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Morreste-me, de José Luís Peixoto

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Por Pedro Fernandes Todos carregamos desde a expulsão do homem do paraíso a dor do luto. Ao compreender esse gesto do mito fundacional da colônia humana como uma perda da eternidade e a necessidade de convivência com o fim, a queda da criatura perante o Criador é situação da qual nunca nos recuperamos. Até hoje o que fizemos tem sido desprezar o fim e viver com se a vida fosse uma eternidade; a consciência da finitude só se abre quando atravessamos a possibilidade da morte ou quando nos aproximamos da velhice. Mas, a vida, fora dessas condições é, desde sempre, não mais que um estranho amontoado de perdas. E as perdas não se findam a deixarmos de viver ou à morte dos entes queridos; também perdemos coisas pelas quais guardamos afetividades e cujo vazio deixado é capaz de nos produzir sismos tão fortes quanto a dor do luto. Mas, é bem provável que, a perda das coisas seja tragada pelo esquecimento, enquanto a dor da perda de uma figura muito querida torne-se uma marca i...

Boletim Letras 360º #120

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O final de semana é a última ocasião para se inscrever na promoção que sorteia, em parceria com a página Dicas de leitura, dois exemplares da nova Antologia poética , de Mário Quintana (Alfaguara Brasil). E o desafio dos MIL continua se arrastando no Twitter. Quando chegarmos ao improvável número de mil seguidores nessa micro-rede iremos sortear uma edição comum de Alice no país das maravilhas (Cosac Naify). Sem mais delongas, vamos às notícias que circularam em nossa página no Facebook. Alice por John Tenniel. As ilustrações originais ganham forma na reedição de uma caixa (mais uma!) publicada pela Editora 34 em celebração aos 150 anos da famosa personagem de Lewis Carroll. Segunda-feira, 01/06 >>> Brasil: Os poemas de amor de Carlos Drummond de Andrade segundo os netos do poeta A antologia Declaração de amor - canção de namorados  foi reeditada pela Companhia das Letras. Publicada em 2005, a edição reúne textos amorosos, românticos e apaixona...

A caverna, de José Saramago

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Por Rafael Kafka Quando ganhou o Prêmio Nobel de literatura em 1998, José Saramago citou seu avô como sendo a pessoa mais sábia que ele conheceu em vida. Um detalhe curioso era o fato de esse senhor ser analfabeto e homem simples, trabalhador do campo, assim como Saramago o foi em dado momento de sua vida. O impacto dessa figura e da existência fortemente ligada ao concretismo da vida dura influenciou grandemente a obra de Saramago que em seus textos dá um espaço imenso para a singeleza da vida do campo, para a singeleza dos seres que pouco se importam com a erudição por perceberem que a vida exige muito de quem precisa trabalhar para sobreviver. Se a maioria dos escritores considerados clássicos coloca em seus relatos o foco em personagens pertencentes à burguesia e ao cotidiano das grandes cidades, Saramago, seja em Claraboia ainda em sua primeira fase literária ou em Levantado do Chão que marca o seu retorno oficial ao mundo da literatura, utiliza-se de personagens v...

“A teoria de tudo” ou o cliché de tudo o que subjaz ‘pequenos nadas’?

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A imperfeição sensível das pessoas faz com que, normalmente, tenham ideias e manias ridículas. Eu não me distingo. Um dia destes, dei por mim a assistir a Teoria de tudo , sobre a vida do físico Stephen Hawking e fiquei fascinada pela capacidade de a sétima arte nos transportar para um mundo mágico. E entendamos que o mais fascinante é a capacidade de tornar mágica a vida de alguém: a vida quotidiana de alguém que tinha tudo para sucumbir ao caos em apologia de uma espécie de tristeza existencial, numa espiral involutiva da ‘era do vazio’.  E a ridicularidade das ideias que brotaram na minha mente vão ao encontro de todos os clichés. A verdade é que, independentemente daquilo a que nos encontremos sujeitos por sermos matéria – aquela fragilidade perecível dos átomos de carbono –, o que nos distingue e decide a felicidade e a capacidade infindável de sonhar é a energia anímica que criamos em torno de nós.  Resumindo: dei por mim mergulhada numa realidade cor-...

Eduardo Galeano como leitura de aeroporto

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Por Alfredo Monte «Para muitos jornalistas estrangeiros, a Bolívia é um país ingovernável, incompreensível, intratável, inviável. São os que se enganaram de in: deveriam confessar que a Bolívia, para eles, é um país invisível...» (26 de janeiro) «...os militantes que matam para castigar a divergência são tão criminosos quanto os militares que matam para perpetuar a injustiça...» (10 de maio) Os filhos dos dias foi um dos últimos livros de Eduardo Galeano (1940-2015), belo experimento da imaginação do prosador uruguaio ao explorar a forma adotada pelo calendário (e que nos aprisiona em sua teia), legada pelos romanos e aperfeiçoada pela cristandade: «A data foi inventada por Roma, a Roma imperial, e abençoada pela Roma vaticana...» 1 . Na verdade, ao abordar a “data universal” (no sentido de confraternização dos povos), primeiro de janeiro, ele a ironiza como invenção de uma civilização vencedora e que escreveu, até certo ponto, a História Oficial, prática ...

Ficcionistas potiguares, de Manoel Onofre Jr, um livro pioneiro

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Por Thiago Gonzaga Dos diversos instrumentos utilizados pelo homem, o mais espetacular é sem dúvida, o livro. Jorge Luis Borges O escritor Manoel Onofre Jr. tem desempenhado importante papel na pesquisa, exposição e promoção da literatura potiguar, principalmente nos últimos 35 anos. Desde a publicação da obra Estudos norte-rio-grandenses (Prêmio Câmara Cascudo de 1978) o autor vem pesquisando e divulgando novos nomes, especialmente, os que praticam a prosa. Assim, ao mesmo tempo em que desenvolve sua já laureada carreira como contista, cronista e ensaísta, o estudioso também organiza obras decisivas e extremamente importantes para a nossa história e cultura literária. Além do premiado livro referido anteriormente, destacamos, também, Contistas potiguares , Salvados - livros e autores norte-rio-grandenses , (que, ano passado, chegou à sua terceira edição), Alguma prata da casa  e Ficcionistas potiguares , livro sobre o qual falamos neste text...