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Coisas transparentes, de Vladimir Nabokov

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Por Rodrigo Fresán Sabemos que F. Scott Fitzgerald é aquele mártir autodestrutivo que – muito além das luzes verdes em sua obra – ensina aos escritores, com sua vida atormentada por bandeiras vermelhas, a como não ser tão bons na hora em que as coisas saem inexoravelmente mal, muito pior, crack-up ... Vladimir Nabokov – ao contrário – é o melhor e mais invejável (bom) exemplo possível: a saga de um começo incerto e final MUITO feliz de um autor excêntrico que volta ao centro com um livro com nome de menina e que, sucesso desde então, lhe permite ser mais excêntrico até sua morte. Sim. Poucos escritores mais felizes consigo que o russo de nascimento mas estrangeiro universal que domou como ninguém o idioma inglês para logo trabalhá-lo como ninguém. É regozijador a leitura que chamo indispensável para o volume Cartas para Vera (tradução livre para Letters to Véra , título ainda inédito do Brasil, editado em 2014 nos Estados Unidos pela Penguin Classics). Porque nesse ...

O método Alejo Carpentier

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Por Francisco Llorca Zabala A fotografia foi feita em finais dos anos setenta e tem uma cor sépia e lavagem própria das imagens anteriores ao Instagram. Alejo Carpentier está sentado num café: os cantos de uma boca grande apontando para baixo, um gesto sério, como se estivesse absorto numa pesada digestão. Ao lado do cubano, os dois Antonios, Saura e Pérez, Pérez e Saura, junto a um grupo de pessoas sem identificação. Personagens, então. Quem fez a fotografia? Outra personagem? A companhia de algum deles? (Não há nenhuma mulher no grupo, assim se pode suspeitar de uma do outro lado da câmera) O garçom do bar que amavelmente se prestou a imortalizar o momento? Viro a imagem e constato que no verso não figuram nomes e nem datas. Mas, várias coisas são certas: todos estão bem, como demonstram algumas garrafas de vinho (bem, todos, menos Carpentier, claro) e que esse café fica em Siguença, província de Guadalajara, para ser mais exato. Sei porque estive sentado nessa mesma mesa ...

A adaptação de clássicos da literatura brasileira para a HQ

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A HQ Grande Sertão  (detalhe) 1 Não é a primeira vez que um romance clássico da literatura brasileira tem servido ao gosto dos quadrinistas ao ponto de levá-los à adaptação para a história em quadrinhos. Há, inclusive, editoras que têm trabalhado com a ideia de transpor para o mangá obras consagradas da literatura – proposta, diga-se, de gosto duvidoso, ainda que seja este um gênero que faça a cabeça de muitos leitores. O duvidoso esbarra justamente na compreensão sobre a mutilação do texto original ou no desencontro entre formas de narração. Logo, é preciso esclarecer a diferença entre a HQ e o mangá. Enquanto noutros países se determinou uma expressão que designa toda e qualquer forma da história gráfica com diferenciação apenas entre a narrativa oferecida ao leitor e aquela oferecida no processo de composição da peça cinematográfica ou a storyboard , ao menos no Brasil, cunhou-se outras terminologias cujo sentido é necessário esclarecer, ainda que, n...

Carlos Nejar, o servo da palavra

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Por Neiva Dutra 11 de janeiro marca a data do aniversário de um dos maiores poetas da atualidade: o gaúcho Carlos Nejar. Apesar de não ter a merecida divulgação, sua poesia, que surgiu nos anos sessenta com o título  Sélesis , produz uma sucessão de obras que compõem um universo de coesão, no qual se amplia um círculo que retrata a necessidade humana de explorar o sentido do enigma de seu estar no mundo, da morte como ordenação da vida e da transcendência. A definição da obra de Carlos Nejar é dada por ele próprio no prólogo do livro A idade da aurora . É uma definição que se encaixa para toda a sua poesia quando, parafraseando Walt Whitman, afirma: “Isto não é um livro. Quem o toca, está tocando a aurora”. Carlos Nejar é o nome literário de Luiz Carlos Verzoni; nasceu em Porto Alegre, em 1939.  Formado em Direito, viajou como promotor de justiça pelo interior do Rio Grande do Sul e conheceu, palmo a palmo, o pampa que "avulta na sua visão poética”.  ...

Um outro amor, de Karl Ove Knausgård

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Por Pedro Fernandes “Pela primeira vez em toda a minha vida me senti totalmente feliz. Pela primeira vez em toda a minha vida não havia nada que pudesse obscurecer a alegria que eu sentia. Estávamos juntos o tempo inteiro, nos abraçávamos de repente onde quer que fosse, nos semáforos, por cima das mesas dos restaurantes, nos ônibus, nos parques, não havia nenhuma exigência e nenhuma vontade que não fosse a presença do outro. Eu me sentia totalmente livre, mas apenas quando estava com ela, no instante em que nos separávamos eu começava a sentir saudade. Era estranho, aquelas forças eram muito intensas e muito boas.” O trecho sublinhado está longe de ser o melhor do segundo volume da série Minha Luta, do norueguês Karl Ove Knausgård, mas é, possivelmente o que reúne as condições para justificar o título, ao menos na edição brasileira ( Um outro amor ) e para justificar o paradoxo que tem sido para um leitor que tem tentado envolver-se com uma literatura de cunho mais pro...

Boletim Letras 360º #116

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Cinco dias depois de lançada a pergunta, “qual o seu livro favorito de Agatha Christie”, sorteamos uma edição belíssima da Rainha do Crime, “E não sobrou nenhum”, publicada pela nossa antiga parceira Globo Livros. Ficamos de anunciar para breve mais uma promoção: a enfim com a parceria da página Dicas de Leitura. Ainda não criamos o concurso, mas já sabemos qual livro iremos sortear. No boletim passado deixamos a curiosidade ser resolvida num comentário que a Dicas de Leitura fez numa postagem em nossa página no Facebook. Hoje, revelamos: será a “Antologia poética” de Mário Quintana que será publicada por esses dias pela Alfaguara Brasil. Nós já sorteamos certa vez livros do poeta, mas este será especial, podem ter certeza? A noite estrelada é uma das pinturas mais conhecidas de Van Gogh. Nos 125 anos sem pintor, a Holanda reinventa as formas de apresentá-lo ao público. Conheça uma dessas reinvenções ao longo deste boletim.  Segunda-feira, 04/05 >>> Colômb...