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Damião Nobre e sua trilha sonora literária

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Por Thiago Gonzaga Antes de qualquer coisa, música. Paul Verlaine Se existe um gênero literário que pode ser classificado quase que exclusivamente como de origem brasileira é a crônica. Deixando de lado o aspecto de erudição do ensaio ou a objetividade do artigo, a crônica nos relata assuntos cotidianos, principalmente de fatos mais pessoais, relacionando-os a contextos locais, como política, futebol, carnaval e música. Não é de admirar que, no Brasil, tenhamos  tantos cronistas ilustres como Machado de Assis,  Carlos Drummond de Andrade,  Rubem Braga, Rachel de Queiroz, Luis Fernando Verissimo e  outros grandes nomes. No Rio Grande do Norte, na seara da crônica, há uma tradição relativamente nova, se comparada, por exemplo, à poesia. Temos excelentes cronistas, como Newton Navarro, Berilo Wanderley, Dorian Jorge Freire, Manoel Onofre Jr, Vicente Serejo, Clotilde Tavares, Sanderson Negreiros e Woden Madruga, este último, um ícone da crônica ...

O panteão texano dos escritores

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Gabriel García Márquez revisa Cem anos de solidão. Foto: Guillermo Angulo Todas as memórias de Gabriel García Márquez ocupam 2,6m cúbicos. São umas 40 caixas de papelão atadas com plástico sobre dois apoios de madeira. Era sua coleção pessoal, as coisas que guardava em sua casa na Cidade do México. Uma vida. Assim chegou em 16 de dezembro de 2014 ao Harry Ransom Center, no campus de Austin da Universidade do Texas, Estados Unidos. Dezoito pessoas ajudaram a abrir as caixas. Tardará um ano para catalogar todo material e, muito possivelmente, dois anos para estudá-lo. García Márquez morreu no dia 17 de abril em sua casa no México aos 87 anos. Teve a entrada proibida nos Estados Unidos durante décadas por sua atividade pró-comunista, embora logo tenha se reunido, por exemplo, com o presidente Bill Clinton em 1994. E, no dia 24 de novembro, o Harry Ransom Center anunciou a compra do arquivo pessoal do Nobel colombiano . Uma pergunta percorreu a América Latina nessa ocasião: Te...

Alegorias dramáticas do herói romântico (Parte 1)

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Por Leonardo de Magalhaens No contexto do Iluminismo e da ascensão burguesa ao poder, um movimento artístico – não apenas literário – se destacou na Europa – principalmente Alemanha, França e Inglaterra – antes de influenciar as colônias americanas. Trata-se do movimento romântico. Advindo do chamado Século das Luzes, o sentimento romântico contrapõe-se à contenção lírica  do Classicismo com a idealização do poeta original a expressar de forma original um sentimento pessoal. É o início do hodierno culto ao Indivíduo, que passa a expressar sua consciência íntima e estética na obra que recebe enfim uma assinatura (e não apenas tenta se adequar  a uma tradição e/ou convenção poética). Abordarei a obra de dois poetas que acompanharam a minha juventude – Lord Byron e Álvares de Azevedo. E, num segundo plano, tecerei comparações com outros literatos – Milton, Wordsworth, Coleridge, Keats, Shelley, Goethe, Schiller, Victor Hugo, dentre outros. (Antes des...

Pedro Lemebel

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Na madrugada de sexta-feira (23) em Santiago do Chile morreu o escritor Pedro Lemebel aos 62 anos; trazia consigo um câncer de laringe contra o qual lutava desde 2011. Apesar disso, a notícia foi recebida com certa surpresa pelos mais íntimos e pelos leitores e admiradores de sua obra. Sim, a morte dos que dedicam sua vida à construção de outras possibilidades de habitar o mundo será sempre uma surpresa. E triste surpresa. Ainda mais quando leva de nós alguém que poderia estar ainda apenas no princípio de uma travessia. O estado de saúde de Pedro já o impossibilitara de ir à Feira do Livro de Santiago, em outubro; e o fim de ano foi num hospital entre a recuperação de cirurgias e tratamentos medicamentosos. Parecia, entretanto, que o escritor estivesse nas mãos com a capacidade de decidir quando partiria – essas foram, mais ou menos, as palavras usadas pelo amigo e porta-voz da notícia que correu o mundo em língua espanhola, Héctor Núñez González. Lemebel informara sobre sua ...

Boletim Letras 360º #102

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Lewis Carroll, um pedófilo enrustido? A polêmica volta à tona depois de a BBC de Londres apresentar um documentário que revelaria novos indícios da grande questão em torno do autor de Alice no país das maravilhas . Mais detalhes ao longo deste Boletim. Foto: ABC Aqui chegamos a mais um fim de uma semana intensa. 2015 parece que traz consigo tantos grandes desafios quanto 2014; janeiro já tem demonstrado, em parte, o que pode estar reservado a nós. Muitas leituras. Também queremos muitos leitores. Bons leitores. E escritas. Escritas de excelência. Por isso, estamos trabalhando nas redes sociais uma campanha para que os bons leitores que produzem escritas de excelência nos envie seus textos, antes de ir bater à porta de qualquer outro blog ou portal literário. Queremos vê-los figurar entre as principais matérias editadas no Letras. Queremos ser com os leitores protagonistas de boas histórias. E, cf. dissemos no Boletim Letras 360º da semana anterior, não é nada difícil enviar se...

Um estranho no lago, de Alain Guiraudie

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Trata-se de um título recente (2013) que não deverá se inscrever em qualquer lista menor de cinema cult, mas deve, certamente, servir a listas sobre a temática gay. Não que o filme de Alain Guiraudie se reduza a isso; olhando bem, a temática é apenas um adendo para se tratar sobre uma extensa diversidade de outros temas caros à comunidade humana na contemporaneidade. Alguns desses temas poderão ser mencionados no desenvolvimento desse texto que cumpre não o propósito de listá-los e discuti-los de maneira aprofundada. Sua demarcação visa, entre outras funções, justificar porque este é um filme que, numa lista maior de cinema cult pessoal, merecia estar presente. Como é comum da cinematografia francesa, se há algo que não há nas produções é certo malabarismo de efeitos para simplesmente fazer o que um filme deve fazer: contar uma história. Gostos à parte, mas já, entre a leva de títulos que comentei mesmo por aqui, falei da capacidade de sobra que os franceses têm de prod...