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A biblioteca pessoal de Jorge Luis Borges

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Há quem se orgulhe dos livros que escreveu, eu me orgulho dos que li. A frase não com essas palavras, mas com esse sentido, é de Jorge Luis Borges. Sabedores que somos de que por trás de todo grande escritor vive um grande leitor, é impossível ser uma coisa sem ser a outra, sabemos também que o escritor argentino protagonizou muitos momentos de sua vida em que se demonstrou na figura que o antecede e na dedicação dada ao livro. Não é raro encontrarmos na web a expressão desse seu amor pelos livros. Penso que no paraíso como uma grande biblioteca. Terá dito, claro, não com essas palavras, mas com esse sentido noutra ocasião. E, partir de um texto de “Os livros que me fizeram escritor”, de J. M. Coetzee, que traduzimos uma vez para este blog , soubemos que Borges trabalhou na produção de algumas listas de leituras muito generosas, diga-se. Porque numa delas, a “Biblioteca de Babel”, criada em 1970 para um editor italiano, conta com 33 volumes de literatura fantástica. “Babel”...

A inaudita guerra da Avenida Gago Coutinho, de Mário de Carvalho

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Por Pedro Belo Clara Caso alguma mão, obedecendo aos intentos duma mente curiosa ou simplesmente dada à elaboração de esquemas, decidisse concretizar uma lista que visasse os, digamos, cinquenta livros mais populares do século XX português (e com isto pretendemos referir as obras assinadas por autores lusitanos), não seria grande escândalo encontrar, dentre todas, a epígrafe do trabalho que agora apresentaremos. É certo que Um Deus passeando pela brisa da tarde destacar-se-á como a obra de proa da carreira deste autor em particular, não só pelos prémios que amealhou (em especial o Pégaso, distinção de nível internacional) como pelas diversas traduções de que foi alvo – não obstante, claro, as reedições (óbvias) que se verificaram. Por tudo isso, dir-se-á que tal trabalho, de 1994, contribuiu para a expansão definitiva da obra do autor, já que sobre o enorme talento de Mário de Carvalho ninguém possuiria grandes dúvidas. Pelo menos, no panorama nacional. A obra de ...

Boletim Letras 360º #115

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Terão descoberto quem foi Mr. Darcy, de Orgulho e preconceito  (Jane Austen) na vida real? Mais detalhes ao longo deste boletim.  Encerramos o mês de abril com muitos leitores recebendo livros do Letras. Ontem mesmo, realizamos o sorteio de mais um Kit: para marcar a abertura das celebrações pelos 20 anos da publicação de Ensaio sobre a cegueira , o célebre romance de José Saramago presenteamos um leitor com uma edição do romance e o filme de Fernando Meirelles. Todos sabem, Ensaio sobre a cegueira foi adaptado para a sétima arte pelas mãos do brasileiro. Até o dia 05 de maio, os leitores e fãs de Agatha Christie podem concorrer a um exemplar de “E não sobrou nenhum”, edição da Globo Livros. 2015 é o ano do 125º aniversário da Rainha do Crime. Para participar basta ir à nossa página no Facebook e responder qual a obra da escritora é sua preferida (simples, não?). E, logo, depois dessa promoção iremos colocar em prática a união que já havíamos anunciado por aqui com a...

Flores da ruína, de Patrick Modiano

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Por Pedro Fernandes Desde o primeiro título do Prêmio Nobel de Literatura 2014 aqui apresentado, Remissão da pena , que minha memória de leitor é perpassada, na leitura, por um dos melhores filmes da carreira de Woody Allen, Meia-noite em Paris . Não só porque as cenas revelam os principais encantos da geografia urbana parisiense e honram sua riquíssima cultura literária, elemento em parte coincidente na obra de Modiano, mas porque o tom leve da narrativa cinematográfica tal como se uma crônica sobre o lugar também se reflete na linguagem da narrativa do escritor francês. Também, me parece que o interesse dos dois narradores não é o de dizer que o interessante de Paris é sua história, mas as formas com que essa história interage e dialoga com o presente. Modiano se revela, assim, como um dos escritores franceses contemporâneos que melhor descreve e escreve a cidade luz; ou seja, é o que mais habilmente deu-se ao trabalho de dar voz a esse passado que é materializado n...

Sobre o único documento que compõe a gênesis Cem anos de solidão

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Momentos anteriores à concepção de Cem anos de solidão . Acapulco, 1965. Gabriel García Márquez (de óculos, sentado) com Luis Alcoriza e Luis Buñuel (à sua direita). Arquivo: El País.  Foi numa terça-feira de 1965. Gabriel García Márquez acabava de voltar de um fim de semana em Acapulco com sua companheira e seus dois filhos, quando, tomado por um “cataclismo da alma”, sentou-se ante a máquina de escrever, como ele mesmo recordaria anos depois, e não se levantou até princípios de 1967. Nesses 18 meses, todos os dias, das nove da manhã às três da tarde, o escritor colombiano escreveu Cem anos de solidão . Muito já foi escrito sobre a atmosfera mexicana que deu origem à sua obra magna, de sua obsessão criativa, de suas dificuldades econômicas, do apoio grandioso dos amigos. Mas, muito pouco se sabe sobre sua construção. As chaves da organização de material com o qual edificou o universo de Macondo segue entre sombras. E este mistério não foi casual. O próprio autor, ...

O meu memorial do convento

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Por Pedro Fernandes Agora já é tarde para responder. Sempre que me deparo com uma grande construção ou mesmo determinadas engenhosidades do dia-a-dia me pergunto sobre o esforço que terá levado a invenção ou quantas pessoas terão sido necessárias para dar forma à ideia que algum dia alguém teve. E a questão que inicialmente respondo é, qual terá sido o momento da minha vida quando desenvolvi essa curiosidade historiográfica (posso assim determiná-la), se desde sempre ou se depois de entrar em contato com obras como Memorial do convento . Dessas duas possibilidades respondo que já é tarde para responder. Embora eu acredite que a literatura tenha me despertado determinadas compreensões sobre o mundo, acredito também em casos como a leitura do Memorial , é que essa obra de José Saramago só terá causado o impacto que casou em mim por uma razão, a de que, essa coisa de saber o porquê de determinadas existências já tinha feito seu lugar em mim. E talvez tenha sido ela o que se r...