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Kalahari, de Luís Serguilha

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Por  Ana Maria Oliveira  O poeta Luís Serguilha Kalahari é o desnudar do homem que desperta para um mundo simultâneo de conhecimento científico, matemático e mitológico, em que todos os seres vibram em ligamentos de metamorfose. O mundo cósmico é dinâmico mesmo quando apresentado em estáticas figuras geométricas. A transmutação das formas passa a ser a lei incontornável e incontrolável, pois o ser é aparência. O mundo acontece como devir. O livro expressa na sua criação um "tratado de estética" labiríntico como a vida, sendo universal e intemporal. Um livro a ter em conta para o estudo da poesia contemporânea portuguesa. Explora um tema filosófico com vários tentáculos, como o cosmos aliás. Uma perspetiva aberta sobre o exterior em que tudo se conecta como líquido que escorre e se mistura sobre tudo e com tudo, incluindo o eu pensante. O leitor mais sensível e intuitivo sente o desdobramento, deslizamento, as conexões, os entrelaçamentos. Não é elaborada u...

Arthur Miller, contra vento e maré (e algumas obras fundamentais)

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Por Marcos Ordóñez  Quando Arthur Miller estreou “A morte de um caixeiro-viajante” (1949), uma de suas obras mais populares, pulverizou, de um só golpe, os lugares comuns do teatro estadunidense: que a tragédia estava reservada aos heróis e que o realismo crítico havia morte no final dos anos 1930 (e, de passagem, que qualquer peça com a palavra morte no título era veneno para a bilheteria). Se “Todos eram meus filhos” (1947), sua primeira peça, havia nascido à sombra de Ibsen, com a segunda, Miller entrou de cheio na tradição nacional de Eugene O’Neill, Thornton Wilder, Clifford Odets e o teatro iídiche. “A morte de um caixeiro-viajante”, dirigida por Elia Kazan e protagonizada por Lee J. Cobb e Mildred Dunnock, obteve êxito sem precedentes: ganhou o Pulitzer, o Tony para Melhor Autor e o troféu do Círculo de Críticos de Nova York. Ao acabar sua primeira temporada havia arrecadado 1,250 milhões de dólares e permaneceu dois anos seguidos em cartaz com 742 encenaçõe...

Boletim Letras 360º #127

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Conjunto de selos emitidos para assinalar os 90 anos da escritora Flannery O'Connor. Enquanto elaborávamos esta edição do Boletim Letras 360º publicamos, espantados, no nosso Twitter sobre o ritmo veloz com que se passou a semana . Sério! São os excessos de afazeres que tem encurtado o tempo? Ou mesmo a terra desparafusou? Acordamos na sexta-feira (24) acreditando que estávamos na quinta-feira. E não deu outra: ficamos sem acreditar como voou rapidamente esta semana. Mas, enfim, voou voou. Já é sábado e todo sábado tem edição deste boletim com todas as novidades que circularam durante a semana em nossa página no Facebook. Vejam: Segunda-feira, 20/07 >>> Brasil: Único romance de Lydia Davis deve chegar por aqui em março de 2016 Ela é conhecida por sua contística. Mas, em 1994, escreveu The end of story , um romance que, segundo a autora, narra uma história que não tinha possibilidade de caber num conto. Com tradução de Julián Fuks, o texto será public...

A imortalidade, de Milan Kundera

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O título publicado no final da década de 1980 e chegado ao Brasil no início da década de 1990 reaparece em 2015 no arrojado projeto editorial conduzido pela Companhia das Letras desde quando trouxe-nos o mais recente romance de Milan Kundera, A festa da insignificância . O romance é conhecido como um dos mais importantes na literatura do escritor theco, depois, é claro, da obra que o projetou internacionalmente, A insustentável leveza do ser .  Na época de sua publicação, registra a crítica, o romancista recusou as sabatinas, os eventos públicos de apresentação da obra, enfim, qualquer aparição ou apoteose; tudo seria em razão da compreensão de que o livro sozinho se basta; ou um tapa com luva pelica na cara da sempre hipócrita mídia que se aproveita, em grande parte, do que o próprio autor diz sobre sua obra e rescalda o discurso em críticas pífias para os cadernos de cultura, abrigando a obra, muitas vezes em estereótipos vazios ou irregulares e tolhendo a reflexão mai...

E. L. Doctorow

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E. L. Doctorow (Egdar Lwarence) nasceu em Nova York, no histórico distrito do Bronx, em 6 de janeiro de 1931; filho de um casal modesto, mas culto, de imigrantes judeus russos – um vendedor de instrumentos musicais e uma dona de casa aficionada por piano. É um escritor que ocupa desde sempre um lugar singular na literatura estadunidense da segunda metade do século XX. Sua obra aparece como um verso solto na exata hora de ocupar um lugar específico e encontrou, entre nomes muito poderosos, diga-se: Saul Bellow, Philip Roth, John Updike e outros. Sua escrita se caracteriza por um formalismo realista ao lado do novo jornalismo estadunidense ; trata-se de uma espécie de interação pela qual o jornalismo aceita a subjetividade e a narrativa incorpora elementos da realidade na ficção. Mas, no caso de Doctorow há, além disso, uma terceira presença: a de certos aspectos da literatura convencionada pós-moderna, como o uso do coloquialismo ou mistura de estilos. À vista disso, qualque...

Os livros únicos de um autor

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Harper Lee, a autora do único O sol é para todos Medo, sofrimento, perfeccionismo e fama formam míticos oásis literários rodeados de silêncio. Se na música um único êxito é chamado one-hit-wonder , na literatura é uma variedade do milagre. Ou epifania como já terão tratado por aqui. E seus autores formam um exclusivo clube de escritores de um único e histórico livro. Tornam-se uma lenda! Como a que envolve a recente descoberta e publicação de um manuscrito inédito do qual nasceu O sol é para todos , Harper Lee ( Go Set a Watchman / Vá, coloque um vigia ), nome que mesmo depois do segundo romance (rascunho de um efetivamente publicado) ilumina os membros desse mítico clube. No Brasil, o caso mais célebre será, muito provavelmente, o de Augusto dos Anjos, que se tornou um importante nome para a literatura e com leitores arrebatados e fieis para o seu Eu , ou Euclides da Cunha e Os sertões ; na literatura portuguesa, nossa coirmã mais velha, são várias as situações: a mai...