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O estado do bosque – José Tolentino Mendonça (Parte I)

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Por Pedro Belo Clara Numa das primeiras ocasiões em que abordámos aqui o autor em epígrafe, trouxemos à discussão um trabalho deveras original no cada vez mais extenso rol de obras que tem vindo a publicar. Tratava-se de um livro de haikus , género onde Tolentino jamais se aventurara. O trabalho que hoje apresentamos retoma essa linha de novidade. Pelo menos, em parte. Editado em Janeiro de 2013, reproduz uma peça de teatro composta no âmbito de um projecto proposto pelo Teatro Oficina, de Guimarães. Nem que seja meramente pelo intuito de satisfazer a curiosidade, justificar-se-á a análise dum trabalho exposto num género que, apesar de não estar totalmente inexplorado pelo autor, rareia dentre os projectos que até agora assinou. Falar em Tolentino é, desde logo, referir a sua poesia, estilo onde se revela num maior número de ocasiões. Embora o ensaio e a elaboração de artigos diversos assumam um lugar igualmente meritório. O teatro, contudo, escasseia. Por i...

Boletim Letras 360º #109

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No Boletim da semana anterior dissemos todas as movimentações que faríamos por ocasião do Dia Nacional da Poesia. E hoje só gostaríamos de dizer que tudo valeu a pena. Os leitores estiveram atentos e fizemos um dia intenso com muita poesia. Enquanto lá fora muita gente estava em polvorosa distribuindo ódio, nós estávamos revolucionando corações pela leitura de poesia. O resultado foi este álbum lindíssimo  com 24 poemas de 24 poetas nacionais e estrangeiros enviados pelos 24 primeiros leitores e publicado cada um de hora em hora numa verdadeira maratona. Aguardamos a visita para levar adiante esses poemas. E, depois de tudo, vamos ler o que foi notícia durante a semana no blog.  Um poema inédito de Machado de Assis. Saiba sobre essa descoberta, assim, ao acaso na web. Segunda-feira, 16/03 >>> Brasil: Descoberto poema inédito de Machado de Assis O achado é de Wilton Marques, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que estuda a infl...

Cinco coisas que você precisa saber sobre Cem anos de solidão

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Por Julio Ortega Gabriel García Márquez na clássica foto em que exibe a primeira edição de Cem anos de solidão As origens Gabriel García Márquez teve a ideia do romance quando sua mãe lhe pediu para acompanhá-la a Aracataca, o povoado onde nasceu, para visitar a casa de sua infância e vendê-la. Passaram-se 40 anos e várias versões até que um dia, quando ia com Mercedes, sua companheira, e os dois filhos de férias para Acapulco, veio-lhe o ponta pé ou chave que há muito havia buscado em vão. No retorno para casa, na Cidade do México, sentou-se ante a máquina de escrever e só saiu daí dezoito meses depois quando colocou um ponto final na primeira versão do texto. O título Há uma música afro-americana chamada One hundred years of solitude , um lamento de escravos do Sul. E há um curta-metragem mudo em que um solado da Guerra Civil, frente ao pelotão de fuzilamento, recorda sua vida fugaz. Mas, em Cem anos de solidão se trata da “sol-edad”, a era solar. A saga gue...

Sobre Corpo de festim, de Alexandre Guarnieri

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Por Pedro Fernandes toda a vida contida numa exígua partícula, – desdobrável de si própria –, equilibrada sobre a mesma progressão desenfreada; deuses ferveram-na numa caldeira aquecida ante o clarão do big bang / cozeram-na por milênios, lenta, nas tripas da mais velha estrela / e lá, aprisionada, como o maior espetáculo da via láctea, além do limbo centígrado dos organismos bioquímicos, replicou-se a enzima de sua fina ( e elástica ) matematicidade // até que [...] Alexandre Guarnieri escreveu Corpo de festim , livro que integra o lento e sofisticado processo de lapidação poética porque passa todo poeta comprometido com a palavra. Sim, porque sempre existiu, mas tem ganhado forma com cada mais cinismo, o poeta criador de formas falsamente manipuláveis e, logo, facilmente quebráveis ao dinamismo do tempo. Não é porque o material verbal que o poeta utiliza é estranho ao universo acusado tantas vezes de pertencer às formas frágeis. Não. É o trabalho in...

Vanessa Maranha romancista

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Por Alexandre Bonafim Vanessa Maranha é uma das jovens e promissoras escritoras brasileiras da atualidade. Seu romance de estreia, Contagem regressiva (Ed. Off-flip), vencedor do prêmio Off-flip, não somente atesta a mesma sensibilidade, a argúcia da contista de Oitocentos e sete dias , como também a insere no time dos romancistas de talento. Contagem regressiva possui uma ironia ao estilo machadiano, principalmente de O Alienista , aliada ao humor do Campos de Carvalho de A lua vem da Ásia . E isso não é pouco. Vanessa, em sua elegante narrativa, insere-se em importante eixo de leituras de nosso cânone, revivendo, de maneira pessoal e criativa, o que temos de melhor em nossa história da literatura. Faz isso, no entanto, com personalidade e afiada agudeza crítica, o que a eleva à categoria de artesã da palavra, aprendiz dos grandes mestres, mas também mestra ela mesma, sem influências meramente fáceis e reprodutoras. E não ficamos apenas por aqui. Além dessa ironia rech...

Os desenhos de Jean-Paul Sartre

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Temos compreendido uma coisa: quem constrói mundos imaginários seja simplesmente por imaginá-los seja para explicar determinantes vividos tem necessidade, uma vez apenas, de materializar isso através de outra grafia que não a da palavra escrita. Raramente não encontramos um escritor que não tenha se dado ao desafio de transcrever em forma de imagem aquilo que é imagem através da escrita. E, o bom de tudo é depois de largo tempo descobrir esses desenhos, rabiscos, garatujas porque parece ficarmos diante do pensamento em elaboração; ou ainda ficamos em contato com certa maneira de ver-se (pensamos aqui nas quantas caricaturas que o Carlos Drummond de Andrade fez de si), de como escritor imagina aquela personagem ou situação, ou mesmo nos desfazemos de certa imagem sisuda do autor, já que a caligrafia do desenho tem uma dimensão lúdica e despojada, muitas vezes, da seriedade. Sem falar ainda que, as artes plásticas sempre têm encontrado na literatura um campo muito fértil ...