invisível das confraternizações de fim de ano. Como eu estava com pouco dinheiro, digo a um professor, que tirei nessa brincadeira ano passado, que torço para tirá-lo novamente, pois assim eu poderei dar a ele um livro, já que ele gosta bastante de ler, apesar de que gêneros os...

Clarice Lispector, a travessia da linguagem

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Por Milton Hatoum A família de Clarice Lispector. Da esquerda para a direita, Mania, Clarice, Pinkouss (sentados); Elisa e Tania (em pé). Recife, década de 1920. Em 1920, aos dois meses de idade, Clarice Lispector fez sua primeira grande travessia da distante Rússia ao nordeste do Brasil. Filha de imigrantes judeus ucranianos, Clarice cresceu sob o calor de Recife (Pernambuco), onde viveu dez anos; perdeu a sua mãe em 1930 e, dez anos depois, se mudou com seu pai e suas duas irmãs para o Rio de Janeiro.  A partir de 1944, quando se casou com um diplomata, viveu em Belém (Pará), nos Estados Unidos e em vários países da Europa; durante sua larga permanência no exterior, com temporadas no Brasil, escreveu e publicou dois romances ( O lustre e A cidade sitiada ) e um livro de contos. Em 1959, quando voltou definitivamente ao Rio, já era considerada uma das mais notáveis escritoras brasileiras. Clarice Lispector, os dois filhos (Paulo e Pedro) e seu companheiro Maur...