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Günter Grass

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O mundo das letras acordou mais pobre no dia 13 de abril de 2015. Morreu o escritor Günter Grass. A notícia chegou-nos cedo pelo Twitter da editora Steidl, responsável pela publicação da sua obra. O autor de O tambor ganhou, em 1999, o Prêmio Nobel da Literatura; no mesmo ano, o Príncipe de Astúrias. Nascido em 16 de novembro de 1927 em Gdansk, Polônia, o escritor sempre foi lembrado pela marca a Caim que carregou durante toda a vida: já sabíamos que em 1944 fora recruta na Força Aérea Alemã, mas em 2006 ele confessou, por ocasião da apresentação de sua autobiografia Nas peles da cebola , que tinha sido voluntário na unidade de elite da Alemanha nazi Waffen-SS quando tinha 17 anos. De então, o autor foi quisto como um traidor e senhor do desserviço à Europa. José Saramago, muito amigo de Grass, foi uma das poucas vozes que se atreveu absolvê-lo da marca: “Ele tinha 17 anos. E o resto da vida não conta? Parece-me uma reacção hipócrita, de muita gente que talvez não c...

Boletim Letras 360º #112

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Aqui estão as notícias que circularam durante mais uma semana de informação em nossa página no Facebook; é esse o propósito desse boletim.  Um conjunto inédito de cartas de Frida Kahlo vai a leilão em Nova York. Mais informações ao longo deste boletim. Segunda-feira, 06/04 >>> Brasil: Novidades sobre a reedição dos livros da coleção Vaga-Lume Em 2014 noticiamos aqui algo que mexeu com a boa lembrança dos leitores: a coleção Vaga-Lume, a mais famosa com mais de 100 títulos infanto-juvenis teria reedição. Pois bem, no cinquentenário da Ática, 10 desses títulos chegam com novas ilustrações e capas que brilham no escuro. A aldeia sagrada , Os barcos de papel , Tonico , O feijão e o sonho , Spharion , A ilha perdida , O escaravelho do diabo , A turma da Rua Quinze , Deu a louca no tempo  e Açúcar amargo . É só aguardar. >>> Brasil: Ela tem 7 anos e o que gostaria de ter: uma biblioteca que pudesse ser espaço para leitura e diversão Imp...

Jack Kerouac, modernismos e o desvairismo beat

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Por Rafael Kafka Atualmente, tenho lido bastante Jack Kerouac. Li e resenhei Anjos da desolação neste ano e atualmente estou a ler as cartas trocadas entre ele e Allen Ginsberg. Na minha lista de espera já se encontram outros dois títulos dele pelo menos: Tristessa , o qual penso ler em algum fim de semana regado a café preto forte, jazz e blues; e seus diários, os quais já comecei a ler algumas vezes, mas quero ler em um momento de concentração profunda. Vejo em Kerouac muito do espírito antropofágico que caracterizou o espírito de nossos poetas modernistas. Os ideiais do pensamento do Modernismo brasileiro são algo muito caro para mim, mesmo eu ainda não tendo lido como deveria a obra desses importantes intelectuais brasileiros. Até o momento do advento da literatura de Mário de Andrade e seus condiscípulos, o fazer literário brasileiro era feito por e para a classe burguesa. Víamos uma língua preocupada em criar uma identidade nacional falsamente europeia, pretensão ...

Alegorias dramáticas do herói romântico (Parte 4)

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Por Leonardo de Magalhaens © Alexandre Marie. Byron é Don Juan com Haidee, 1831. Don Juan, herói byroniano em questão Este é um extenso poema – incompleto – em 16 Cantos, sendo escrito de setembro de 1818 a maço de 1824, e alguns críticos consideram como uma amostra do amadurecimento do Poeta que assume um tom irônico diante do herói romântico. Herói que a própria obra de Byron ajudara a difundir por toda a Europa letrada, e daí até as colônias europeias. Em  Don Juan  evidencia-se (tal qual nos primeiros Cantos de  Childe Harold ) a destilação (e fermentação) das tantas leituras e vivências – nesta ordem – do Poeta, em suas viagens pela Europa continental. Principalmente o Mediterrâneo, onde se destacam a Itália – ainda não unificada – e a Grécia – dominada pelos otomanos. Vários autores recebem referência – positiva e negativamente – tais como Homero, Safo, Aristóteles, Juvenal, Horácio, Virgilio, Longinus, Santo Agostinho, Calderón, Shakespeare,...

Miasmas da Ditadura: A merda do mundo

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Por Alfredo Monte “Lendo alguns relatórios, o psiquiatra soube que o general sentia, às vezes por várias horas seguidas, um forte cheiro de pudim queimado (...) Já estava na hora de tudo aquilo terminar. O psiquiatra cobriu o general, fez que sim respondendo a alguma bobagem que ele estava falando, abriu o envelope com o papel em que deveria escrever o laudo, assinou antes e, sentado à minúscula mesa, escreveu em letras redondas e muito compreensíveis apenas uma linha: Augusto Pinochet Ugarte não apresenta boas condições mentais. O general Pinochet, por outro lado, é um filho da puta”.  (Ricardo Lísias, “Anna O.”) “Os gritos surgiam ora em português; ora na língua inaudita e livre dos Kiña; ora na língua inconfundível da dor”.  (trecho de “Apiemieke?”) 1 Thiago Roney é um jovem de Manaus, prestes a completar 30 anos, que vem demonstrando apreciável ambição como escritor: já fez duas versões do seu livro de estreia, O estouro da artéria de u...

Enigma e sedução em A Hora dos Ruminantes: a originalidade de José J. Veiga

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Por Leila D. P. do Amaral A obra de José J. Veiga abre-se a uma multiplicidade de vozes – do historiador, do cientista social, do crítico literário etc. Lendo-a, somos convidados a uma participação ativa, a um processo de conhecimento e reconhecimento das realidades vividas pelos seus personagens. Ao criar um ambiente de mistério e de perplexidade, sua obra nos instabiliza para uma dimensão interrogativa, para uma atitude de rebelião. Já não queremos ser apenas leitores. O impulso provocado por ela é no sentido de sermos autores da escrita de nossa própria existência, reconhecendo os condicionantes objetivos e subjetivos para a realização da mesma. Na verdade, José J. Veiga é, se considerarmos que a linguagem é a fundadora da cultura e da sociedade e, portanto, da própria ciência, o escritor, o artesão da literatura, e, de certa forma, “um homem de ciência”. O local e o universal se dispõem, se compõem e se recompõem no artesanato literário da obra de Veiga. Penet...