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António Vieira e os mistérios que palpitam na noite

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Por Alfredo Monte António Vieira. Foto:Ricardo Gil «É às noites que minha alma se confia» (Rainer Maria Rilke) 1 Os 12 contos reunidos por António Vieira em Olhares de Orfeu têm como mote as considerações de Maurice Blanchot sobre Orfeu no clássico  O espaço literário  (1955) 1 . Se no  Segundo Fausto goethiano, Mefistófeles diz: «compreender à luz do dia é ninharia, mas na escuridão todos os mistérios palpitam», o grande pensador francês radicaliza essa potência da noite, sua “dissimulação”, ao ponto de tornar a exploração dos seus mistérios sempre uma tarefa oblíqua, um “risco do olhar”: «Orfeu pode tudo, exceto olhar esse  ponto  de frente, salvo olhar o centro da noite na noite. Pode descer para ele; pode, poder ainda mais forte, atraí-lo a si e, consigo, atraí-lo para o alto, mas desviando-se dele: tal é o sentido da dissimulação que se revela na noite (…) A profundidade não se entrega frontalmente, só se revela dissimulando...

Kalahari, de Luís Serguilha

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Por  Ana Maria Oliveira  O poeta Luís Serguilha Kalahari é o desnudar do homem que desperta para um mundo simultâneo de conhecimento científico, matemático e mitológico, em que todos os seres vibram em ligamentos de metamorfose. O mundo cósmico é dinâmico mesmo quando apresentado em estáticas figuras geométricas. A transmutação das formas passa a ser a lei incontornável e incontrolável, pois o ser é aparência. O mundo acontece como devir. O livro expressa na sua criação um "tratado de estética" labiríntico como a vida, sendo universal e intemporal. Um livro a ter em conta para o estudo da poesia contemporânea portuguesa. Explora um tema filosófico com vários tentáculos, como o cosmos aliás. Uma perspetiva aberta sobre o exterior em que tudo se conecta como líquido que escorre e se mistura sobre tudo e com tudo, incluindo o eu pensante. O leitor mais sensível e intuitivo sente o desdobramento, deslizamento, as conexões, os entrelaçamentos. Não é elaborada u...

Arthur Miller, contra vento e maré (e algumas obras fundamentais)

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Por Marcos Ordóñez  Quando Arthur Miller estreou “A morte de um caixeiro-viajante” (1949), uma de suas obras mais populares, pulverizou, de um só golpe, os lugares comuns do teatro estadunidense: que a tragédia estava reservada aos heróis e que o realismo crítico havia morte no final dos anos 1930 (e, de passagem, que qualquer peça com a palavra morte no título era veneno para a bilheteria). Se “Todos eram meus filhos” (1947), sua primeira peça, havia nascido à sombra de Ibsen, com a segunda, Miller entrou de cheio na tradição nacional de Eugene O’Neill, Thornton Wilder, Clifford Odets e o teatro iídiche. “A morte de um caixeiro-viajante”, dirigida por Elia Kazan e protagonizada por Lee J. Cobb e Mildred Dunnock, obteve êxito sem precedentes: ganhou o Pulitzer, o Tony para Melhor Autor e o troféu do Círculo de Críticos de Nova York. Ao acabar sua primeira temporada havia arrecadado 1,250 milhões de dólares e permaneceu dois anos seguidos em cartaz com 742 encenaçõe...

Boletim Letras 360º #127

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Conjunto de selos emitidos para assinalar os 90 anos da escritora Flannery O'Connor. Enquanto elaborávamos esta edição do Boletim Letras 360º publicamos, espantados, no nosso Twitter sobre o ritmo veloz com que se passou a semana . Sério! São os excessos de afazeres que tem encurtado o tempo? Ou mesmo a terra desparafusou? Acordamos na sexta-feira (24) acreditando que estávamos na quinta-feira. E não deu outra: ficamos sem acreditar como voou rapidamente esta semana. Mas, enfim, voou voou. Já é sábado e todo sábado tem edição deste boletim com todas as novidades que circularam durante a semana em nossa página no Facebook. Vejam: Segunda-feira, 20/07 >>> Brasil: Único romance de Lydia Davis deve chegar por aqui em março de 2016 Ela é conhecida por sua contística. Mas, em 1994, escreveu The end of story , um romance que, segundo a autora, narra uma história que não tinha possibilidade de caber num conto. Com tradução de Julián Fuks, o texto será public...