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Invencível, de Angelina Jolie

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Estas linhas não tem o mérito de avaliar a adaptação da obra de Laura Hillenrand, mas, para início de conversa, é preciso observar por que tanto do uso sem necessidade da frase que já virou moda desenxabida nas produções literárias e cinematográficas da hora – “Esta é uma obra baseada em fatos reais”. Estaremos tão insensíveis à arte da ficção que, agora, só temos tempo para nos emocionar como o tido como verdade ? A questão merece ser pensada noutra ocasião. Quanto a relação cinema-literatura, sublinhe-se, não se pode falar sobre o que não conhecemos. Agora, é evidente que ao falar sobre o filme falaremos, de uma forma ou de outra, sobre o trabalho da diretora, marinheira de segunda viagem . Só gostaria de antecipar que Invencível é um filme ruim. Seduz qualquer um pela forma como o trailer foi apresentado, mas o filme mesmo finda por ser mais um daqueles que vão para extensa lista de exortação heroica de figurões dos Estados Unidos, claro, com altas doses do xarope de a...

Samuel Beckett segue em pé

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Por Marcos Ordóñez Minha admiração por Samuel Beckett cresce a cada novo mergulho em seu mundo. Volto a lê-lo e penso num grande pássaro, com asas de albatroz e bico de gaivota sobrevoando todos os tópicos vertidos na sua obra. Beckett niilista? Já disse demasiadas vezes e sigo sem acreditar nisso. Penso melhor num Beckett realista, num Beckett combativo, num Beckett otimista. Sempre me chamou a atenção uma frase sua, escrita durante a Ocupação: “Prefiro viver numa França em luta que numa Irlanda neutra”. Beckett combativo: poucos sabem que militou na Resistência, por cujas ações (as de separada importância, qualificou-as de “coisas de jovem escoteiro”) obteve a Cruz de Guerra. O grande misantropo era também, ao dizer de quem o conheceu, um homem “infinitamente amável e bondoso”. Harold Pinter contava, comovido, uma história que viveu com ele no início dos anos 1960: em sua casa, à noite de seu primeiro encontro, Beckett se levantou e percorreu várias farmácias de Paris às c...

Raduan Nassar: apresentação de um escritor entre tradição e pós-modernidade

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   Por Maria José Cardoso Lemos Raduan Nassar. Foto: Antonio Milena. Descrever a trajetória de Raduan Nassar é uma tarefa perigosa, pois ele embaralha seus rastros, quer pelo silêncio, quer pela repetição constante de suas respostas, respostas sempre pouco esclarecedoras, como que a evitar uma autorreflexão sobre sua obra. Alguns, irritados com sua postura, pensam até tratar-se de uma estratégia de marketing desse ator / autor que interage com sua pequena obra-prima na sua recepção atual, obra que, parcimoniosamente, vem retornando sempre ao cenário cultural por meio de novas publicações, traduções e adaptações cinematográficas. Raduan Nassar é filho de imigrantes libaneses que chegaram ao Brasil em 1920, se instalando em Pindorama, no norte do Estado de São Paulo. Nascido em 1935, vinte anos depois mudou-se para São Paulo, onde se formou em Filosofia. Em 1967, fundou com seus irmãos o Jornal de Bairro , um semanário que chegou a atingir a tiragem de 160 ...

Sartre e a recusa do Prêmio Nobel de Literatura

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Já era muito tarde quando Jean-Paul Sartre enviou em 14 de outubro de 1964 uma carta a academia sueca que outorga o prêmio Nobel pedindo-lhe que não o incluíssem entre os possíveis ganhadores nem nesse ano e nem no futuro. O filósofo francês também avisava que, no caso de o galardoarem, recusaria o reconhecimento. A carta chegou com um mês de atraso. Serviu já para consolidar a recusa. Em setembro a Academia já havia decidido quem seria o Nobel de Literatura daquele ano: o próprio Jean-Paul Sartre. A carta, que marca um novo elemento a uma das recusas mais soadas da história da cultura foi publicada por esses dias no diário sueco Svenska Dagbladet e recopiada em jornais ao redor do mundo. A publicação do material se dá, como de praxe, depois da abertura dos arquivos da Academia meio século depois: ao terminar 2014, portanto, se pode acessar aos documentos correspondentes a 1964. Há algum tempo, segundo diz o diário The Guardian , já se havia especulado durante antes que...

Boletim Letras 360º #100

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Em 2015, as livrarias brasileiras recebe uma nova tradução para a Autobiografia  de Agatha Christie. Mais detalhes ao longo deste boletim. Chegamos ao fim da primeira semana de retorno do blog com as postagens diárias. Esperamos ter um 2015 de alta e excelente produção. E se estamos atravessando mais um fim de semana juntos tem de ter as notícias que circularam em nosso ponto de encontro mais movimentado da web : a página do Facebook. Segunda-feira, 12/01 >>> Brasil: Virginia Woolf e O sol e o peixe É este o título de um ensaio da escritora e título que dá nome a uma coletânea que reúne nove de suas prosas. Nelas, Virginia contrasta a visão de um eclipse total do sol com a dos peixes num aquário de Londres; discorre sobre Montaigne e sobre a paixão da leitura; relembra, em traços delicados e comoventes, a convivência com o pai; teoriza sobre a nascente arte do cinema e sobre as relações entre a literatura e a pintura; enaltece as paradoxais vantagens d...

As adaptações de obras literárias para o cinema em 2015

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Cena de Vício inerente - filme baseado no romance de Thomas Pynchon com estreia para fevereiro de 2015. A cada ano parece que a lista aumenta: além da febre de ser baseado numa história real (já repararam nos filmes que estão no páreo ao Oscar do ano que, quase todos, assim se apresentam?), a outra febre são as adaptações literárias. E em 2015, os leitores terão muito o que ler antes de ir ao cinema. Janeiro 1.  Livre O filme é dirigido por Jean-Marc Valleé; é um dos favoritos ao Oscar; e é baseado no livro de mesmo título de Cheryl Strayed. Aos 22 anos, Cheryl Strayed achou que tivesse perdido tudo. Após a repentina morte da mãe, a família se distanciou e seu casamento desmoronou. Quatro anos depois, sem nada a perder, tomou a decisão mais impulsiva da vida: caminhar 1.770 quilômetros da chamada Pacific Crest Trail (PCT) — trilha que atravessa a costa oeste dos Estados Unidos — sem qualquer companhia. Cheryl não tinha experiência em caminhadas de longa d...